Conceição Trucom
Os Amidos e Refinados
Pensamos: vou fazer uma vitamina ou mamadeira reforçada e dessa maneira meu filho está alimentado. Assim, vou ficar mais tranquila e dormir em paz. Será?
Conhecidos às vezes como carboidratos complexos ou poli-sacarídeos, os amidos são quebrados pelo sistema digestivo em açúcares simples e usados para fornecer energia.
Demora mais para o corpo digeri-los e absorvê-los do que leva quando ingerimos os açúcares simples como os mono e di-sacarídeos. Pensamos, dessa maneira meu filho está alimentado e a energia dele irá durar mais.
Bem, o amido está presente em grãos, como trigo, aveia, cevada, centeio, arroz, milho, trigo-sarraceno e painço; feijão, ervilha e lentilha; raízes como cenoura, beterraba, inhame, cará, batatas em geral (entre elas a baroa e a doce) e nabo.
O problema começa com estes alimentos refinados, geralmente na forma de farinhas isoladas. Com o amido concentrado, ou seja, separado da alquimia nutricional do alimento integral, temos uma dimensão alarmante do problema, pois os mingaus, nome que se dá ao leite de vaca cozido e engrossado com amidos, é um alimento extremamente popular e comum de se fornecer aos bebês desde a sua mais tenra idade.
Os responsáveis pela alimentação infantil acreditam que fortificando o leite com amido e açúcar irão beneficiar a nutrição e crescimento da criança. Nada mais enganoso, trata-se de um ignorar que todos, sem questionar, perpetuam.
Sabe qual é a fórmula para bebês balofos, subnutridos, vulneráveis às doenças típicas como problemas respiratórios, mucos, baixa imunidade (quadros repetitivos de inflamação-infecção-antibióticos), constipação ou diarréia, anemia, obesidade e alergias?
Leite de vaca, cozido, acrescido de amido isolado e açúcar refinado.
Somado às farinhas (inclusive a famosa farinha láctea) tão usadas no ‘reforço’ das mamadeiras e vitaminas infantis, temos o arroz branco, a farinha de trigo branca e todos os derivados desta: pães doces e salgados, bolos, biscoitos etc.
Farinha láctea = farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, açúcar, leite em pó integral, vitaminas e minerais, sal e aromatizantes. Bela maquiada não?
Quanto mais jovem a criança mais vulnerável estará a esses alimentos densos, concentrados energéticos que irão dificultar a digestão, aumentar o teor de glicose circulante no sangue e facilitar a carga fúngica no organismo=alergias. Essa é a fórmula de produzir obesos, diabéticos e hipoglicêmicos: nossas crianças…
Nota: sobre o glúten, proteína fortemente alergênica, presente em cereais como o trigo e aveia leia no texto Parte V desta série: Proteínas.
As Fibras em exagero ou de fontes isoladas
Fibras são essenciais na dieta, porém a quantidade necessária para crianças pequenas deva ser significativamente menor. Embora as fibras sejam importantes na dieta de uma criança para: 1) permitir o desenvolvimento de uma flora bacteriana, 2) manter a saúde do trato digestivo e 3) evitar a constipação; é importante não exagerar. Alimentos ricos em fibras podem ser massudos e pesados, deixando pouco espaço para alimentos com outros nutrientes essenciais.
Fibras em excesso, principalmente as provenientes de cereais integrais, podem interferir na absorção de alguns minerais, como cálcio, magnésio, zinco e ferro.
Para as crianças as fibras mais indicadas são as chamadas hidrosolúveis (solúveis em água) como as contidas nas frutas: maçã, pêra, frutas secas, cenoura, batata-doce, aveia, ervas frescas como a salsa, hortelã e anis.
No caso dos cereais e leguminosas, nossa sugestão é a pré-germinação ou produção de brotos, a partir de grãos e sementes integrais. Assim, além de ser aumentada a digestabilidade, o teor de água estruturada, haverá uma redução drástica do teor dos antinutricionais como o ácido fítico.
O ácido fítico é um potente agente desmineralizante do metabolismo humano. Diante dos minerais essenciais como o cálcio, magnésio, ferro e zinco, se transforma em sais ou fitatos, que serão eliminados pela urina ou formarão cálculos renais. Portanto, exagerar no consumo de cereais integrais e leguminosas (sem pré-germinar ou brotar), pode contribuir para deficiência destes minerais. Principalmente em pessoas cuja dieta é pobre em frutas, legumes, folhas e sementes oleaginosas. Outro perigo: consumir farelos ou fibras isoladas, obtidas após refino industrial dos cereais como trigo, arroz e aveia.
Para as crianças de todas as idades a melhor dica é oferecer variedade de alimentos maduros e frescos do reino vegetal, consumir sim cereais integrais e leguminosas, mas antes transformá-los em germinados ou brotos.
Pelos motivos já apresentados JAMAIS inclua fibras isoladas como os farelos de cereais (arroz e trigo) ou mesmo a farinha de linhaça pois são abrasivas, desmineralizantes de cálcio, ferro, zinco etc., pelo seu elevado teor de ácido fítico. Lembrar que quando refinamos concentramos, tanto o refinado, como o subproduto do refino, as fibras ou farelos. Por exemplo, se no arroz integral temos cerca de 0,5% de ácido fítico, no farelo de arroz serão 5-6%.
Existem modismos que acontecem segundo as oportunidades (excesso de produção, por exemplo) e interesses comerciais do momento. No caso, são os ‘mix de fibras’, como a atual febre chamada ‘ração humana’. Não entre nessa, pois seja para as crianças, gestantes, atletas ou adultos de todas as idades, pois esta é uma propaganda enganosa. Vendida como facilidade ou milagre, irá provocar muitos problemas para a saúde, começando pelas perdas minerais que fragilizam os ossos e os dentes.
Texto da série Aditivos alimentares & Temperos
Aditivos alimentares & Temperos I – o Sal
Aditivos alimentares & Temperos II – Pimenta, vinagre e condimentos
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