O Mito da Caverna

Conceição Trucom 

Para que a vida seja bem vivida, ela precisa ser percebida, ou seja, precisamos ter consciência corporal e estar verdadeiramente presentes no nosso corpo. Temos de filtrar a informação externa para priorizar e resgatar a informação interna, que vem do nosso corpo, do nosso coração e da nossa mente.

Em plena era da informação, quando as exigências de atualização são cada vez maiores, é mais sábio e prudente preparar nosso cérebro e mente para assimilar e compreender a enorme quantidade de informação disponível no mundo.

Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe – Oscar Wilde. 

Para viver, é preciso estar no mundo real dos fatos, no aqui e agora, e perceber o momento presente. É preciso que estejamos atentos ao que dizem nosso corpo, nossa mente e nosso coração diante de cada situação a nossa volta.

Se o que eles nos dizem causa uma sensação integrada de superação, alegria e paz, podemos ser felizes: simples…mente felizes! Mas se a mente passar para o coração e para o corpo somente ilusões visuais e sensórias, não poderemos ser felizes, porque estaremos nos distanciando do real, dos fatos, das oportunidades de mais consciência e luz.

É da natureza humana se deixar conduzir pelo inconsciente coletivo e pelas cargas culturais e genéticas. Desse modo, damos enorme espaço para emoções e sentimentos que exaurem as energias e impedem as realizações individuais.

O mais sábio que podemos fazer para reverter esse estado ‘robótico’ da humanidade, narrado e constatado por tantos filósofos (e por nós mesmos), é mantermos em estado de alerta as nossas múltiplas percepções e inteligências latentes, para, assim, sairmos da caverna e permanecermos felizes fora dela.


O mito da caverna

Este mito, narrado por Platão no livro VII da República (aprox. 399 a.C.) coloca em evidência o problema filosófico que se apresenta quando pensamos em aparência (ilusão) e realidade. Trata-se de uma alegoria sobre a predileção humana pelo que está envolto em névoa, pelo caminho que evita a mudança e o novo a todo custo, e se satisfaz com a ilusão das zonas de conforto.

O propósito de Platão foi registrar o fato de que a maioria das pessoas (faz 2500 anos) vive com um véu sobre os olhos, o que lhes dá apenas uma noção distorcida de si mesmas e do mundo.

Imagine um grupo de indivíduos acorrentados em uma caverna escura, iluminada apenas por uma grande fogueira atrás deles. Esses homens da caverna podem enxergar apenas sombras de si mesmos e outras imagens tremeluzindo nas paredes diante dos seus olhos. Essa é a realidade deles.

A maioria deles é desprovida de imaginação; outros são indiferentes e simplesmente aceitam essa realidade sem especulação. As mentes questionadoras observam os padrões mais claros e tentam entender seu mundo. Ainda assim, a verdade os ilude: meras sombras.

Um dos prisioneiros consegue se libertar das correntes e escapa da caverna. Emergindo para a luz do dia, esse fugitivo é cegado pela luz e pode ver somente uma representação imperfeita da realidade. Com o tempo, esse indivíduo acostuma seus sentidos com o novo ambiente e vê as coisas mais claramente: a paisagem, o céu e a iluminação do sol. Mais que isso, a sua liberdade natural.

Essa alma recém-iluminada um dia volta à caverna e tenta espalhar a notícia do novo mundo que existe além dos confins da caverna. Qual será a resposta dos habitantes da caverna? Eles corajosamente irão até onde esse indivíduo foi e realizarão a árdua, porém compensadora viagem para fora da escuridão e em direção à luz?

De acordo com Platão, não. Eles estariam mais propensos a matar o que se permitiu enxergar a luz, porque ele é uma ameaça ao estado das coisas já estabelecido.


No livro Mente e Cérebro Poderosos, de minha autoria (editora Pensamento-Cultrix), proponho, em primeiro plano, a compreensão dos estados robóticos, das repetitivas ilusões, expectativas e frustrações que correspondem a nossa permanência passiva dentro da caverna.

Em seguida, procuro mostrar que a saída da caverna se dá por meio do corpo, da mente e do coração. E que a mente, na fisicalidade o cérebro, precisa ser nutrida, exercitada, tonificada, fortalecida e iluminada para sustentar a felicidade e a paz advindas dessa libertação.

Assim, manter o cérebro e a mente sempre despertos e vitalizados é um compromisso pessoal, pois só assim poderemos exercitar nosso livre-arbítrio e tomar decisões em sintonia com idéias criativas, sem jamais se deixar levar por imagens da mente iludida.

Por fim, este livro propõe a prática de exercícios cerebrais para desenvolver e adestrar a capacidade que temos de usar nosso intelecto (uma conquista humana em eterna provação), a serviço das muitas inteligências submersas no nosso riquíssimo, porém indomado, inconsciente e no aparentemente inacessível superconsciente. Partes do cérebro e da mente que pouco estimulamos e às quais quase não damos crédito.

Bem, segundo uma das mais recentes descobertas da neurociência, nenhum exercício para o seu cérebro é tão bom quanto a leitura.

Então, boa prática!

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