Instituto Nokhooja *
O sistema nervoso desenvolveu-se no homem com a finalidade de estabelecer uma ponte entre o meio externo (estímulos) e o meio interno (interpretação-compreensão –resposta aos estímulos). De certa forma é ele que nos une à realidade; é através dele que percebemos o mundo (via sistema sensorial) e reconhecemos, compreendemos e atuamos nesse mundo.
Por imprint compreendem-se estruturas psico-genéticas que surgem no indivíduo em momentos bem específicos de sua vida e determinam um caminho preferencial de atitudes que esse indivíduo terá frente à realidade. Existem ao todo 8 tipos de imprint que determinam aquilo que o Dr. T. Leary chamou de Circuitos Cerebrais, uma vez que determinam estruturas comparáveis a circuitos bioelétricos dentro do cérebro, que são ativados diante dos eventos da realidade.
Os quatro primeiros circuitos são:
1. Circuito da Biosobrevivência: este é o Circuito Cerebral mais primitivo. Relacionase com a busca pelo prazer e conforto entendidos como aquilo que possibilita a sobrevivência. O imprint relacionado a esse Circuito acontece nos primeiros momentos de vida dos seres humanos. Se for um bom imprint o indivíduo apresentará durante a vida um comportamento que se espelha como segurança, bem-estar, etc. Se for negativo inspirará um sentimento permanente de medo, ansiedade e eminência de perigo de vida.
2. Circuito da Territorialidade: esse Circuito relaciona-se com o domínio sobre o espaço físico. É imprintado quando a criança começa a andar. Se for um imprint positivo determinará que o indivíduo tenha um comportamento de maior liderança e consiga se “locomover” bem dentro da realidade. Se for negativo determinará uma tendência à submissão, a dificuldade de gerenciar a vida e de se relacionar com superiores hierárquicos.
3. Circuito Semântico: esse Circuito relaciona-se com a fala, a escrita e a manipulação de objetos e artefatos. Relaciona-se com o Hemisfério Cerebral Esquerdo (verbal, racional). É imprintado na pré-adolescência e determina o quanto o indivíduo será apegado e limitado em termos de idéias, opiniões, visões de mundo, ou o oposto, o quanto ele será aberto a novas experiências e conceitos.
4. Circuito Moral-Sexual: é imprintado na adolescência, ou quando surgem as primeiras experiências de ordem sexual. Se for um imprint de características mais limitadoras, ele irá inserir o indivíduo, na maioria dos casos, dentro da sociedade no papel de marido-pai-trabalhador ou de esposa-mãe-abnegada. Ao contrário, irá fazer da sociabilidade uma das características de maior qualidade na vida do indivíduo.
Os Circuitos terrestres muitas vezes são tudo o que os seres humanos experimentam e que chamam de vida; a morte normalmente chega antes que haja a possibilidade ou a compreensão do quanto limitamos a nossa manifestação e expressão dentro da realidade, o quanto lutamos, discutimos e acreditamos em coisas que no fundo não têm significado real para nossas vidas.
Os 4 Circuitos “evolutivos” são:
5. Circuito Neurossomático ou Hedônico: relaciona-se ao prazer sensorial-corporal, à saúde e bem-estar, ao êxtase somático. O indivíduo se sente imerso em estímulos agradáveis cuja raiz é o seu próprio corpo, entendido pela mente como sendo a fonte inesgotável de prazer. Quando o cérebro desenvolve totalmente esse Circuito ganhamos uma visão nova da vida que se sobrepõem às culpas, perplexidade, emocionalidade e “sintomas corporais” dos Circuitos inferiores. Nesse Circuito desenvolve-se uma consciência mais abrangente do corpo, sendo esta de outro nível, completamente interativa com o meio ambiente; é como se estivéssemos realmente unidos com o todo e fôssemos responsáveis por ele. Em termos emocionais, novas sensações e emoções originadas do corpo são buscadas, e a total entrega e experimentação delas tornam-se a regra. É também a fase da transcendência do ego, em busca de valores e experiências maiores. O “outro” especialmente associado a uma nova forma de sexualidade que transcende o sexo em si, surge como ponte para a passagem do quarto para o quinto Circuito.
6. Circuito Neurogenético: contém os “eus” e bancos de informação de todos os seres vivos. As primeiras descrições surgem de experiências xamânicas e descrevem esse Circuito como ligado a um fluxo de informações-experiências que transcende o eu pessoal. Na terminologia de Stanislav Grof seria o “inconsciente filogenético” e, dentro da terminologia científica, corresponde ao modelo de Rupert Sheldrake dos “campos morfogenéticos”. Grof e Jung assumiram que a informação não está localizada no eu, mas sim, no gene. Já R. Sheldrake, um biólogo, sugeriu que os genes não poderiam carregar tal informação. Ele descreveu um campo não localizado, e chamou-o de Campo Morfogenético. Esse campo comunica-se com os genes, mas não está neles, e conteria não apenas as memórias do passado, mas também as trajetórias em direção ao futuro, servindo como um “radar” evolucionário, preparando-nos para futuros saltos de graus de consciência, por mostrar-nos os registros das mutações do passado. Tal Circuito ativa os arquivos genéticos, permitindo-nos entrar em contato com os arquétipos primitivos “muito mais antigos que a linguagem e ainda assim, mais novos que o amanhã”, que poderiam ser relacionados com os níveis do inconsciente, onde as memórias anteriores ao nosso estado atual estariam guardadas. Estas memórias nos levariam, em direção ao passado, aos períodos pré-humanos, biológicos e finalmente, para aquela parcela do inconsciente que poderia ser chamada de oceânica ou cósmica, que antecede a própria criação.
7. Circuito Metaprogramador ou do Despertar: mudanças rápidas no funcionamento do cérebro podem ocorrer facilmente, mediante técnicas apropriadas. Leary afirmava que podemos mudar nosso “eu” tão facilmente quanto mudamos de canal de TV.
Afirmava que não existe um eu estático e que podemos metaprogramar nosso sistema nervoso para uma variedade de “eus”, muitos deles mais avançados que a média, atualmente presente na Terra. Se desenvolvido, esse Circuito poderá permitir o acesso a um novo nível de inteligência. Tal Circuito é análogo ao conceito chinês da “nãomente”.
É o momento em que o cérebro olha para si mesmo. Em nosso dia-a-dia parecemos ser fixos e permanentes, mas não somos, pois, seja qual for o Circuito no qual estivermos operando, este Circuito será o “eu” daquele momento. O sétimo Circuito é permanente; ele representa todos os papéis, mas não é nenhum deles. Não possui forma porque é todas as formas. É o vazio do Zen. Porém é um vazio que espelha o todo da criação. “Confrontamos o infinito onde menos esperávamos encontrá-lo: dentro de nós mesmos”.
8. Circuito Não-localizado ou da Consciência: Cada partícula do Universo está em comunicação instantânea com todas as outras partículas; não existem sistemas isolados.
O sistema inteiro funciona como um todo. Essa ligação acontece através da consciência de nossa própria identidade para com o todo. Tal conceito deixa de ser simplesmente teórico quando o oitavo Circuito surge; ele passa a ser sentido como realidade constantemente.
Estes 4 últimos Circuitos só podem ser desenvolvidos dentro de uma perspectiva diferente da Realidade. Implicam em um conhecimento maior e qualitativamente diferente do que é o ser humano. Implicam também em um grau diferente de consciência e compreensão da realidade, por isso só podem ser desenvolvidos dentro do que se convencionou chamar de Tradição Perene; sistemas que guardam, geram e apresentam conhecimentos e técnicas que visam desenvolver o homem em toda a sua plenitude, possibilitando-o libertar-se de seus próprios limites.
Trigger 1 (1977) todos do R. A. Wilson.
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