Conceição Trucom
Compreender o mal não o cura, mas, sem dúvida alguma, ajuda. Afinal, é muito mais fácil lidar com uma dificuldade compreensível que com uma escuridão incompreensível – Carl Jung.
A medicina alopática interpreta a doença como causa advinda de fora do paciente, impotente diante da ação de microorganismos, ou então como resultado de uma imperfeição da natureza; colocando, em ambos os casos, o doente como uma vítima das circunstâncias.
Entretanto, as medicinas milenares como a hindu Ayurvédica e a Tradicional Chinesa (MTC) interpretam a doença como desarmonias, desequilíbrios do Ser como um todo (holos), holisticamente. E esse todo avalia sintomas no físico, mas também no metafísico (meta = além; físico = matéria): mental, emocional, afetivo, energético, espiritual e suas integrações.
Tais medicinas comprovam também que a saúde plena do homem depende da sua capacidade de perceber afetivamente os desafios da sua existência e interrelação com o universo. E, que as doenças ganham espaço e força quanto mais as percepções sofrem interferências dos desequilíbrios psicoemocionais, ou seja, são imaginárias ou iludidas. E, por essa visão, torna-se evidente que é o espírito que organiza a matéria, e não o físico que cria a essência. Porque afeto, gratidão, bom-humor e harmonia são qualidades 100% espirituais.
A doença é um mestre porque obriga o doente a parar e refletir: minhas ações estão centradas no afeto ou no medo? Na busca da verdade ou no esconderijo das sedações e ilusões? No silêncio ou no lastimar? Em geral, o doente não é vítima inocente de alguma imperfeição da natureza ou de uma condição insalubre. Ele não pegou uma doença, ele construiu, ainda que inconscientemente (porque iludido), a sua doença (*). Se, porventura, podemos culpar bactérias ou toxinas que impregnam nosso organismo e ambiente, podemos dizer também que todos os seres, de certa forma, estão expostos aos mesmos agressores e venenos.
Nosso mundo é inteiramente insalubre e, ao mesmo tempo, pleno de luz e harmonia: atraímos (ou percebemos) a insalubridade ou a pureza como reflexo da nossa afetividade e pensamentos. Deixamos entrar aquilo que, conscientes ou não, permitimos. O doente é responsável por sua doença, que é também um mestre. Entenda: a doença não é uma “cruz”, mas a ponta do tanto de aprendizado, amadurecimento e fortalecimento que podem advir dessa experiência. Os sinais (e sintomas), além da manifestação característica de uma determinada doença, são a expressão física dos conflitos internos (psicoemocionais e espirituais) e têm a função de mostrar ao doente as diferentes facetas de seu momento evolutivo.
A vida, frequentemente, coloca-nos em situações aparentemente repetidas para que possamos absorver delas o aprendizado. Enquanto esse aprendizado não for introjetado, seguirá ocorrendo “o mesmo filme”. Sintomas, portanto, são partes da sombra da nossa consciência (e caos do inconsciente) agora sob holofotes. A doença é uma verdadeira chamada para a transformação, a cura, o crescer, a expansão da consciência.
Estamos permanentemente sedados e crentes nos automatismos psicoemocionais e físicos que impedem a percepção. Um círculo vicioso, porque, uma vez intoxicados, os cinco sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar), que nos tornam presentes e reais, tornam-se cada vez mais imprecisos, presas fáceis da imaginação e ilusão.
Quando essa dormência torna-se perigosa à evolução, surge a doença que, por meio dos seus sintomas, pretende apenas nos despertar: caia na real. A cura verdadeira nunca virá de fora. Estamos permanentemente diante do resgate da consciência. Todos os desequilíbrios são efeitos da inconsciência que não foi inspirada para o consciente. A cura da doença não está nos remédios, mas sim na sintonia com seu ser, seu espírito que deseja evolução. Para que a cura aconteça, use a doença como um mestre. Trata-se da grande tarefa do despertar da nossa identificação com o mundo da forma: o corpo adoece para avisar que nossa parte não visível está sendo usada sem a ajuda da Alma, sem buscar a inspiração, o amparo, o amor, a luz da Criação.
Nesse processo, a doença e seus sintomas são sinais que mostram onde a Alma está bloqueada na percepção dos talentos, dons, missão e significância. Use-os na superação dos desafios, na evolução espiritual. Livrar-se dos sintomas sem que se entenda ou se assimile a natureza da mensagem só irá adiar a cura, a transformação.
A medicina moderna adquiriu uma enorme competência em eliminar a maioria dos sintomas dando uma falsa noção de cura. A questão é que a supressão dos sintomas jamais significará uma cura. A cura verdadeira só acontecerá quando expandirmos a consciência.
(*) Quando o doente é uma criança, embora não conheçamos todos os mistérios da vida e os propósitos de Deus, penso que pode ser um resgate daquele espírito, que apesar de estar num corpo infantil, tem seu processo evolutivo a cumprir. Ao mesmo tempo, entendo que toda a família pode estar “curando-se” diante da doença daquela criança. Ou seja, a doença está sendo um mestre para todo o grupo ou comunidade.
Leia: A Doença é um Mestre – Parte 2
A Doença é um Mestre – Parte 3
A Doença é um Mestre – Parte 4
Inimigos ocultos – Um poema às doenças
Texto extraído do livro Alimentação Desintoxicante – Conceição Trucom – editora Alaúde.
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