Conceição Trucom
Faz um tempo, tive que pegar o metrô na estação central da Sé (São Paulo) em plena hora do “rush”. Quando cheguei à plataforma tinha um trem estacionado, mas como estava muito cheio, decidi ficar como primeira da fila para pegar o trem seguinte.
Entretanto, ele não partia e logo entendi o por que: o alto-falante anunciou que um trem estacionado na estação seguinte estava parado com problemas. Portanto, segundo anunciavam, teríamos que aguardar uns 5 minutos até seu conserto e retorno ao fluxo normal.
Segui aguardando na plataforma a anunciada rápida solução. Enquanto isso, todas as pessoas que chegavam (aos montes), decidiam entrar neste trem que já estava, na minha concepção de conforto e dignidade, absolutamente lotado.
Magicamente, as pessoas iam entrando e se acomodando (apertando, enlatando, compactando) e, sempre conseguiam entrar mais e mais pessoas. A cena começou a ficar hilária e ao mesmo tempo alarmante.
O alto-falante seguia pedindo calma e mais 5 e 5 e 5 minutos para regularização. A estação foi fechada, mas o trem não partia. Os vagões estavam absolutamente LOTADOS e mais pessoas insistiam em entrar.
O estresse e a irritação das pessoas eram evidentes, e comecei a sentir um pouco de medo de que algum ato de vandalismo acontecesse.
Chegou um momento em que me fiz as seguintes perguntas: Por que isto está acontecendo comigo? O que tenho que aprender com isso? Por que estou aqui neste exato momento?
No mesmo instante, apesar do dramático, me veio aquele bom humor que me é peculiar e comecei a buscar o lado positivo desta experiência. E assim, no momento seguinte me veio a informação de que estava visualizando um intestino grosso (IG) GIGANTESCO em pleno processo de “prisão de ventre”: não saía ninguém, ao contrário, seguiam entrando pessoas. O trem não partia e nenhuma previsão de partida.
Nesta visualização alegórica à entrada de alimentos e a formação de mais excretos seguia incessante, mas nenhuma perspectiva de alívio.
Todos os presentes nos vagões (IG), que estava absolutamente LOTADO, estavam transpirando, irritados, mau-humorados, ansiosos e descontentes, ou seja, INFELIZES. Uma menina que entrou com um botão de rosa exuberante, em minutos o botão murchou.
Com medo de um quebra-quebra, constatei meus sentimentos: que cena triste, infeliz e desanimadora. Reconheci estarrecida: impossível ser feliz diante desta situação. Ao contrário, a irritação e raiva são inevitáveis. No meu caso, que tenho plena consciência do significado: senti um mix de pânico, tristeza, pena, impotência!
Ao mesmo tempo cabem as perguntas:
– As pessoas que vivem este tipo de evento com os seus corpos físicos têm noção de toda a extensão desta prisão? Desta paralização?
– Ficar mal-humorado, ansioso, irritado resolve tal dificuldade? É a saída?
– Desejar que o vagão ande sem consertar o que está realmente com problemas resolve?
– Tomar um laxante ou um torpedo desentupidor resolve?
Metafisicamente – buscando compreender o que está oculto – a pessoa constipada, está bloqueando algo (ou ‘algos’) para dificultar a ‘entrada’ e ir em frente, não permitindo o fluir, o alívio, o deixar sair. Existe uma resistência a entrada do novo, ao desapego, à leveza de deixar de carregar fardos, lastros. Inconscientemente, ela decidiu travar, prender, aprisionar.
Uma prova disso é que quando pergunto:
– Você se dá o direito de acordar 1 hora mais cedo para caminhar e mobilizar a energia física e dos líquidos corporais?
– Você se permite estar no troninho com calma, massageando (fazendo carinho) no seu ventre?
– Você tem calma para conversar com o seu corpo, para dar tempo dele recomeçar (normalizar/retomar) ao seu movimento natural?
– Você se permite tomar sucos (líquidos saudáveis) em jejum que tragam a cumplicidade para os seus órgãos excretores eliminarem seus excretos, escudos, contenções e prisões de forma fluida?
– Você costuma receber o novo, aprender, mudar rotinas ou abrir exceções com disposição e alegria?
É difícil, certo? Mas estas atitudes e posturas diante da vida são naturais e precisam acontecer. Para algo mudar, novos hábitos e decisões comprometidas precisam ser colocadas no dia-a-dia.
Pois é, TEMPO DE DECIDIR: impossível ser feliz empacotado em um trem, sem a liberdade de movimento e espaços. Impossível se transformar, madurecer, renovar, crescer sem deixar sair o que já não tem mais qualquer utilidade, nutrição. Venenos, toxinas, impurezas, densidades, excretos devem permanecer o menor tempo possível em nosso organismo.
Impossível desejar interromper o fluir da vida, os vagões, a viagem. É fundamental desejar, dar espaços amplos para a chegada e entrada do novo, da luz.
E existem pessoas para as quais os trens até fluem, mas sempre com atrasos, em horários irregulares, com mau cheiro, sempre lotados, com muita gente embarcando e pouca desembarcando.
É, algo está errado. Algo de novo tem que ser realizado, praticado, curado.
O que entender como NOVO? Hábitos, alimentos saudáveis (crus, frescos, ricos em água, fibras, vitalidade), horários, amigos, desafios, relacionamentos, viagens, mudanças, livros, cursos, caminhos, cheiros, toques (receber e dar), ares, enfim…
Viva a liberdade de fluir!
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