Georgia State University* em 25 fevereiro 2015
Nova pesquisa mostra que os emulsionantes adicionados à maioria dos alimentos processados para aprimorar a textura e/ou estender a vida em prateleira podem alterar a composição e a localização da microbiota intestinal. Essa alteração promove a irritação intestinal que, por sua vez, provoca o desenvolvimento de doença inflamatória intestinal e síndrome metabólica.
A Doença Inflamatória do Intestino (em inglês IBD, conhecida em português como Síndrome do Intestino Irritável – SII), que inclui a doença de Crohn e a Colite Ulcerativa, afeta a milhões de pessoas e é muitas vezes severa e debilitante. A Síndrome Metabólica refere-se a um conjunto de distúrbios muito comuns relacionados com a obesidade, que podem levar à diabetes tipo 2, doenças do fígado e/ou cardiovasculares. A incidência da IBD e da síndrome metabólica tem aumentado significativamente desde meados do século 20.
O termo “microbiota intestinal” refere-se à população diversa de 100 triliões de bactérias que habitam o trato intestinal. Esta microbiota é alterada pela IBD e pela Síndrome Metabólica. As descobertas de Chassaing e Gewirtz sugerem que os emulsionantes podem ser responsáveis pelos distúrbios intestinais e pelo aumento da incidência destas doenças.
“Uma característica fundamental destas pragas modernas é a alteração da microbiota intestinal, promovendo a inflamação”, diz Gewirtz.
“A ocorrência do dramático aumento destas doenças, apesar da sólida genética humana, sugere um papel fundamental de algum fator externo”, diz Chassaing. “Os alimentos interatuam de forma íntima com a microbiota, e por isso consideramos que a incorporação artificial de aditivos aos alimentos poderia estar provocando as características pro-inflamatórias das bactérias”.
A imagem do topo mostra as bactérias presentes na mais profunda
camada de muco que reveste o intestino e mais perto do epitélio.
Crédito: Dr. Benoit Chassaing
A adição de emulsificantes nos alimentos parece encaixar com o período de tempo de desenvolvimento das doenças. Além disso, já se tinha demostrado a translocação bacteriana através das células epiteliais devidas aos emulsificantes. Chassaing e Gewirtz trabalharam com a hipótese de que os emulsionantes podem afetar a microbiota intestinal e promover doenças inflamatórias para a qual desenharam experimentos com camundongos para testar esta possibilidade.
Os ratinhos foram alimentados com dois emulsionantes comumente utilizados, o polissorbato 80 e a carboxymethylcellulsose em doses destinadas a modelar o amplo consumo dos inúmeros emulsionantes que são incorporados hoje em quase todos os alimentos processados.
Eles observaram que o consumo dos emulsionante mudou a composição de espécies da flora intestinal e ao mesmo tempo favoreceram a inflamação. A microflora alterada teve maior capacidade de digerir e infiltrar-se na camada de muco denso que reveste o intestino e que normalmente é desprovido de bactérias.
A alteração na espécie bacteriana resultou em bactérias que expressam maior quantidade de flagelina e lipopolisacáridos que podem ativar a expressão de genes pró-inflamatórios pelo sistema imunológico.
Tais mudanças nas bactérias desencadearam colite crônica em camundongos geneticamente propensos a esta doença, devido aos sistemas imunes anormais. Em contraste, nos ratos com sistemas imunitários normais, os emulsionantes induziram baixo grau de inflamação intestinal e síndrome metabólica, caracterizada pelo aumento dos níveis de consumo de alimentos, obesidade, hiperglicemia e resistência à insulina.
Os efeitos do consumo de emulsionante foram eliminados em ratos livres de germes, que carecem de uma flora microbiana. O transplante da microbiota de ratos tratados com emulsionantes para ratos livres de germes foi suficiente para transferir alguns parâmetros de baixo grau de inflamação e síndrome metabólica, indicando um papel central para a microbiota na mediação do efeito adverso dos emulsionantes.
A equipe está agora testando emulsionantes adicionais e desenhando novas experiências para investigar como os emulsionantes afetam aos seres humanos. Caso se obtenha resultados semelhantes isto indicaria a responsabilidade desta classe de aditivo alimentar na epidemia da obesidade, nas consequências inter-relacionadas e uma variedade de doenças associadas com a inflamação crônica do intestino.
Enquanto estejam em estudo os mecanismos detalhados que sustentam o efeito dos emulsionantes sobre o metabolismo, a equipe aponta que é de suma importância evitar o excesso de consumo de alimentos processados.
“Nós não discordamos com a hipótese comum de que o excesso de comer é a causa central da obesidade e da síndrome metabólica”, diz Gewirtz. “Nossos achados reforçam o conceito sugerido por um trabalho anterior que indica que a inflamação de baixo grau resultante de uma microbiota alterada pode ser uma causa subjacente do excesso de comer.”
A equipe observa ainda que os resultados deste estudo sugerem que os meios atuais de testes exigidos para aditivos alimentares podem não ser adequados para evitar o uso de produtos químicos que promovem doenças provocadas por baixo grau de inflamação principalmente em hospedeiros susceptíveis.
A pesquisa foi publicada em 25 de fevereiro de 2015, pela Revista Nature. Liderada pela Georgia State University teve a participação dos investigadores em Ciências Biomédicas Dr. Benoit Chassaing e Dr. Andrew T. Gewirtz, e incluiu contribuições de Emory University, Cornell University e da Universidade de Bar-Ilan, de Israel.
Este estudo foi financiado pelo “National Institutes of Health and Crohn’s & Colitis Foundation of America”.
Fonte: Matéria fornecida pela Georgia State University. Ref.: Science Daily
Nota: Autorizada a publicação deste artigo na íntegra, desde que citada a fonte do artigo e desta tradução.
Tradutor: Fernando Trucco
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