Dr. Max Otto Bruker *
Os carboidratos refinados causam problemas adicionais
Na realidade, os processos metabólicos são muito mais complicados do que parecem ao contemplarmos apenas a proteína. Para melhor compreensão falamos de metabolismo de proteínas, de gorduras e de carboidratos. Entretanto, há um entrelaçamento estreito desses processos que não se desenrolam separadamente no organismo. Assim, distúrbios no metabolismo das gorduras e dos carboidratos também se manifestam no metabolismo das proteínas e vice-versa.
Observações levadas a cabo durante muito tempo confirmam que – no caso de doenças provocadas pela alimentação moderna – se trata de processos complexos. Ocorrem, simultânea e paralelamente, distúrbios no metabolismo das proteínas e dos carboidratos provocados pelos hábitos alimentares da civilização moderna.
Sabemos hoje de que maneira os carboidratos refinados – farinhas e açúcares industrializados – participam do desenvolvimento das doenças da civilização provocadas pela alimentação. Além das suas epidemias: cárie e reumatismo, pertencem a este grupo os múltiplos distúrbios metabólicos como obesidade, diabete, cálculos biliares e renais, doenças vasculares já mencionadas e, em parte, câncer. Também as alergias pertencem a este grupo. Um organismo prejudicado pelo consumo de farinhas e açúcares industrializados enfrenta mais dificuldades para digerir a proteína animal do que um organismo que não foi prejudicado por uma alimentação pobre nos elementos vitais (alimento vivo).
Os alimentos industrializados são nocivos não apenas porque carecem de elementos vitais, mas também porque, indiretamente, consomem as vitaminas que deveriam estar disponíveis para a metabolização dos demais alimentos. Os elementos vitais compreendem as vitaminas solúveis ern água ou gordura, os minerais, os oligoelementos, as enzimas, os ácidos graxos não saturados, as essências aromáticas e as fibras. É sabido que o açúcar inditstrializado rouba minerais e a vitamina B1, o que causa múltiplos distúrbios metabólicos.
Assim, não é coincidência que, buscando as causas do reumatismo, das doenças vasculares e das alergias, encontramos os carboidratos refinados e o consumo crescente de proteína animal.
Há diversos tipos de proteínas
Há inúmeros casos de alergia que não são causados por proteína animal em grande quantidade, mas, onde o organismo não aceita a menor quantidade de proteína animal, nesses doentes fica visível a relação entre alergia e proteína animal.
Isto acontece, principalmente, nos casos de eczemas e, de maneira especial, para o caso da neurodermatite. A neurodermatite é considerada incurável. Na verdade, é curável com um tratamento que considera as causas aqui expostas. Neste caso, a cura é prova da relação que existe entre o tipo de alimentação e a doença.
A neurodermatite mostra o efeito negativo do leite animal
A neurodermatite geralmente começa no bebê durante o desmame, quando ele começa a ingerir leite animal. É a proteína estranha que produz o eczema. Como o bebê, via de regra, recebe apenas um alimento, o leite, fica fácil reconhecer a diferença entre diversos tipos de leite – o materno e o de vaca. A diferença reside no tipo de proteína, e não no teor de gorduras e carboidratos. Distinguimos entre a proteína própria do leite materno e a proteína estranha do leite de vaca.
Agora seria interessante dar uma olhada na vida animal.
Todos os mamíferos – e o homem é um mamífero – são alimentados com o leite da própria espécie. Terminado este período, nenhum mamífero continua tomando leite, muito menos leite de outra espécie. É ridículo imaginar que um leão não possa crescer sem leite de elefante e o elefante não adquira tamanho e força sem leite de jumento. A mãe humana foi convencida de que o bebê não se desenvolve sem leite de vaca. É grande o número de crianças que adoecem ern virtude do leite de vaca. São mais ou menos um terço ou um quarto de todas as crianças. Principalmente as crianças linfáticas não se dão com o leite de vaca e ficam com eczemas, asma, ínguas, amígdalas grandes, repetidas infecções, resfriados. Em algumas crianças, o proble¬ma aparece mais na pele: noutras, mais nas mucosas. Não raro o local afetado muda: ora aparece nas mucosas corno asma, ora na pele como eczema, ora nas duas formas simultaneamente.
O leite demonstra o efeito adverso da proteína animal de forma impressionante. Por outro lado, também explica por que doenças alérgicas já aparecem cedo, justo em crianças. É forçoso concluir que, para o tratamento de doenças alérgicas como asma e eczemas, devem ser evitadas todas as proteínas animais como leite, ricota, queijo, ovos, embutidos, carnes e peixes.
Nas doenças alérgicas do adulto o leite não tem mais o papel principal, e sim o consumo de laticínios como queijos, carnes, embutidos, ovos e peixe. Infelizmente, para muitas formas graves e persistentes de alergia, não basta a redução da proteína animal para se obter êxito. É necessário evitar proteína animal por completo durante um certo período. A duração deste período varia de acordo com a evolução e a gravidade da doença. Se os sintomas retornam quando adicionamos um pouco de proteína animal, esta terá de ser novamente retirada do cardápio. Posteriormente, essa tentativa pode ser repetida.
A sensibilidade quanto aos vários tipos, de proteína animal varia de pessoa para pessoa. Uma reage mal ao ovo, outra reage mal à carne ou ao peixe. Geralmente, encontramos a maior intolerância à proteína – não à gordura – do leite (ricota, queijo ou o próprio leite em todas as suas formas, que incluem o leite fermentado, no qual o conteúdo protéico não se modifica). Isso se manifesta de forma clara nas crianças.
Os vegetais cobrindo a necessidade de proteínas
A velha fisiologia alimentar incutiu o pavor de que a necessidade de proteína não pode ser satisfeita sem proteína animal. A simples falta de carne provoca perguntas assustadas. Se, além disso, é preciso evitar leite, queijos, ovos, embutidos e peixe, a maioria das pessoas vai temer pela saúde. Este conceito errôneo é resultado de uma teoria alimentar ultrapassada que propaga aos quatros ventos que o homem não pode viver sem proteína animal. Este conceito ficou arraigado tão firmemente na mente humana que hoje representa a opinião popular. Acreditava-se que a proteína vegetal não continha todos os aminoácidos necessários.
Como já foi dito, as proteínas se compõem de cerca de 20 aminoácidos, dos quais cerca de 8 não podem ser produzidos pelo organismo humano: dependemos da comida para nos suprir desses aminoácidos chamados essenciais.
Antigamente, supunha-se que as plantas não continham todos os aminoácidos essenciais. Há pelo menos 40 anos sabemos que isso é um engano: a proteína vegetal contém todos os aminoácidos essenciais. Isto significa que o homem não depende do consumo de produtos animais para cobertura de suas necessidades proteicas.
Quanto à quantidade da proteína necessária, também existem conceitos decorrentes da teoria alimentar superada. O melhor parâmetro para a quantidade de proteína é o leite materno. Ele contém pouca proteína, apenas 1,4 a 2,5%. Com estas quantidades mínimas o bebê se desenvolve magnificamente, dobrando o peso em menos de um ano. Assim, a Mãe Natureza nos mostra quanto de proteína é necessário ao homem.
Como os vegetais contêm aproximadamente 3% de proteína – isto é, mais do que o leite materno – compreendemos quão injustificado é o pavor da falta de proteína.
Qualidade da proteína
Na questão da proteína devemos considerar não apenas a quantidade, mas principalmente a qualidade. Segundo as pesquisas de Kollath, distinguimos hoje entre proteína viva e proteína morta. A proteína viva é natural, enquanto a proteína morta, desnaturada, perdeu sua vitalidade no aquecimento. As pesquisas com alimentação de animais indicam que o desenvolvimento do animal depende da proteína ser natural ou desnaturada. Os animais que vivem em liberdade não consomem alimentos cozidos. Apenas o homem aquece seus alimentos antes do consumo. Se forçamos os animais a consumir alimentos cozidos, eles sofrem de doenças parecidas com as do homem civilizado. Antigamente, supunha-se que as causas eram a falta de vitaminas. Pelas pesquisas de Kollath sabemos que a causa é a desnaturação da proteína. O homem geralmente consome proteína animal cozida, isto é, em estado desnaturado.
Quando a necessidade de proteína é satisfeita apenas com vegetais, existe uma grande vantagem – podem ser consumidos crus com a proteína ainda viva. Por isso a necessidade de proteínas pode ser coberta, na alimentação vegetariana, com quantidades relativamente pequenas.
Ler também: Alergia – um novo enfoque – Parte 1
Alergia – um novo enfoque – Parte 3
* Texto extraído do livro Doenças do Homem Civilizado – Dr. Max Otto Bruker – editora TAPs.
Dr. Max Otto Bruker (1909 – 2001) foi um médico alemão, corajoso e pacifista, que durante 45 anos atuou como Diretor Clínico em diversos hospitais, promovendo uma medicina natural e ajudando inúmeros doentes através dos livros que o tornaram conhecido. Fundou em Lahnstein, em 1989, a entidade filantrópica GGB, Gesellschaft fur Gesundheitsberatung, que assegura a continuidade de sua obra.
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