Conceição Trucom
O maior problema com as crianças é que os sistemas digestório e urinário ainda não estão totalmente preparados para processar uma alimentação que contém insumos agrícolas, refinados e aditivos. Na saúde infantil, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendam que não sejam utilizados alimentos processados ou modificados para crianças menores de um ano. Eu diria mais, enquanto menores de 3 anos de idade, quando vão para o mundo da socialização.
Sempre pergunto: é correto tomar remédio que ainda não saiu da fábrica? Ou com a validade vencida?
Ingerir alimentos maduros, frescos e integrais não é 100% importante para adultos ‘sadios’, mas quando estamos falando de alimentação infantil ou de pessoas dodóis, esse é um assunto sério. Observar os ciclos da natureza e a oferta de cada estação, nos ajuda a saber qual a melhor hora de se consumir cada alimento, buscando basicamente facilitar a digestão e a nutrição ofertada pela mãe terra.
O alimento maduro é a forma da natureza nos avisar quando ele está pronto para ser consumido, de que chegou a hora de acessar seus nutrientes, aqueles que mais precisamos naquela estação do ano.
Os alimentos da estação, aliás os orgânicos sempre o são, seguem a programação genética de cada planta. Numa determinada época do ano, que pode variar de espécie para espécie, disparam os mecanismos reprodutivos, aumentam as raízes e caules, produzem mais folhagens, geram as flores e os frutos. Mas a produção natural só acontece quando a planta está no seu estágio mais sincronizado com o ecossistema (terra, sol, lua, água e ar), quando sua nutrição, desenvolvimento e vitalidade são plenos. Tudo isso é passado para cada parte da planta que “frutifica e amadurece” no tempo certo.
Por isso seu aroma será inebriante, seu sabor prazeroso e salivador (digestivo), terá maior concentração de sumo, enzimas e vitaminas. Os vegetais de cultura orgânica, conterão mais sais minerais e antioxidantes como a vitamina C e os carotenos, que nos defendem dos radicais-livres, os vilões causadores do envelhecimento e morte precoce das células.
No caso das frutas, basta olhar, sentir seu aroma, tocar e ela cai em nossas mãos. Não precisa arrancar. Já os legumes, raízes e verduras devem ser frescos e não necessariamente maduros, pois quando muito maduros, significam que contém mais amido, e já não são mais ideais para o consumo humano. Legumes frescos são mais macios, saborosos, aromáticos e precisarão de menos temperos na hora do consumo.
O alimento fora da estação perde seu aroma característico, será mais seco, opaco e pobre nutricionalmente. Além disso, para ser colhido fora da sua época, precisa receber grandes doses de fertilizantes químicos e agrotóxicos, insumos artificiais que são caros e tóxicos para todos: solo, água, ar, fauna, flora, produtor e consumidor.
Comprar e consumir alimentos da estação é uma atitude ecologicamente correta. De forma direta é mais econômico devido à sua maior oferta no mercado, mais saudável e seguro. De forma indireta desestimulamos a produção de alimentos fora da estação.
Outro complicante é que por questões comerciais e distância dos grandes centros de consumo, alguns produtos chegam aos mercados ainda verdes, ou seja, faltando maturidade. Portanto, para serem realmente frescos devem ser de cultura local, regional.
Os alimentos importados (estados distantes ou país) não estão mais frescos, em geral foram colhidos bem verdes para suportarem o transporte, foram radiados para evitar estragar antes do tempo da comercialização, não estão com toda a sua energia vital, não contém os nutrientes adequadas às demandas do nosso local e ainda causam impacto ambiental.
Um exemplo é a quinoa. Ela é cultivada nos Andes, em local de elevada altitude, portanto ar rarefeito e baixas temperaturas. Ou seja, a quinoa é um alimento que dá sustentação para povos que vivem nestas condições de terra, sol e ar. Nós vivemos na altura do mar, temos clima tropical e não nos falta oxigênio. Pergunto: o que a quinoa tem a nos oferecer? (*)
Saber reconhecer quando estão maduros deveria ser um ensinamento natural, normal, de conhecimento de todos. Procure consumir mais daqueles alimentos que estão com bastante oferta, fartura e preços baixos. E, se você não tem condições de comprar orgânicos (por falta de oferta em sua cidade ou dinheiro) procure aqueles alimentos que estão firmes, brilhantes, frescos, porém mais franzinos e com defeitos pois certamente contém menos agrotóxicos.
Em síntese: frutas MADURAS, legumes e verduras FRESCOS. Para nossas crianças precisamos ofertar sempre os alimentos da nossa terra! Afinal, o Brasil é riquíssimo em variedade de alimentos ideais para nós!
Lembrando: alimentos crus picados e deixados na geladeira ou congelados não são frescos. São alimentos em processo de desidratação e oxidação, portanto, envelhecimento. E, esta é a informação que levam para nossas células.
Dicas interessantes
Compre as frutas, folhas e vegetais a cada 2-3 dias. Busque em sua cidade as feiras de bairro. No meu caso, que moro numa cidade pequena, procuro ‘quitandas’ e comércios que vendam produtos de cultura local, que chamo de quintal. Outra sugestão é no fim de semana conhecer e comprar no mercado central de sua cidade. Levar as crianças para conhecerem as chácaras produtoras que ficam na zona rural de sua cidade.
(*) A Embrapa está desenvolvendo variedades de quinoa adaptadas ao nosso clima tropical. Quando isso acontecer, podem ter certeza de que serei a primeira a divulgar.
Continua com: Os Alimentos da Estação
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