Cintia Cercato e Gláucia Carneiro *
Doces estão vinculados a uma ideia de felicidade. Eles são presença certa em comemorações e ajudam a apaziguar os ânimos em momentos estressantes – depois de um dia difícil no trabalho, é comum se considerar merecedor de uma generosa fatia de bolo de chocolate.
De fato, os doces fornecem energia ao organismo e estimulam a produção de um hormônio ligado ao bem-estar, a serotonina, provocando uma sensação de prazer quase tão viciante quanto uma droga – o corpo quer sempre mais.
E é por isso que as guloseimas, calóricas e muitas vezes cheias de gordura, estão entre as piores vilãs de qualquer dieta. Mas…
Doce D+ na infância pode levar à violência
A relação entre o consumo de açúcar e os riscos de delinquência permaneceram mesmo após levados em consideração fatores como ambiente familiar, qualificações educacionais após os 16 anos e posse de carro aos 34.
“Nossa explicação foi que dar doces e chocolates regularmente para crianças pode impedir que elas aprendam como esperar para obter o que querem”, disse Simon Moore, líder da pesquisa. “Ser incapaz de adiar a gratificação pode levá-las a um comportamento mais impulsivo, que é fortemente associado à delinquência”.
Outra possível razão apontada por especialistas foi que crianças que já são “difíceis” podem acabar ganhando mais doces para se acalmarem. É possível enganar o cérebro para reduzir o apetite por doces. Segundo Cintia Cercato, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o maior aliado nessa tarefa é o exercício físico.
“Estudos já mostraram que, logo após praticar uma atividade física, as pessoas tendem a ter menos vontade de comer açúcar, gordura e carboidratos”, explica.
Além disso, controlar fatores como o estresse e a ansiedade também ajudam a diminuir a ânsia pelas guloseimas. “Algumas pessoas usam os doces como antidepressivos. Então, ter uma boa vida afetiva contribui para que a pessoa não desconte a frustração nos doces”, afirma a endocrinologista Gláucia Carneiro, da SBEM.
Para a maioria das pessoas, cortar doces de uma vez pode provocar uma espécie de abstinência, que levará a um posterior abuso de açúcar.
Por isso, o ideal é parar gradativamente
Comer doces por cinco dias na primeira semana, três na semana seguinte, até atingir a cota de um dia da semana.
Contudo, para quem tem compulsão alimentar semelhante a
um vício em drogas, a recomendação é cortar o açúcar de uma vez.
NÃO tomar líquido durante a refeição
Tal péssimo hábito faz com que a comida se mova mais rapidamente do estômago para o intestino, sem ao menos ter sido adequadamente digerida…
Como a presença de comida no estômago é uma das leituras do cérebro sobre a sensação de saciedade, misturar líquido com sólido pode causar fome.
Comer devagar
Mastigando bastante os alimentos, também contribui para que o organismo se sinta satisfeito e esqueça qualquer vontade de comer doces.
ATIVIDADE FÍSICA
É comprovado: além de todos os benefícios que traz à saúde e à estética, a atividade física ainda diminui a vontade de comer doces. Estudos mostraram que, logo após se exercitar, as pessoas se sentem menos propensas a comer alimentos ricos em carboidratos, açúcar e gordura. Isso porque a atividade física estimula a liberação de hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar no organismo – o mesmo efeito causado pelo consumo de doces.
O que os olhos não vêm, não sente…
O simples fato de ter um doce apetitoso ao alcance do olhar já é suficiente para despertar no organismo o desejo pela guloseima. Por isso, manter os doces longe do campo de visão – ou simplesmente não tê-los em casa – pode ser uma boa ideia.
Estabeleça um horário para as refeições
Ficar muitas horas em jejum faz com que o organismo busque uma fonte rápida de energia para manter seu funcionamento – com fome, dispara a vontade de comer carboidratos e açúcares. O ideal é alimentar-se de forma fracionada, com pequenas refeições a cada três horas.
ALIMENTOS INTEGRAIS, frescos, maduros, crus…
Alimentos ricos em fibras e proteínas ajudam a prolongar a sensação de saciedade no organismo – logo, são aliados no combate à vontade de engolir doces.
Prefira comer doces na próxima refeição
Se a vontade por um doce for incontrolável, coma uma fruta fresca picada, daquelas bem maduras e suculentas…
A recomendação de um DOCE é deixar para comer na próxima refeição. O perigo de exagerar é menor: o organismo já estará saciado e ficará satisfeito com poucas colheradas de açúcar.
Consuma carboidratos com moderação
A ingestão de alimentos ricos em carboidrato, como pães e massas, libera insulina no sangue. Esse hormônio ativa a região cerebral responsável pela sensação de fome, aumentando o apetite.
Tome refeição matinal
Pular o café da manhã pode aumentar o desejo por guloseimas. Como a refeição é a responsável por fornecer energia para o organismo começar o dia, ignorá-la pode fazer com que o organismo busque outras fontes rápidas de energia, como o doce.
Troque um doce por uma fruta
O açúcar dos doces é chamado de sacarose, e o das frutas, frutose. Enquanto a sacarose tem absorção rápida, pois é fácil de ser quebrada, a frutose demora mais para ser absorvida pelo organismo, o que prolonga a sensação de saciedade. Por isso, sempre que possível, é melhor trocar um doce por uma fruta.
Doces liberam serotonina, hormônio que causa a sensação de bem-estar. Assim, muitas vezes acabam sendo usados como antidepressivos. Controlar a ansiedade e o stress, praticando atividades que possam servir como fonte de prazer, pode ajudar a diminuir o desejo por açúcar.
Estragar os dentes já não precisa mais ser um dos únicos argumentos para convencer seu filho a manter distância dos doces.
Um estudo da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, concluiu que o consumo diário de açúcar na infância pode levar à violência na vida adulta. A explicação pode estar na dificuldade em aprender como postergar a gratificação.
A pesquisa, publicada na edição de outubro do British Journal of Psychiatry, foi baseada em dados de cerca de 17.500 pessoas. Os cientistas descobriram que 69% dos participantes violentos aos 34 anos de idade ingeriam doces e chocolate quase todos os dias quando tinham dez anos. O índice caiu para 42% entre os não-violentos.
Mais uma vez…
Doce na infância pode levar à violência
A relação entre o consumo de açúcar e os riscos de delinquência permaneceram mesmo após levados em consideração fatores como ambiente familiar, qualificações educacionais após os 16 anos e posse de carro aos 34.
“Nossa explicação foi que dar doces e chocolates regularmente para crianças pode impedir que elas aprendam como esperar para obter o que querem”, disse Simon Moore, líder da pesquisa. “Ser incapaz de adiar a gratificação pode levá-las a um comportamento mais impulsivo, que é fortemente associado à delinquência”.
Outra possível razão apontada por especialistas foi que crianças que já são “difíceis” podem acabar ganhando mais doces para se acalmarem.
(*) Cintia Cercato e Gláucia Carneiro – endocrinologistas da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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