Consumo Consciente

Stephen Leahy *

Novos estudos avalizam dieta orgânica

Os alimentos cultivados sem insumos agrícolas podem criar uma barreira contra os pesticidas, e também nutrir mais, afirmam pesquisadores.

TORONTO, Canadá – Os alimentos orgânicos protegem as crianças dos pesticidas, enquanto o alimento derivado da agricultura intensiva moderna contém menos nutrientes do que a produzida há 60 anos, revelaram dois novos estudos científicos.

Uma equipe da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, analisou amostras de urina de crianças entre 3 e 11 anos alimentadas com produtos orgânicos, e concluiu que praticamente não continham metabólitos de malation e clorpirifos, dois pesticidas de uso tradicional nas culturas convencionais. Entretanto, depois que essas crianças voltaram a ingerir alimentos não orgânicos, os metabólitos rapidamente aumentaram para 263 partes/bilhão, segundo estudo divulgado no dia 21 de fevereiro (2006).

Os cultivos orgânicos prescindem da maior parte de pesticidas e fertilizantes usados na agricultura intensiva, e tampouco usam hormônios ou antibióticos. Houve “um efeito protetor dramático e imediato” contra os pesticidas quando foram consumidos alimentos orgânicos, disse Chensheng Lu, professor-assistente na Escola Rollins de Saúde Pública, na Universidade de Emory. A descoberta, bem como outra pesquisa publicada na Grã-Bretanha, no começo do mês, deu mais combustível à controvérsia sobre maiores benefícios dos alimentos orgânicos em comparação com os convencionais, que ocorre entre acadêmicos, empresários e ativistas de todo o planeta.

A análise britânica comparou estatísticas oficiais sobre alimentos à base de carne e lácteos, da década de 30 e do ano de 2002, e constatou que o conteúdo mineral no leite, queijo e bifes produzidos pela agricultura intensiva caiu para 70% nesse período. “Estas quedas são alarmantes”, disse ao Terramérica Ian Tokelove, porta-voz da organização não-governamental The Food Comission (Comissão Alimentar), que publicou o estudo. A entidade defende alimentos mais sadios e seguros.

O estudo comprovou que o queijo parmesão continha 70% menos magnésio e cálcio, os bifes 55% menos ferro, o frango 31% menos cálcio e 60% menos ferro, enquanto o leite também apresentou grande redução de ferro, junto com uma queda de magnésio da ordem de 21%. O cobre, um importante oligoelemento (mineral nutriente essencial que se consome em pequenas quantidades), também diminuiu 60% nas carnes e 90% nos lácteos. “Parece provável que os métodos de agricultura intensiva sejam responsáveis por isto”, disse Tokelove de seu escritório em Londres.

Embora controvertidos, vários outros estudos também encontraram diferenças entre alimentos convencionais e orgânicos. As frutas e os vegetais orgânicos apresentaram níveis significativamente mais altos de antioxidantes, que têm a propriedade de combater os radicais-livres e o câncer, segundo um estudo publicado em 2003 pelo norte-americano Journal of Agricultural and Food Chemistry. As plantas orgânicas produziram estes compostos químicos para se defenderem dos insetos e das plantas competidoras, explicaram os pesquisadores.

Um relatório de 2001 da Britain`s Soil Association (Associação Britânica do Solo) analisou 400 estudos de pesquisa nutricional e chegou a conclusões semelhantes: os alimentos cultivados organicamente tinham mais minerais e vitaminas. “As técnicas modernas de cultivo que apostam em um crescimento rápido e altos rendimentos podem estar afetando a qualidade nutricional”, afirmou Katherine Tucker, diretora do programa de Epidemiologia Nutricional na Universidade Tufts de Boston, no Estado de Massachusetts.

“Níveis menores de minerais nos alimentos que ingerimos são causa de preocupação. O magnésio, o cálcio e outros minerais são muito importantes para uma nutrição adequada”, disse Tucker ao Terramérica. A boa nutrição e o exercício são os principais fatores que podem marcar uma diferença na incidência de muitas doenças, incluindo o câncer, afirmou.

Os produtores de outras partes do mundo não deveriam adotar as práticas da agricultura intensiva da América do Norte ou Europa, disse Ken Warren, porta-voz do The Land Institute (Instituto da Terra, dos Estados Unidos), em Salina, Estado do Kansas. “É um sistema insustentável que depende fortemente de fertilizantes químicos, como o nitrogênio, para manter os rendimentos altos, e que produz alimentos vazios”, disse Warren. Os “alimentos vazios” contêm propriedades nutricionais insuficientes e suspeita-se que tenham um papel no rápido aumento da obesidade, já que as pessoas comem mais para obter a nutrição de que necessitam, explicou.

Os cultivos retiram minerais, mineral-traço e outros nutrientes do solo a cada ano. A agricultura moderna devolve à terra apenas alguns fertilizantes químicos que não podem substituir o que se perdeu, acrescentou Warren. Além disso, os herbicidas e inseticidas matam os microorganismos do solo, que têm papel importante em sua fertilidade e ajudam as plantas a crescerem.

Os resíduos de pesticidas na agricultura moderna são causa de grave preocupação. Um estudo de 2003, da Universidade de Washington, concluiu que as crianças que comiam frutas e vegetais orgânicos tinham concentrações de pesticida seis vezes menores do que as que consumiam produtos convencionais.

O The Land Institute defende o que chama de “agricultura de sistemas naturais”. Isto envolve o uso de cultivos perenes em policultivos, isto é, plantar vários cultivos diferentes juntos, como praticavam povos ancestrais em muitas partes do mundo. “Os agricultores de outras partes do mundo deveriam aprender com os erros da agricultura norte-americana. Considerar a natureza é um modelo melhor para cultivar”, afirmou.

(*) O autor é colaborador do Terramérica.

24 de setembro de 2019

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