Mônica de Oliveira Costa *
O maior problema com a criançada é que os sistemas digestório e urinário ainda não estão totalmente preparados para processar uma alimentação que contém aditivos. Na saúde infantil, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e a Organização Mundial de Saúde recomendam que não sejam utilizados aditivos em produtos alimentares destinados a crianças menores de um ano.
Os aditivos alimentares têm sido usados por séculos: nossos ancestrais usavam sal para preservar carnes e peixes; adicionavam ervas e temperos para melhorar o sabor dos alimentos; preservavam frutas com açúcares e conservavam pepinos e outros vegetais com vinagre. Entretanto, com o advento da vida moderna, a cada ano, mais aditivos têm sido empregados.
Aditivos alimentares são substâncias utilizadas sem propósitos nutricionais. “Eles têm como finalidade impedir alterações nos alimentos, manter, conferir ou intensificar seu aroma, cor e sabor, modificar ou manter seu estado físico geral ou exercer qualquer ação exigida para uma boa tecnologia de fabricação do produto”, explica Silvio José Ferreira de Souza, professor do curso de Engenharia de Alimentos da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho).
A existência de vários produtos modernos, tais como os de baixo valor calórico, fast-food, salgadinhos embalados (snacks), não seria possível sem os aditivos atuais. Estes são usados para preservar os alimentos, melhorar o seu aspecto visual, seu sabor e odor, e estabilizar sua composição. O número de aditivos atualmente empregados é enorme, mas todos eles passam por uma regulamentação federal antes do seu uso: alguns são permitidos somente em certas quantidades, enquanto que outros já foram banidos de nosso cardápio. E são dos laboratórios de química que saem, anualmente, novos aditivos.
O JECFA, comitê científico formado por especialistas da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e da OMS (Organização Mundial da Saúde), realiza periodicamente avaliações toxicológicas dos aditivos alimentares, por meio de testes com animais e dados epidemiológicos, e estabelece a ingestão diária aceitável dessas substâncias.
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o órgão que regulamenta e fiscaliza o uso dos aditivos. É ela quem determina que aditivos podem ser utilizados em cada tipo de alimento, bem como a quantidade permitida em cada caso.
A ProTeste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor realizou uma pesquisa com molhos para salada industrializados e detectou que muitos deles contêm o conservante ácido benzóico, liberado no Brasil, mas apontado por muitos estudos como potencial causador de hiperatividade em crianças.
As principais características do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na infância são a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. Além destas características básicas do transtorno, em mais de 50% dos casos, as crianças apresentam transtornos do aprendizado, do humor e de ansiedade.
Em pesquisa recente feita pela Universidade de Southampton, na Inglaterra, e publicada na revista científica Lancet, concluiu que corantes à base de benzoato e conservantes encontrados em alimentos infantis e refrigerantes podem estar relacionados à hiperatividade e distúrbios de concentração em crianças.
Os especialistas frisaram que são necessários estudos mais profundos para confirmar a prevalência da hiperatividade relacionada aos corantes e conservantes alimentares. Das crianças analisadas, 36 tinham hiperatividade e alergias, 75 eram apenas hiperativas, 79 tinham apenas alergias e 87 não apresentaram nenhum sintoma. De acordo com os pais das crianças hiperativas, o distúrbio diminuiu depois que eles deixaram de consumir alimentos com as substâncias. A hiperatividade subiu quando corantes e conservantes voltaram à alimentação das crianças. Os pesquisadores concluíram que apesar de muitos outros fatores estarem envolvidos nessa questão, a ingestão de aditivos poderia ser evitada pelas crianças.
A questão de que se os aditivos químicos dos alimentos afetam ou não o comportamento das crianças levanta controvérsias há décadas.
Até os anos 50, a coloração feita por fabricantes de alimentos era um processo simples basicamente através de recursos naturais. Por exemplo, quando queriam colorir uma bala de vermelho eles usavam beterraba; o verde era à base de clorofila de plantas e assim por diante. Entretanto a indústria química crescia rapidamente e na sua tentativa de aumentar as vendas eles viram a indústria alimentícia como um excelente cliente em expansão.
Entre as vantagens oferecidas pelos fabricantes de corantes e conservantes artificiais estava o baixo custo e o significativo aumento no prazo que os alimentos levariam para estragar nas prateleiras.
A preocupação das autoridades em relação à segurança dos alimentos era mínima, sem levar em consideração o impacto que determinadas substâncias poderiam ter no comportamento humano. À medida que o mundo começou a se conscientizar que fatores ambientais durante as primeiras fases da vida poderiam ter profundas e duradouras conseqüências no desenvolvimento do indivíduo, reconheceu-se também que ingredientes aparentemente inofensivos como os aromatizantes e corantes artificiais usados para realçar a cor e aparência dos alimentos poderiam ter sérias conseqüências com o uso prolongado.
Foi assim que o famoso corante C2 (FD & C Red No. 2) foi proibido para utilização em alimentos devido à comprovação de que produzia câncer em animais.
“Alguns aditivos podem ser substituídos por novos sistemas de embalagem e de processamento dos alimentos”, lembra Paulo Roberto Nogueira Carvalho, diretor técnico do Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos do ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos), em Campinas. É o caso do leite longa vida, que passa por uma ultra pasteurização, é processado e envasado de forma asséptica e, por isso, não exige conservantes. Além disso, ele ressalta que substâncias como corantes são utilizadas pela indústria apenas para atender a uma expectativa de aparência do produto por parte das pessoas.
Há públicos que são ainda mais vulneráveis ao consumo dos aditivos, como gestantes, idosos, pessoas que têm alimentação pouco variada e, principalmente, crianças menores de três anos.
O maior problema com a criançada é que os sistemas digestório e urinário ainda não estão totalmente preparados para processar uma alimentação que contém aditivos. Na saúde infantil, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e a Organização Mundial de Saúde recomendam que não sejam utilizados aditivos em produtos alimentares destinados a crianças menores de um ano.
Apesar disso, é importante ressaltar que há vários produtos no mercado para crianças menores de um ano que contêm aditivos, como iogurtes, gelatinas, refrigerantes, biscoitos, balas, dentre outros.
O que você pode fazer
Quanto mais industrializado o produto, mais aditivos químicos ele terá. Quanto mais distante o local de sua produção, como os alimentos importados; mais conservantes terá. Por isso, o ideal é que você prepare os alimentos frescos em casa. Como isso nem sempre é possível, seguem algumas dicas para diminuir o consumo de aditivos químicos:
• Leia o rótulo e escolha os produtos com menos aditivos. Esta informação está na lista de ingredientes, que é apresentada em ordem decrescente de concentração no produto.
• Prefira alimentos simples, menos industrializados e procure prepará-los em vez de utilizar produtos produzidos industrialmente.
• Evite o consumo de embutidos (salsicha, lingüiça, mortadela).
• Não coma alimentos fortemente aromatizados e reaprenda a apreciar o sabor dos alimentos ao natural.
• Evite produtos com cores muito vivas, que revelam a presença de corantes.
• Evite açúcares e edulcorantes (adoçantes).
Aditivo alimentar
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Principais Funções
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Acidulante
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Aumentar a acidez ou conferir sabor ácido aos alimentos
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Agente de Firmeza
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Tornar ou manter frutas ou hortaliças firmes e crocantes
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Agente de Massa
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Aumentar o volume e/ou a massa dos alimentos sem contribuir significativamente com aumento no valor energético dos mesmos
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Antiespumante
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Prevenir ou reduzir a formação de espuma
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Antioxidante
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Retardar o aparecimento de alterações oxidativas (ou seja, sabor e odor de ranço) dos alimentos.
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Antiumectante
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Reduzir a umidade dos alimentos
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Aromatizante / Flavorizante
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Conferir ou reforçar o aroma e / ou o sabor dos alimentos
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Conservador
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Impedir ou retardar alterações e /ou deteriorações nos alimentos, provocadas por microrganismos (bactérias, fungos).
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Corante
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Conferir, intensificar ou restaurar a cor dos alimentos.
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Edulcorante
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Conferir sabor doce aos alimentos, sem a utilização de açúcares.
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Emulsionante /Emulsificante
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Permitir a mistura de duas ou mais substâncias imiscíveis, ou seja, que não se misturam (ex: água e gordura).
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Espessante
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Aumentar a viscosidade do alimento
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Espumante
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Possibilitar a formação ou a manutenção de espumas em alimentos líquidos ou sólidos
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Estabilizante
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Manter a estabilidade / uniformidade da mistura de duas ou mais substâncias imiscíveis
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Estabilizante de cor
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Estabilizar, manter ou intensificar a cor dos alimentos.
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Fermento Químico
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Liberar gás com objetivo de aumentar o volume da massa
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Glaceante
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Quando aplicada na superfície externa do alimento, tem a função de conferir aparência brilhante ou revestimento protetor.
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Geleificante
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Conferir textura, através da formação de um gel.
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Melhorador de Farinha
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Quando agregado à farinha, tem a função de melhorar suas características, de acordo com a finalidade a que se destina (fabricação de pães, biscoito, macarrão).
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Regulador de Acidez
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Alterar ou controlar a acidez ou alcalinidade dos alimentos
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Realçador de Sabor
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Realçar o sabor ou aroma dos alimentos
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Umectante
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Proteger os alimentos da perda de umidade
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Tabela fornecida pela ANVISA
Leia também: Agrotóxicos e Aditivos
(*) Mônica de Oliveira Costa é parceira do Doce Limão, co-responsável pelas edições da Revista Especial Kids. Ela é nutricionista formada pela FSP/USP, docente na Escola Técnica de Nutrição Carlos de Campos/SP, acupunturista, estudante de Florais de Bach e atualmente se considera uma pessoa encantada com os benefícios da alimentação crua viva – [email protected]
http://www.equipeharmonica.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=102:aditivos-alimentares-e-hiperatividade&catid=1&Itemid=39
http://nutconsult.com/artigos-hiperatividade.htm
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cien ciaesaude/ultnot/2008/02/27/ult4477u347.jhtm
http://daniel-eloi.blogspot.com/2007/09/refrigerantes-aumenta-hiperatividade.html
http://www.proteste.org.br/alimentacao/perigo-no-abuso-de-aditivos-alimentares-s484281/dossies-p168886.htm
http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/aditivos.html
http://cyberdiet.terra.com.br/cyberdiet/colunas/010908_nut_aditivos_alimentares.htm
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