Conceição Trucom
Primeiramente: qual o seu canal sensorial dominante?
Cada um dos cinco sentidos ou canais sensoriais tem áreas específicas no cérebro, local onde são armazenadas as percepções e suas memórias. Por exemplo, existem pelo menos 30 áreas especializadas apenas para o sentido da visão.
Os cinco sentidos são os portões através dos quais o cérebro entra em contato com o mundo exterior. Dependemos primariamente dos sentidos da visão e audição porque nos revelam rapidamente sobre o ambiente ao redor. Os demais sentidos – olfato, paladar e tato – são usados pelo homem moderno, infelizmente, com menor precisão.
No passado histórico da humanidade, o olfato era muito mais relevante que nos dias de hoje. Bons exemplos: seguir a caça, sentir as mudanças do clima e até diagnosticar doenças pelo cheiro. E mais, o sentido do olfato é o que guarda a mais estreita relação com ativação da memória afetiva e emocional, pois se relaciona diretamente com o hipocampo (centro da formação da memória e mapas mentais) e com o sistema límbico; local onde ocorre o processamento das emoções. Assim, o aroma de pão fresco, café ou e uma flor nos desperta emoções que estimulam a memória para diversos acontecimentos de nossa vida.
Mas, para o aprendizado e registro de novos conhecimentos ser mais rápido e efetivo, é fundamental saber qual é o seu canal sensitivo predominante, ou seja, se você apreende o mundo pelo visual, pelo auditivo ou pelo cinestésico (tato)?
Com este reconhecimento será mais fácil encontrar a melhor forma de praticar, e em quais exercícios cerebrais, via estímulo sensorial, colocar mais atenção.
Normalmente quem é visual fala assim: “olha aqui, deixa eu te dizer uma coisa”. A pessoa visual retém melhor o que vê (desenhos, gráficos) e o que lê. A ortografia normalmente não constitui problema para ela.
O auditivo normalmente fala: “escuta aqui”. A pessoa gosta de estudar em voz alta, recorda palavras que o professor falou e distingue muito bem a voz das pessoas ao telefone.
Já o indivíduo cinestésico diz: “sente só, que coisa bacana”. Normalmente os cinestésicos possuem uma voz mais bonita. Na categoria dos cinestésicos estão incluídas as sensações de tato, temperatura, posição corporal e também os sentimentos como os de alegria e depressão. As pessoas nessa categoria aprendem fazendo, manipulando ou escrevendo. Muitas vezes estudam andando ou gostam de estudar em cadeiras macias. Em sala de aula conseguem prestar mais atenção quando o professor se movimenta na sala.
Importante lembrar que diante do estresse ou ansiedade a pessoa fica mais apegada ao seu canal sensitivo predominante, e neste caso, desativar esta automatização com exercícios que fortaleçam as outras áreas cerebrais é muito importante.
Estimulando os cinco sentidos
A idéia é reconhecer e valorizar o seu sentido dominante (pode ser mais de um), fazendo uso consciente dele para tornar mais animador e fácil os processos de aprendizagem.
Entretanto, estimular o uso dos demais canais sensitivos, ou seja, aqueles que estão menos calibrados e tônicos, pode acelerar e aumentar a ramificação dos neurônios, portanto as sinapses ou conexões cerebrais, as quais são responsáveis pelo desenvolvimento (acesso) de novas aptidões e inteligências.
Canal Visual
Exercícios de estímulo – olhe à sua volta por uns minutos; feche os olhos e tente lembrar-se do que viu, reconstituindo tudo, sem dar nomes. Faça o mesmo com uma foto ou gravura ou com algum ambiente que lhe tenha agradado no passado.
Canal Auditivo
Exercícios de estímulo – ouça música tentando reproduzi-la, letra e melodia, decore versos, procure discriminar sons: timbre da voz das pessoas, pássaros, animais, ruídos da rua, da casa.
Canal Cinestésico
Exercícios de estímulo – pratique esportes, dança, tai chi chuan, identifique diferentes objetos apalpando-os sem olhá-los, mexa com a terra, as plantas, os animais. Entre na piscina ou banheira, feche os olhos e vá percebendo o toque da água (e sua temperatura) em cada parte do corpo.
Canal Olfativo
Exercícios de estímulo – sempre de olhos fechados perceba o cheiro de cada parte de seu corpo, do seu companheiro, de cada alimento, fruta, água, bebida ou flor. Analise os perfumes que tem em sua casa e faça a distinção entre os de tom doce, cítrico ou amadeirado. Cheire as roupas dos armários e até aquelas que precisam ser separadas para lavar.
Canal gustativo
Exercícios de estímulo – experimente, com os olhos fechados, diferentes sabores, tipo: doces (banana e mamão), cítricas (maçã, tangerina e ameixa), amargo (alcachofra, rúcula e giló), salgadas e etc. Mastigue mais que o normal, beba mastigando, enfim faça avaliação de componentes de uma mistura. Experimente alimentos tampando o nariz. Experimente novos alimentos ou pratos de outros países.
Exercícios sensoriais com aproveitamento do cotidiano
Todos nós precisamos ter a consciência de que viver já é uma dinâmica de contínuos exercícios cerebrais. Tal consciência poderá tornar esta prática do viver e do “acordar” o cérebro mais divertida, se prestarmos mais atenção ao nosso cotidiano, utilizando os 5 sentidos, o estar aqui e agora, o estado de meditação.
Escolha uma ou mais destas dicas para focar por dia. Se desejar, invente outras. Faça uso destes exercícios em todas as oportunidades do dia, mas cuidando para que não se tornem rotineiros:
1. Ao acordar, cheire uma essência de aroma diferente por 1 semana: eucalipto, limão, alecrim, baunilha, etc. Feche o frasco e o abra novamente depois de tomar o banho e se vestir.
2. Tome banho de chuveiro com os olhos fechados com cuidado para não cair ou se machucar. Tome consciência da textura e temperatura da água, sabão, de sua pele, etc.
3. Quando for tomar banho, use uma série de estímulos sensoriais: óleos aromáticos para o banho, sabonetes perfumados, esponjas, escovas, toalhas macias, óleos de massagem.
4. Escove os dentes com a outra mão. Se a sua mão dominante for a direita, escove os dentes com a esquerda e vice-versa.
5. Troque de mão também ao pentear o cabelo, abotoar as roupas, comer, usar o controle remoto.
6. Mude suas atividades de rotina: vista-se depois do café, ligue a TV num programa que nunca viu; leve o cachorro para passear por um novo caminho.
7. Leia textos em voz alta., se possível, caminhando.
8. Sexo: feche os olhos, ponha roupas de cetim, espalhe pétalas de rosa pela cama, tome uma champanhe gelada, massageie um ao outro com óleos perfumados, idealmente com uma música ao fundo.
9. Caminhe descalço pelo seu quarto com os olhos fechados. Conte os passos, perceba a dificuldade (ou facilidade) deste movimento por um local tão conhecido. Abra as gavetas e procure descobrir cada roupa somente pelo tato e cheiro.
10. Mude as coisas de lugar no seu trabalho. Troque as coisas de gavetas, os móveis de lugar, os livros nas prateleiras.
11. Apague todas as luzes da casa e fique atento para todos os sons. Seus, da casa e externos. Depois, escreva sobre toda a riqueza de sons que te impressionaram: pelo desejo, pela alegria, pelo medo, enfim … a vida é plena de sons.
Como você pode perceber: a prática dos exercícios cerebrais podem FAZER PARTE DA SUA VIDA DIÁRIA, só dependendo do quanto você quer desfrutar dos desafios inerentes da vida para aprender e crescer.
Texto extraído do livro Mente e Cérebro poderosos – Conceição Trucom – editora Pensamento Cultrix.
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