Fernando Carvalho *
Um grande ativista pela redução do consumo de açúcar pela população mundial, autor de várias edições do livro ‘Açúcar – O perigo DOCE’ (Alaúde e outras edições independentes), entrevistei o Fernando quando estive recentemente no Rio de Janeiro, dentro da sala de espera do Canal Brasil.
Meu propósito foi incluir este tema Açúcar-Cáries-Obesidade no novo Curso online dos Laticínios Vivos e Veganos, já que o consumo de leites achocolatados (e saborizados em caixinhas), iogurtes e bolos estão normalmente LOTADOS deste nefasto NÃO-ALIMENTO: o Açúcar. Sendo certamente as nossas CRIANÇAS as maiores vítimas deste LOOB da indústria alimentícia & farmacêutica & doenças crônicas.
E, durante esta entrevista temos a grata surpresa de saber do seu novo livro, ainda no prelo, sobre a PANDEMIA das CÁRIES que ninguém, nem mesmo os dentistas, têm interesse em assumir, reconhecer e mudar.
Vamos assistir?
Abaixo uma degustação deste seu novo livro, que breve estaremos divulgando seu acesso e compra:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Açúcar
A Organização Mundial de Saúde (OMS) bem que tentou neste começo de século, empenhar todos os governos do mundo no Programa Global de Frutas e Vegetais, parte integrante do Fórum Global para a Prevenção e Controle de Enfermidades Não Transmissíveis, algo parecido com a campanha que é feita contra o cigarro. Uma ação estratégica em favor de uma alimentação saudável motivada pela epidemia de obesidade que está grassando no mundo. O Programa da OMS previa, além da criação de subsídios para reduzir os preços de alimentos saudáveis, a aprovação de impostos para encarecer os alimentos prejudiciais e criar limitações legais à propaganda dos alimentos não saudáveis e, nesse contexto, propor um teto para o consumo de açúcar que seria de 10% das calorias totais ingeridas diariamente. Mas, essa pretensão da OMS foi barrada pelos votos dos países que prezam mais os negócios que a saúde das pessoas (entre eles Brasil e Estados Unidos).
Na reunião realizada para este fim, em Genebra, no mês de maio de 2004, o Comitê executivo da OMS foi derrotado na questão do teto de 10% para o consumo de açúcar e ficou estabelecido que os governos se empenhariam em obter da indústria de alimentos o compromisso de “fazer uso de menos açúcar, gordura e sal” em seus produtos. No Brasil o máximo que o ministro da saúde conseguiu da indústria de alimentos foi o compromisso de usar menos sal e gordura, o açúcar ficou de fora. E mesmo assim, a indústria ainda pediu um tempo para adaptar a linha de produção. Isso porque o açúcar é reconhecido pela OMS como um dos responsáveis pela obesidade que está se tornando um problema de saúde pública em todo o mundo. Mas a despeito do fracasso daquelas tentativas, em 2014 a OMS insistindo em sua orientação baixou o teto para o consumo de açúcar para a metade, 5%.
A OMS estava apenas 100% enganada. Uma notícia de tamanha importância para a saúde pública não foi divulgada nos programas dominicais de televisão de grande audiência. Ao contrário, num desses programas, numa reportagem sobre a introdução de rapadura na merenda escolar (um crime, diga-se de passagem) uma nutricionista desinformada mencionou o limite de 10% da OMS. Para uma dieta de 2000 calorias 5% significam que o teto diário para o consumo de açúcar é de apenas 25 gramas.
O que dá ao ano menos de dez quilos de açúcar.
Nós brasileiros estamos consumindo
mais de 60 quilos de açúcar por ano em média.
Vejam a política de dois pesos e duas medidas. Só porque estamos consumindo 100% a mais de sal que o recomendado pela OMS (nós consumimos 12 gramas e a OMS quer limitar o consumo para 6 gramas), isso já motivou pressão do governo sobre a indústria para baixar o sal adicionado aos seus produtos. No entanto estamos consumindo 500% mais açúcar que o recomendado pela OMS e o governo não faz nada ou não pode fazer. O lobby dos traficantes de açúcar é muito poderoso. Sem contar que o consumo de sal é estável há décadas. Desde os anos 40 que o brasileiro consome 12 gramas de sal por dia. E esse consumo não vai aumentar por uma razão simples se você colocar mais sal no seu ovo frito você próprio vai achá-lo desagradável. O sal é agradável em pequenas concentrações e insuportável em altas doses.
Já o consumo de açúcar é crescente, naqueles anos (1940) era de pouco mais de 30 quilos/pessoa/ano e hoje ultrapassa os 60 quilos. Essa campanha contra o sal (e a gordura) é uma cortina de fumaça utilizada pela ditadura do açúcar.
Não é necessário policiar o consumo de sal, ninguém vai aumentar a quantidade de sal no seu ovo frito. Já o açúcar é o contrário disso até, claro, o limite do enjoativo. Quando penso nisso sempre me lembro da Sônia Hirsch contando que o pai dela colocava açúcar no mamão e a mãe retrucava: “Mas o mamão já é doce”. E o velho: “Pois vai ficar mais doce ainda”.
A cárie dentária é a principal doença crônica, tão disseminada que em vez de epidemia merece o rótulo de pandemia. E a Organização Mundial de Saúde (OMS), está devendo à humanidade uma estratégia mundial semelhante à campanha antifumo, que tenha por objetivo atacar o açúcar com o objetivo de erradicar a epidemia de cárie dentária: é o que vai acontecer quando o açúcar for varrido da mesa. Infelizmente sabemos que, se o grupo de pressão da indústria de alimentos vetou um artigo propondo um teto para o consumo de açúcar no bojo de uma campanha contra a obesidade. Uma campanha contra o açúcar como protagonista do filme de terror da cárie dentária é no momento aparentemente impossível.
Isso porque o açúcar é reconhecido pela OMS como um dos responsáveis pela obesidade que está se tornando um problema de saúde pública em todo o mundo. O mesmo não acontece quando se trata da epidemia de cárie dentária. No que se refere às cáries a OMS limita-se a propor metas baixas de CPOD (dentes cariados perdidos ou obturados) para a população. A OMS não pretende “erradicar” as cáries, apenas controlá-las ou monitorá-las. Nosso objetivo é erradicar a pandemia de cárie. Para tanto é necessário derrubar a ditadura do açúcar.
Precisamos de “militantes” para derrubar essa ditadura. Quem são esses militantes? Todo mundo, o povo desdentado, cariado e obturado, os dentistas, os médicos, os nutricionistas, os profissionais de saúde (a cárie é apenas a primeira doença do açúcar).
A sorte é que mesmo que seja muito difícil derrubar a ditadura do açúcar,
as pessoas podem, individualmente, dar as costas ao açúcar.
E prestar atenção ao que acontece com seu corpo. Monitorar a frequência de gripes e resfriados, os mal estares estomacais, as tosses, o nível de colesterol, as enxaquecas, o sobrepeso e a obesidade, e já ia me esquecendo, a incidência de novas cáries.
A cárie dentária apesar de ser a mais disseminada das doenças crônicas, sequer é apreendida como doença pela população. Ninguém se acha doente por causa de um dente cariado ou admite que sofreu uma mutilação diante da perda do mesmo dente, tão fácil se tornou a substituição de um dente natural por um simulacro de plástico.
A cárie dentária é essa epidemia que entrou para a vida da humanidade no rastro do processo de açucaramento da dieta humana. A cárie é a comissão de frente do bloco das doenças crônicas. Mas a população não tem consciência desses fatos e nem muitos dentistas. Ao pessoal da odontologia cabe a tarefa de denunciar o açúcar adicionado aos alimentos como responsável pela epidemia de cárie e cabe aos dentistas o papel de vanguarda dos profissionais de saúde na guerra contra as doenças crônicas na medida em que estarão lutando contra a primeira delas, a interface entre a humanidade e essas doenças.
Não é o que acontece atualmente, a ração açucarada e a consequente epidemia de cárie são aceitos como fatos consumados sem relação direta entre si. E a odontologia a persistir nessa tarefa inglória de apostar numa sofisticada e caríssima parafernália que pode até obter significativa redução das cáries, mas que é impotente para erradica-las.
Os dentistas executam aquele famoso trabalho de “enxugar gelo”.
E o que é pior muitos dentistas ignoram a relação direta entre açúcar adicionado aos alimentos e cárie. Um dentista certa vez me disse: ”Rasgo meu diploma se feijão não provocar cárie”. Isso porque ele aprendeu na faculdade que um dos “fatores de cárie” (além do próprio dente, ridículo, mas verdadeiro) são os “carboidratos fermentáveis” ou “fermentescíveis”. E feijão, pão, batata, tudo isso virou “fator de cárie”. Quando o ÚNICO fator dietético de cárie que existe chama-se SACAROSE refinada ou bruta.
Assista também: Vídeos: Açúcar, o perigo Doce
E leia: A história macabra do açúcar – Açúcar x Mulheres
(*) Fernando Carvalho, um dos milhares de diabéticos, vítima da indústria do “tudo leva açúcar”. Ele é autor do livro Açúcar, o perigo Doce – editora Alaúde. Tudo porque ele é um historiador, pesquisador, estudioso incansável, que tem a coragem, assim como William Dufty teve (autor do fantástico e bombástico “Sugar Blues”) para seguir dando GRITOS DE ALERTA.
0 respostas em "Fernando Carvalho e a Pandemia das Cáries"