Ao AR livre…
Nem música clássica, nem palavras cruzadas: neurocientista diz que atividades para o corpo é que melhoram a capacidade cerebral… A foto retrata exercícios na praia nos idos de 1935.
Mas leia até o fim porque tem grandes surpresas BOAS nesta matéria pautada em estudos da neurociência. E, dizia-se, em meio aos naturistas alemães do início do século 20, que um corpo que toma banhos de ar, de água e de sol não precisa frequentar os médicos.
Por Murilo Roncolato*
Nicholas Spitzer é um professor de neurociência da Universidade da California. Em uma entrevista à Economist, o cientista quebrou dois dos mitos sobre atividades que colaboram para a nossa inteligência. Um mito em específico é bem conhecido: afinal, quem nunca ouviu um idoso dizer que fazia palavras-cruzadas, quebra-cabeça, sudoku, jogava xadrez ou coisa parecida para manter a “cabeça funcionando”?
Para Spitzer, a prática de solucionar jogos de raciocínio não melhora sua capacidade cognitiva e música clássica – e aqui vem o segundo mito, chamado “Efeito Mozart” – não desenvolve as suas funções cerebrais. Segundo o neurocientista, isso é papo furado, o que pode ajudar mesmo o seu cérebro é você sair de casa e fazer algo bem diferente disso: se mexer. “Essas teorias foram analisadas em detalhe e elas não se sustentam. É decepcionante de certo modo, mas o que descobrimos é que exercício (físico) é a chave para as funções cerebrais”, afirmou o professor.
Os benefícios dos exercícios físicos para o cérebro já eram conhecidos, mas as condições para que as vantagens se deem de fato ainda são objetos de estudo.
Primeiramente, o ambiente. De preferência devem ser feitos sob exposição da luz solar. A explicação disso é fruto do processo de evolução. Segundo uma pesquisa publicada em abril na Science, após testes em ratos, constatou-se que o nosso cérebro muda suas atividades de acordo com o ambiente. Isso por uma questão de sobrevivência. O cérebro tende a diminuir suas atividades em ambientes fechados, após algum período sem exposição a luz solar relevante, condições semelhantes às impostas aos animais (e aos seres humanos) durante o inverno.
E a intensidade? E qual exercício vale? Dois estudos publicados em maio deste ano se propuseram a avaliar a capacidade de aprendizado e de memorização de pessoas submetidas a exercícios em bicicletas ergonômicas e outro em bicicletas elípticas. No primeiro caso, elaborado por pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade Goethe e da Universidade de Bonn, na Alemanha, 81 mulheres foram separadas em três. O grupo A ouvia, sentado durante 30 minutos, a palavras ditas em alemão (ou seja, seu próprio idioma) e a sua relativa em polonês. O grupo B, foi submetido a 30 minutos de exercício e, em seguida, ouvia às tais palavras. Já o grupo C ouviu as palavras também durante 30 minutos, porém enquanto ainda se exercitavam. No fim, o grupo C obteve melhor desempenho, seguido de B e A. Já a segunda pesquisa, esta feita por uma pesquisadora da universidade americana de Elon, fez um procedimento parecido, porém separando um grupo de 11 mulheres que estudavam sentadas, quietas, e em outra situação estudavam enquanto se exercitavam. Os testes aplicados imediatamente após as sessões mostrou que as mais quietas, levaram a melhor. Outra bateria de testes no dia seguinte, no entanto, as colocou em igualdade, não se notando diferenças notáveis entre os grupos.
A conclusão cruzada dos dois estudos é a de que exercícios colaboram para uma melhor atividade cerebral (levando benefícios como o de melhor memória), mas depende da intensidade e da situação em que é empregado. Fazer exercícios imediatamente antes de avaliações, como uma prova na escola, provavelmente não trará nenhuma vantagem. E também não adianta começar a fazer exercícios agora com a expectativa de estar colaborando com o seu cérebro a fim de que ele te ajude a ter um melhor desempenho intelectual semana que vem.
Segundo o professor da Universidade de São Paulo à frente do Laboratório de Neurociência e Comportamento, Gilberto Fernando Xavier, o sistema nervoso leva cerca de 12 semanas para produzir alterações detectáveis de melhor desempenho, e isso apenas após uma prática de exercícios regulares (5 ou 7 dias na semana). Por “melhor desempenho” entenda redução dos níveis de stress e ansiedade, melhorando assim capacidade de melhora e raciocínio rápido. Isso é o efeito que Xavier chama de “estabilização afetiva”.
“Fazer muito exercício horas antes da prova dificilmente ajudaria. Agora, se a pessoa faz exercício regularmente, exercitar-se um dia antes, pode dar um efeito estabilizador afetivo melhor”, diz Xavier à GALILEU. “Isso porque o exercício libera serotonina e beta-endorfina, que são substâncias que a longo prazo ajudam a reduzir o stress e a ansiedade. Tanto é que hoje em dia exercício físico e interação social são utilizados para tratar depressão.”
Sedentárias desavisados poderiam ter até efeitos negativos se começassem a se exercitar de repente. Isso porque o esforço agudo, avisa o professor, pode gerar resultados bons ou ruins, tudo depende do condicionamento físico da pessoa e da intensidade da prática. “O exercício demanda mais energia do músculo, que por sua vez perde insulina, assim a glicose é obrigada a entrar no músculo, e por consequência é menos glicose circulando no sistema sanguíneo, e assim o sistema nervoso fica menos abastecido”, diz Xavier que recomenda o exercício regular a todos os que serão postos literalmente a prova, em situações muito tensas, como vestibulares ou concursos públicos. O ideal é adquirir o hábito de se exercitar desde cedo.
“Fazer exercicio durante vestibular, por exemplo, é essencial. Eu ensinei tudo isso que te falei à minha filha”, conta, orgulhoso. “Ela manteve exercicios durante todo o período de estudo, fez a prova, passou e hoje continua se exercitando.” Uma das pesquisadores do Laboratório de Neurociência e Comportamento da USP, o qual chefia, é Livia Teixeira, responsável por um estudo com ratos que demonstrou o desenvolvimento de neurônios nos animais após séries de exercícios físicos repetitivos, porém quando colocados, tempos depois, em condição de sedentarismo, o nível de atividade diminuiu. “O que ela provou foi exatamente isso”, diz Xavier, “Ou seja, exercício faz bem e tem que ser feito sempre.”
* Fonte: Revista Galileu
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