Por José Augusto Menegatti *
O estresse teve uma importância considerável na evolução, mantendo os nossos ancestrais vivos. Os sobreviventes da floresta e savanas eram fortes e ágeis, pois a demanda de ações rápidas era alta diante de muitas situações de perigo e sobrevivência, como caçar o próprio alimento. Hormônios como cortisol e adrenalina eram “lançados” na corrente sanguínea acelerando o batimento cardíaco e aumentando o fluxo sanguíneo para todas as áreas, permitindo, desta forma, a fuga ou luta em cada situação. Passado o perigo novos ajustes ocorriam voltando ao estado normal, o que garantia o funcionamento IDEAL da produção hormonal (MAFFETONE, 2012).
Quando nos submetemos por períodos longos em estresse, seja alimentar, por exercício extenuante ou diante de situações conflitantes; e não conseguimos administrá-los de forma inteligente, há alteração da produção de cortisol pela glândula adrenal. O cortisol pode se encontrar cronicamente elevado ou continuamente suprimido. Depressão, fadiga crônica, insônia, obesidade, vontade de comer doces, são os sinais e sintomas bem característicos relacionados à diminuição do nível desse hormônio, sintomas estes semelhantes ao do período da menopausa. Baixa imunidade, perda muscular, aumento do armazenamento de gordura, são sinais e sintomas característicos do aumento do nível desse hormônio.
Pesquisas mostram que em mulheres o comprometimento da alteração do cortisol é pior que nos homens, pois afetará a produção de outro hormônio, o estrogênio. Com a concentração de estrogênio afetada, a proporção estrogênio/testosterona também é prejudicada (hormônio presente em pequena quantidade na mulher), “facilitando” o armazenamento de gordura na região abdominal principalmente no período da menopausa (HARVARD WOMEN’S HEALTH WATCH, 2006).
Manter o estrogênio nas taxas adequadas é importantíssimo, pois ao mesmo tempo que pode desacelerar o processo de envelhecimento, reduzir a depressão e ansiedade, melhorar a concentração e memória e proteger contra o câncer de mama, o seu desbalanceamento (como o excesso causado pela reposição hormonal) pode diminuir o nível de açúcar no sangue aumentando o desejo de comer doces, aumentar o risco de câncer uterino e doenças da vesícula biliar (MAFFETONE, 2012).
A variação nos níveis dos hormônios pode explicar o porquê de após os 35/40 anos a tendência, particularmente em mulheres, é ganhar “uns quilinhos extras”, principalmente nas regiões abdominal, quadril e coxas. Isto tem sido aceito como uma possibilidade inevitável após esta idade. E quando há um ganho exagerado de gordura, há armazenamento tanto da gordura subcutânea (a que conseguimos segurar com as mãos), quanto a gordura visceral (localizada dentro da cavidade abdominal envolvendo as vísceras), sendo esta última a mais prejudicial para a saúde, elevando os riscos para as doenças cardíacas,diabetes tipo 2, câncer e acidentes vasculares cerebrais (HARVARD WOMEN’S HEALTH WATCH, 2006).
Estas alterações hormonais acompanham a mulher durante toda a vida, não somente na menopausa e na gravidez, mas desde a puberdade. E NÃO são sinônimo de problemas mantendo-se uma alimentação saudável, horas de sono/repouso adequadas,atividade física regular e adequada e melhor adaptabilidade em situações de stress.
É importante ressaltar que em mulheres saudáveis e ativas na menopausa a atividade hormonal se mantém balanceada, pois a glândula adrenal se ajusta a esta nova etapa da vida e passa a produzir mais dos hormônios que pararam de ser produzidos pelos ovários. Caso a adrenal não esteja funcionando de forma eficiente os sintomas da menopausa se desencadearão (MAFFETONE, 2012).
Somos como nossos ancestrais?
Nos dias de hoje, a movimentação das pessoas está pobre em ações como agachar, saltar,correr, agarrar, pendurar, lançar, aterrissar e etc., o que pode ser considerado um importante fator que afeta a natural produção hormonal,favorecendo o desbalanceamento desta intricada relação entre os hormônios. Os movimentos ACÍCLICOS estão cada vez menos presentes nas atividades diárias e na maioria das ofertas de exercícios, mas o nível de stress se mantem alto e as ações não geram ativações que mantenham uma morfofuncionalidade eficiente e consequentemente não desempenham respostas consistentes que garantam um funcionamento endócrino bem balanceado.
A Alimentação também mudou!
Sabe-seque a alimentação influencia diretamente a produção de insulina (hormônio produzido no pâncreas), que é “jogada” na corrente sanguínea na presença de glicose no sangue. Este processo biológico tem liberado cada vez mais insulina devido aos altos níveis de glicose proveniente do consumo exagerado de carboidratos refinados, comidas industrializadas, alimentos adoçados e açucarados, induzindo à resistência insulínica, favorecendo assim o armazenamento de gorduras e podendo até desenvolver a diabetes tipo 2. Nos dias atuais, apesar de recebermos muitas informações sobre tipos de alimentos, como combiná-los,várias formas de “dietas”, o consumo de carboidratos refinados ainda é alto (diferente dos nossos antepassados, leia mais em O que o sono tem a ver com os hormônios? A FOME!), comprometendo a produção dos hormônios, tornando, diante disto, a alimentação fator contínuo de stress.
Como vemos, todos os hormônios desempenham um importante papel no bem estar das pessoas.
Como manter esta produção normal e adequada dos hormônios para o “perfeito” funcionamento do organismo?
A boa notícia é que isto é possível e depende apenas das escolhas em relação à alimentação e também a maneira de se movimentar, atividade física.
Ou seja, a escolha de “COMO” você se movimenta, “COMO” você treina, torna-se extremamente importante, já que, quanto mais ações estiverem presentes no treino, maior a probabilidade de manter o funcionamento endócrino eficiente independente da idade. Movimentar-se com a habilidade de levar as articulações ao extremo de amplitude permitida, em diferentes vetores de força e com progressões inteligentes de impacto, favorece o desenvolvimento humano, gerando STRESS considerado bom, adequado e importante, garantindo assim, uma morfofuncionalidade eficiente.
CUIDE-SE: estudando, informando-se continuamente para poder FAZER BOAS ESCOLHAS!
Referências:
Harvard Women’s Health Watch: Abdominal fat and what to do about it.
December, 2006. Disponível em inglês aqui
MAFFETONE, P. The big book of health and fitness. New York: Skyhorse Publishing, 2012.
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