Fernando Trucco *
Novembro 2018
Cada vez são mais frequentes e alarmantes as notícias que nos confrontam com o impacto de uma futura “catástrofe de poluição global” decorrente da acumulação do lixo industrial e doméstico, com grande participação dos resíduos plásticos.
Plástico nos oceanos
Além dos resíduos acumulados em enormes aterros “sanitários” continentais, pedaços de diversos tamanhos e partículas de plástico invadem e percorrem todos os oceanos. Como resultado, milhares de espécies de animais marinhos contaminados morrem todos os anos no mundo por alguma lesão causada pelo plástico criado pelo homem.
O consumo humano, e de outras espécies vivas, de frutos do mar acrescentam a cadeia de contaminação ainda mais. Um grande problema que ainda está sem solução.
Mas não apenas as águas dos oceanos estão contaminadas com plástico, outros relatórios têm revelado o achado de plástico na água engarrafada, na água da torneira, e mais recentemente no sal de mesa que, como sabemos é todo de origem marinho.
Olhando o problema um pouco mais de perto, a seguir analisamos alguns fatos recentes.
Sal de mesa
De acordo com pesquisa liderada pela “Greenpeace da Ásia Oriental”, análise de amostras de diferentes países revelaram partículas de plástico em mais de 90% do sal mesa analisado.
Assumindo que um adulto consome em média 10 g de sal/dia, se calcula que um indivíduo estaria ingerindo cerca de 2.000 partículas de micro plásticos por ano, apenas devido ao uso do sal nos alimentos, alerta uma ONG.
Os resultados foram publicados este mês na Environmental Science & Technology, onde foi relatado que apenas três das 39 marcas analisadas não continham micro plástico, com dominância dos produzidos no Oceano Índico. De acordo com o mapa mostrado no relatório em questão, a área com o sal mais contaminado foi a Ásia (com destaque para Coreia do Sul).
Segundo um dos produtores de Sal Artesanal (Flor de Sal) na Costa do Sal (Rio Grande do Norte), na tecnologia de limpeza de resíduos e material orgânico usada neste tipo de produção de sal específico para consumo humano, ocorre massiva redução de todos os contaminantes…
Mas sejamos coerentes, o problema é global, crescente e requer soluções urgentes. Segundo o mesmo relatório o Brasil mostra atualmente índices menores, porém não está isento do problema.
Água engarrafada
Estudos realizados este ano também relataram a presença de partículas de plástico em 93% das amostras de água engarrafada. A pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Nova York incluiu marcas de consumo popular nos EUA.
Suspeita-se que as partículas de plástico vieram do processo de engarrafamento, uma vez que as partículas de micro plástico também foram encontradas na água comercializada em recipientes de vidro. Além disto, relatórios anteriores revelaram o achado de plástico na água da torneira, embora em menor grau, devemos aceitar que o problema está chegando longe demais.
Fica a grande pergunta, como solucionamos o problema?
Desde criança sempre me impressionou uma frase colocada pelo município nas ruas e praças da cidade onde costumávamos ir de férias: “A cidade mais limpa não é aquela que é mais varrida, mas aquela que menos sujamos”.
Parece evidente, precisamos parar a produção do plástico na sua origem.
“É de vital importância que as empresas reduzam sua dependência dos plásticos imediatamente”. Essa foi uma das principais conclusões de um relatório recente do Escritório Federal do Meio Ambiente da Alemanha. Uma conclusão que sabemos, dificilmente pode ter efeito prático porque os interesses econômicos e comerciais são gigantescos e poderosos.
Atualmente são produzidas 400 milhões de toneladas de plástico por ano, com uma taxa de crescimento acentuada desde o início dos registros, como mostra o gráfico abaixo:
Estima-se que dos 8,3 bilhões de toneladas de plástico produzidas, 79% acabaram no lixo.
Os restantes 30% foram incinerados, reciclados ou destinados a implementos de longa duração.
O problema é de tamanha magnitude que é difícil imaginar que esforços de caráter pessoal do tipo “Dona Francisca só usa sacolas de papel” possam efetivamente ajudar a resolver a situação. Iniciativas macro e inteligentes são urgentemente necessárias para reduzir a produção e o uso de plástico.
Esforço de faxina
Depois de cinco anos de estudos, no mês de setembro deste ano iniciou-se a primeira fase de um esforço em grande escala para remover resíduos plásticos espalhados no Oceano Pacífico.
Uma organização sem fins lucrativos “The Ocean Cleanup” saiu desde a costa de São Francisco, EUA, em um barco equipado com instrumentos de navegação, GPS, equipamentos de comunicação por satélite, câmeras, sistemas de monitoramento e painéis solares que irá procurar limpar o Oceano Pacífico na chamada “Grande ilha de lixo do Pacífico”.
O estudo prévio determinou que a melhor maneira de remover o plástico que se acumula no mar é com um flutuador de 600 metros de comprimento capaz de “coletar” resíduos que chegam até três metros de profundidade em um setor de 1,6 milhão de quilômetros quadrados localizado entre a Califórnia e o Havaí. Segundo o mesmo estudo realizado pela The Ocean Cleanup, este flutuador poderá retirar até 50% do lixo dentro dos próximos cinco anos.
Infelizmente, enquanto isso, simultaneamente, mais 400 milhões de toneladas de plástico por ano continuarão sendo produzidas. Será que foi bem feita essa conta?
Esforços da indústria alemã de carros
Mais recentemente, a fábrica gigante de automóveis BMW alemã anunciou que entregou modelos de seus carros elétricos modelo i3 para a mobilização da equipe da fundação The Ocean Cleanup que está atualmente iniciando as operações do sistema de limpeza para a “ilha de plástico” no Oceano Pacífico.
O carro BMW i3 é um dos veículos mais amigos do meio ambiente que existe hoje no mercado global, pois toda a cadeia produtiva está abastecida com energia verde, além de ser um carro livre de emissões.
Mas como se isso não bastasse, o carro pode ser reciclado até 95% de acordo com informações da marca alemã. É essa capacidade que deu ao modelo i3 vários prêmios em nível internacional como um dos carros mais ecológicos da atualidade.
(*) Fernando Trucco é químico e cientista e faz parte da equipe técnica do Doce Limão. Bacharel em Química pela Universidad Católica de Chile, mais de 30 anos de experiência internacional no campo da ciência, design de processos industriais, pesquisa e desenvolvimento de processos químicos, engenharia química e meio ambiente. Seu blog: Professional Translations. Reprodução permitida desde que indicada a fonte e o tradutor.
Fontes:
El plástico en el océano: El impacto de una futura “catástrofe mundial” de contaminación. No site Emol.com
The Ocean Cleanup comienza la instalación de su flotador gigante para limpiar el océano Pacífico. No site Emol.com
Con autos reciclados y eléctricos: BMW se une a campaña para limpiar océanos. No site Emol.com
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