Conceição Trucom
A relação do cérebro com os intestinos – sistema grastrintestinal ou digestivo -, embora há muito conhecida pelas medicinas milenares, como a Ayurvédica, a Tradicional Chinesa e a Tibetana, vem sendo desvendada somente nas últimas décadas pelos cientistas.
O intestino delgado é hoje reconhecido como um ‘órgão inteligente’ ou ‘segundo cérebro’ por ser o único órgão do corpo humano capaz de executar funções independnetemente do sistema nervoso central (SNC). Esta autonomia se comprova pela sua habilidade em produzir arcos reflexos – intertransmissão de estímulos entre os neurônios sensitivos, associativos e motores – que tanto lhes permite captar as informações, como processá-las e responder de acordo com a necessidade do momento. Em outras palavras, os intestinos também pensam, decidem e executam tarefas tal qual um cérebro.
No Brasil, o Laboratório de Pesquisas em Neurônios Entéricos da Universidade Estadual de Maringá/PR, vem se destacando como centro de pesquisa no assunto. De acordo com o seu coordenador, Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto, os neurônios, tanto do cérebro como dos intestinos, guardam semelhanças e são basicamente de três tipos:
Natureza Associativa –> conduzem as informações a serem processadas.
Natureza Motora –> respondem aos estímulos.
Natureza Sensorial –> captam os estímulos do meio ambiente e os transmitem aos centros nervosos.
Sob a batuta dos neurônios entéricos, os alimentos devem percorrer o sistema digestivo a uma velocidade metabólica ideal, para que a massa alimentar e o bolo fecal não fiquem retidos (em qualquer parte do seu trajeto) mais do que o tempo necessário.
Qualquer alteração física ou mental se reflete na aceleração ou desaceleração dos movimentos peristálticos – diarréia ou prisão de ventre –, cuja cronicidade gera conseqüências desastrosas. E vive-versa.
Diarréia
– Desidratação e perda de sais minerais, cuja conseqüência mais imediata é o desequilíbrio ácido-alcalino.
– Perda da fluidez dos humores, dificultando a desintoxicação, nutrição, oxigenação das células e dos humores e controle sobre metabolismo celular.
– Deficiência dos sucos digestivos, promovendo a má digestão, as inflamações intestinais, a permeabilidade da mucosa intestinal, exaustão do sistema imunitário, subnutrição celular, problemas emocionais e mentais etc.
Prisão de ventre
– Fermentação, putrefação e oxidação do bolo alimentar (gases e flatulência).
– Intoxicação do organismo e congestão hepática.
– Disbiose da flora intestinal (desequilíbrio com dominância das bactérias patogênicas).
– Humor descontrolado.
– Ressecamento e acúmulo de fezes nas paredes intestinal, impedindo a absorção dos nutrientes devido ao sufocamento da mucosa, promovendo um ambiente propício à flora disbiótica e aos processos infecciosos e inflamatórios.
Portanto, torna-se estreita a relação entre um sistema digestivo saudável e a sensação de bem estar físico, emocional e psíquico. Na verdade, os intestinos regulam nossa imunidade, funcionam como um órgão inteligente e afetam nossas emoções.
Serotonina e Melatonina
Alegria de viver e serotonina são absolutamente interdependentes. Uma não existe sem a outra. Tanto é assim que os tratamentos clássicos da depressão envolvem esse neurotransmissor, interferindo no seu ciclo natural dentro do cérebro. A grande questão é que esses medicamentos não atuam no cerne do problema, que é a falta de produção da serotonina. O que acontece é que 90% da serotonina é produzida pelos intestinos, afirma o Dr. Helion Póvoa no seu livro O Cérebro Desconhecido (editora Objetiva):
Quando analisamos o fato de que o intestino é fundamental na formação da serotonina, nada mais é preciso acrescentar. A alegria e a inteligência emocional, de que tanto precisamos para viver bem, começam realmente a partir do intestino! Por isso só nos resta garantir a esse fantástico órgão matérias-primas de primeira qualidade, o que conseguimos com uma alimentação saudável. Ele, inteligentemente, se encarregará de garantir nossa saúde e felicidade.
E mais, a serotonina é a precursora da melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal, o centro superior de processamento de informação eletromagnética, bastante conhecido como auxiliar do bom sono. A melatonina é também o antioxidante mais poderoso produzido pelo organismo.
A serotonina e a melatonina têm uma relação de alternância. A primeira predomina quando o cérebro se encontra em estado de alerta e a segunda nos períodos de sono. O que não se sabia até recentemente é que ambas são secretadas pelas glândulas dos intestinos, e não apenas pela pineal. Esta dupla dinâmica aumenta a qualidade do sono, a sensação de bem-estar, o otimismo, o bom humor, a capacidade de atenção e de raciocínio. Os pensamentos ficam mais leves e a vida mais prazerosa.
As primeiras evidências desse fato vieram das pesquisas do Dr. Michael D. Gershon, autor do livro O Segundo Cérebro (editora Campus) que revelaram dois fenômenos importantíssimos:
• As paredes dos intestinos, estimuladas pela fricção das fibras alimentares, secretam a serotonina.
• A serotonina secretada pelos intestinos é o fator de controle do peristaltismo que, em cadências regulares, movimenta o bolo alimentar e as fezes ao longo do trato gastrintestinal.
• As paredes do trato gastrintestinal são recobertas por uma rede de neurônios diretamente responsáveis pela coordenação de todas as funções digestivas que, embora estejam conectados ao sistema nervoso central, têm total autonomia sobre todas as etapas do processo digestivo.
Por isso, a higiene alimentar e a higienização dos intestinos também são essenciais à prevenção e à reversão dos quadros de distúrbios emocionais e problemas mentais, que cada dia aumenta percentualmente o número de casos em todo o mundo.
A alimentação moderna, com tanto refinados, aditivados e agrotóxicos, pode estar fazendo com que os intestinos padeçam, dificultando todas as nossas inteligências.
Fontes:
– Doutor Michael D. Gershon – O Segundo Cérebro – Ed. Campus.
– Doutor Helion Póvoa – O cérebro desconhecido – Ed. Objetiva.
– Site – Difusão Autoecologia
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