Conceição Trucom
Ganhei de presente da editora Alaúde um livro: O Cérebro de BUDA. Empatia total: Os autores são neurocientistas, praticantes do budismo e professores de meditação. UAU!
Eles afirmam neste livro, que Buda e outros mestres espirituais nasceram iguais a todo mundo: cabeça, tronco, membros e um cérebro cuja constituição é essencialmente a mesma que a de qualquer pessoa. A diferença, porém, é que eles conseguiram mudar o próprio cérebro a ponto de transformar o mundo…
Por Rick Hanson e Richard Mendius *
Certa vez, ouvi uma história sobre uma índia anciã americana, a quem se perguntou como havia se tornado tão sábia, feliz e respeitada. Ela respondeu: “Em meu coração, vivem dois lobos, um lobo do amor e outro do ódio. Tudo depende de qual deles eu alimento a cada dia”.
– Todos nós temos dois lobos no coração, o do amor e o do ódio. Tudo depende de qual deles alimentamos diariamente.
– Embora o lobo do ódio chame mais atenção, o do amor é maior e mais forte, e seu desenvolvimento ao longo de milhões de anos tem sido um fator essencial para a evolução do cérebro. Por exemplo, mamíferos e aves têm cérebro maior que répteis e peixes, em grande parte para lidar com relacionamentos com seus pares e sua prole. E, quanto mais sociável a espécie primata, maior o cérebro.
– O cérebro humano triplicou de tamanho nos últimos 3 milhões de anos; muito desse crescimento é destinado a habilidades interpessoais como empatia e planejamento cooperativo. Nas condições hostis enfrentadas por nossos ancestrais, a cooperação favorecia a sobrevivência; assim, fatores que promovem a cooperação foram entremeados em nosso cérebro – como altruísmo, generosidade, preocupação quanto à reputação, justiça, linguagem, perdão, moralidade e religião.
– A empatia depende de três sistemas neurais que simulam ações, emoções e pensamentos alheios. A empatia é virtude em ação. Ela possui uma generosidade inerente: você se abre para se emocionar com a outra pessoa.
E, o lobo do ódio NÃO é dotado de empatia.
– À medida que o cérebro aumentava de tamanho, os primeiros homens precisavam de uma infância mais longa para desenvolvê-lo e treiná-lo; e, com isso, nossos ancestrais tinham de encontrar novas maneiras de criar vínculos entre pais, filhos e outros membros do bando, pois é preciso “uma aldeia inteira para educar uma criança”. Isso é executado por múltiplas redes neurais, como sistemas de recompensa à base de dopamina e oxitocina e sistemas de punição em que a rejeição social produz ativação de forma semelhante à dor física.
– Ao mesmo tempo, o lobo do ódio também evoluiu. Bandos que caçavam e colhiam alimentos frequentemente travavam lutas altamente letais com outros bandos. A cooperação interna nos grupos tornou a agressividade entre grupos mais eficiente, e as recompensas de tal violência – comida, companheiros, sobrevivência – promoviam a cooperação entre os membros do bando. Cooperação e agressividade – amor e ódio – evoluíram juntos de maneira sinérgica. Suas habilidades e tendências permanecem dentro de nós até hoje.
– O lobo do ódio restringe o círculo do “nós”, chegando, às vezes, a ponto de caber somente a própria pessoa dentro dele. O cérebro está sempre categorizando “nós” e os “outros”, e automaticamente dá preferência aos primeiros e desvaloriza os últimos. Ironicamente, o lobo do ódio pode ser deixado de fora do círculo do “nós”. Mas não é possível matá-lo, e; negar sua existência apenas faz com que ele cresça nas sombras.
– Precisamos admitir a existência do lobo do ódio e valorizar o poder do lobo do amor – para então dominar um e alimentar o outro.
Texto extraído do livro O Cérebro de BUDA – editora Alaúde. Capítulo 9 – páginas 151-152.
(*) Rick Hanson é neurobiólogo e mestre de meditação budista.
Richard Mendius é neurologista especializado em neurobiologia e prática meditativa.
Ambos são cofundadores do Instituto Wellspring de Neurociência e Saber Contemplativo (EUA).
Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações, citada a autoria e a fonte www.docelimao.com.br
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