Conceição Trucom
– Extraído do Boletim de Sinais – Teodora, Figueira.
Não só ao elaborar alimentos, mas em todos os nossos atos, mesmo naqueles mais simples, temos a oportunidade de compartilhar o mais íntimo do nosso ser, sem esperar retribuição, só pelo prazer de fazer bem e o bem.
Há alguns anos estive encarregada de administrar uma casa de alimentos naturais, onde elaboravam massas e pães.
Quem fazia os pães era especialista na matéria, e seu trabalho atraía toda a vizinhança. Mas, um dia essa pessoa teve que viajar e ficamos sem ela.
Sem nunca ter feito pão antes, assumi esta responsabilidade. Coloquei, literalmente, as mãos na massa e entreguei os resultados à Deus.
Sempre que amassava o pão sentia como se os ingredientes, aparentemente inertes, fossem sutilizando-se, tomando forma, mudando de textura, criando vida. Quanto mais amassava, mais aquilo se transformava, e o milagre se renovava todos os dias.
Tão conectada estava com o trabalho, que comecei então a orar e cantar enquanto amassava. Pouco a pouco senti que me comunicava com o mundo por outras vias – vias ocultas, interiores. Era como escrever cartas de amor a desconhecidos, àqueles que comeriam o pão.
Surpresa; percebi que a clientela dos pães havia mudado. Já não eram apenas os vizinhos, mas gente dos mais diversos pontos da cidade.
Um dia me pus a conversar com uma senhora que todos os dias vinha de muito longe. Eu a vi cansada e lhe ofereci um chá. Enquanto o tomava, ela me contou que tinha uma filha de 15 anos com câncer terminal. A moça não ingeria quase nada, e a única coisa que pedia era “aquele pão”.
Fui tomada de profunda gratidão ao me dar conta, ainda que parcialmente, do alcance da oração e da intenção de amor.
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