Conceição Trucom
Contar calorias não se resume a controlar o que uma pessoa come – o que importa é a quantidade de energia que ela consegue absorver e assimilar…
Pensar na digestão sobre o que acontece no estômago e intestino delgado é uma maneira totalmente incompleta de pensar sobre a alimentação: temos que levar especialmente em conta o papel da flora bacteriana intestinal (IG ou Cólon) na nutrição e no metabolismo, principalmente do sistema imune…
Você é o que esta flora come: a quantidade de energia, nutrientes e nutracêuticos que podemos extrair da alimentação determina toda a nossa biologia: física, mental e até espiritual.
A função primária dos intestinos é a assimilação dos nutrientes. Mesmo se você consome o melhor dos orgânicos, você não será capaz de absorver os nutrientes destes alimentos tão especiais, se o seu intestino não for saudável. Se não for FUNCIONAL para captar e assimilar tudo que é importante para a sustentação da vida: física, emocional, psicológica, espiritual.
É FUNDAMENTAL que você restaure a sua flora intestinal, aumente – e mantenha – a população das bactérias benéficas: que devem ser numerosas e bio-diversas. Quanto mais funcional esta microbiota, menos calorias serão necessárias, porque o que mais pesa é a maior e qualitativa absorção.
E mais, uma boa digestão acontece quando todos o sistema digestório – mastigação, salivação, estômago, pâncreas, fígado, intestino delgado, cólon, etc., trabalham juntos de uma forma sincronizada e fluida.
Assim, curar problemas digestivos, disbioses, reduzir inflamações (agudas ou crônicas) passa por um processo de otimizar sua alimentação sim, mas TAMBÉM de repopular sua microbiota E MANTÊ-LA VIVA, PRODUTIVA, FUNCIONAL.
O problema é que ninguém parece ser capaz de concordar sobre o que constitui a melhor dieta. Defensores de diferentes dietas divergem sobre quais grupos de alimentos são ‘bons’ e quais são ‘maus’.
Uma lógica seria de que talvez o simples ato de assumir o controle da sua dieta já seja suficiente para gerar melhorias, não importando se adotou-se menos carboidratos, menos gorduras ou menos calorias e por aí vamos.
Uma referência que não precisa ir nos primatas, porém uns 100 anos atrás, época de nossos avós, é saber que não existiam as doenças metabólicas que começaram a aparecer nas estatísticas, que não param de crescer, desde 1940, quando:
– surgiram os antibióticos e a indústria farmacêutica tomou nas mãos ‘a saúde’ e longevidade prometidas;
– a indústria alimentícia e a engenharia de alimentos (que desenvolve aditivos, conservantes, cereais refinados, óleos isolados etc.) iniciou a sua presença crescente nas prateleiras dos supermercados;
– ao mesmo tempo, teve início o distanciamento das pessoas das feiras-livres, da conexão com os produtores locais, a redução do tempo e espaço para cultivos caseiros, e finalmente uma redução gradual e irreversível dos tempos de preparos de nossas refeições.
EM SÍNTESE, PERDEMOS A CONEXÃO COM
A MÃE TERRA & NATUREZA
que chato, porque somos a natureza…
A Mãe Natureza que não se perdeu no tempo, e segue seus ritmos e propostas como sempre foram: rios, lagos, florestas, animais, cristais, micróbios… Tudo respeitando os mesmos tempos de 100, 1000 ou 5000 mil anos atrás!
Também podemos fazer paralelos, e ter uma ideia do que os seres humanos ‘deveriam’ comer, por exemplo examinando populações cujo estilo de vida ainda não foi impregnado pela agropecuária intensiva, pela alimentação globalizada e altamente industrializada, embalada e aditivada.
Para a população da aldeia rural de Boulpon em Burkina Faso (África), a dieta típica é painço, sorgo (uma espécie de milho bem rústico) e legumes cultivados localmente. Ocasionalmente um frango do quintal é abatido. Também podemos comparar comunidades sem qualquer acesso ao mundo moderno, como uma tribo que vive na floresta Amazônica e outra de aborígenes australianos que vivem a 11 mil quilômetros distantes entre si. Ambos compartilham uma dieta baseada em mandioca e milho + legumes, como também uma microbiota saudável.
Soluções e Caminhos de Volta
Mônica Cristina Campos – nutricionista funcional do Doce Limão e da Oficina da Semente – fala sobre o Trato Digestivo & suas desarmonias, considerando sua experiência clínica em atendimentos ambulatoriais e de acompanhamento de doenças crônico-degenerativas:
É extremamente importante respeitar a individualidade bioquímica de cada ser,
seu estado de absorção de nutrientes,
sua capacidade de eliminar toxinas e regenerar-se diariamente.
Após esta compreensão de que somos indivíduos – na saúde e na doença – remover toxinas é fator emergencial que envolve retirar possíveis causadores de reações alérgicas, xenobióticos e patógenos para só então, reinocular gradualmente pré e pró-bióticos, re-introduzir as enzimas dos alimentos crus e reparar a mucosa com uma alimentação não irritativa, hipoalergênica e com nutrientes de crescimento.
Desintoxicar-se É PRECISO meu mantra predileto quando realizando palestras e oficinas mundo afora. Tema essencial do meu primeiro e eterno livro Alimentação Desintoxicante – como ativar o sistema imunológico (editora Alaúde)… E esta ativação acontece por esta Alimentação Detox, que é baseada em plantas, auxilia na desintoxicação e no resgate de uma microbiota mais plural e sana.
Com esta proposta a nutrição funcional baseada em plantas pode ter “A” resposta de funcionalidade dentro do padrão de melhor vitalidade possível para aquele organismo.
Vamos falar do que a microbiota mais ama? Dos PREBIÓTICOS?
Este termo foi empregado por Gibson & Roberfroid em 1995 para designar “Ingredientes nutricionais não digeríveis – fibras de origem vegetal – que afetam beneficamente o hospedeiro estimulando seletivamente o crescimento e atividade de uma ou mais bactérias benéficas do cólon, melhorando a saúde do seu hospedeiro”.
O amido resistente (AR) das fibras solúveis, a inulina e os frutooligossacarídeos (FOS), são consumidos como verdadeiros QUITUTES e fermentados no intestino pela microbiota intestinal resultando em ácidos graxos de cadeia curta – butiratos e propionatos – que são importantes fontes de nutrição para os enterócitos que de uma forma ideal, devem contribuir com 70% do aporte nutricional do consumo diário dos enterócitos.
Estes ácidos graxos de cadeia curta são fundamentais para aumentar a presença de microorganismos que preservam a espessura ideal – e impedem ou reduzem gradativamente a disbiose – das vilosidades que cobrem toda a extensão do intestino grosso (cólon).
As ações terapêuticas dos PREBIÓTICOS são:
Ação hipolipemiante, melhora a microbiota colônica, melhora o funcionamento intestinal, melhora a biodisponibilidade de cálcio, zinco, ferro, magnésio, reduz metabólitos tóxicos, reduz enzimas pró cancerígenas e pressão arterial, as
Bifidobactérias ajudam a promover a produção de vitaminas B1, B2, B6 e B12.
Há 4 tipos de amido resistente:
-
- AR tipo 1 – Amido trancado dentro das paredes celulares não-digeríveis de células vegetais; encontrado em leguminosas, grãos e sementes.
- AR tipo 2 – Amido que é intrinsecamente não-digerível no estado cru, devido ao alto conteúdo de amilose; encontrado em batatas e bananas, o AR tipo 2 torna-se digerível quando aquecido.
- AR tipo 3 – Amido retrogradado; quando alguns amidos foram cozidos, resfriá-los (no freezer ou geladeira) muda a sua estrutura e os torna mais resistentes à digestão; encontrados em grãos, batatas e leguminosas que foram cozidos e depois resfriados.
- AR tipo 4 – Amido resistente industrializado; não ocorre naturalmente e foi modificado quimicamente; comumente encontrado no “amido de milho resistente”.
Onde nós os conseguimos?
Nós podemos obter o AR na comida. As comidas mais ricas nele são as batatas cruas, bananas verdes, bananas da terra, batatas cozidas e resfriadas, arroz cozido e resfriado, arroz parbolizado (arroz integral pré-cozido na pressão), e leguminosas cozidas e resfriadas.
Podemos conseguir AR de fontes suplementares isoladas de amido. As melhores fontes são o amido de batata crua (fécula), farinha de banana verde, e amido de mandioca (polvilho doce). Feijão MUNGO cru são uma boa fonte de AR, ou então amido dele extraído, comumente disponível em mercearias asiáticas com o nome de feijão-da-china.
Fontes de FOS: alho poró, chicória, alho.
E OS PROBIÓTICOS?
Aqui no Doce Limão somos especialistas e temos até um curso online… Assine!
Novo Modelo da Digestão Humana.
Lá ensinamos a produzir alimentos fermentados, combinar e balancear alimentos… Mas todos do reino vegetal, integrais, maduros e frescos da estação.
Fermentamos sementes, como queijos, leites e iogurtes. Vegetais, como brócolis, repolhos, raízes e folhas duras. Frutas maduras da estação viram bebidas gasosas deliciosas… E geramos pratos, lanches e bebidas de tirar qualquer deus do sério, hehe!
Leites fermentados de alpiste, aveia e cevada…
Leia também: O que são PREBIÓTICOS?
Continua na Parte 2
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