Desintoxicação é uma forma de cura

Desintoxicação é uma forma de cura

Victoria Boutenko *

Quando comemos alimentos cozidos pela primeira vez, quando ainda bebês,  a primeira camada de muco é criada no nosso organismo.

Uma parte do muco é formada como um filamento ao longo do aparelho digestivo, enquanto o restante fica acumulado num lugar mais conveniente, os pulmões. Esse muco não pode ficar nos pulmões permanentemente, então, eles usam um mecanismo similar à peristalse, para se livrar do muco. É como milhões de pequenos dedos na sua  superfície, que trabalham como um cinto móvel fazendo a limpeza. Este mecanismo leva porções do muco dos pulmões até o nariz: é quando vemos os bebês com o nariz escorrendo.

Quando alimentamos um bebê com alimentos que formam muco, o bebê tem corisa o tempo todo.  É o seu corpinho tentando expulsar o muco. É a natureza agindo. Todo excesso do muco seria evacuado através do nariz do bebê e os pulmões ficariam limpos, se deixássemos que isso acontecesse.

Porém, o que é que nós fazemos quando vemos o nariz do nosso bebê escorrendo? A reação típica é, “oh! meu bebê está com coriza. A pele em volta do narizinho dele está tão irritada. Tenho que fazer alguma coisa.  Vou levá-lo ao médico”.

O médico prescreve umas gôtas nasais. Nos sentimos bem porque fizemos o que pudemos para ajudar nosso bebê. Infelizmente essas gôtas  não são necessárias, pelo contrário, são prejudiciais. O bebê não tem nenhuma deficiência no nariz. Essas gôtas são tóxicas. São tão tóxicas que o corpo pára de expulsar o muco dos pulmões e se concentra em expulsar as toxinas  das gôtas nasais. O nariz pára de escorrer e o muco volta para os pulmões. Olhamos para o nosso bebê e dizemos: “Sim, o remédio  funcionou. Meu bebê está bem agora.”

O que não sabemos é que o nariz parou de escorrer porque o organismo concentrou energia para eliminar as toxinas das gôtas. E que o nariz vermelho escorrendo não é tão perigoso quanto os pulmões cheios de muco e os efeitos das toxinas das gôtas no corpo.

Com o tempo,  as camadas de muco vão se tornando mais densas. Aí, cerca de 3 meses depois, o nariz  do bebê começa a escorrer  novamente. O que nós fazemos?  Nós pensamos, “está com coriza, é melhor ligar para o médico”. Levamos o bebê de volta ao médico que prescreve umas gôtas mais fortes, porque dessa vez  a quantidade de secreção é maior e mais concentrada e faz as amídalas ficarem inflamadas. A secreção também provoca rouquidão, porque percorre a traquéia, cobrindo as cordas vocais. O medicamento mais forte, geralmente um antibiótico, é tão tóxico que o corpo pára de se desintoxicar e passa a se concentrar nos danos dos remédios e antibiótico. Aí, o bebê não vai ficar doente por algum tempo, até que o corpo recupere a energia necessária e continue seu esforço para se desintoxicar.

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Para acelerar a liberação das toxinas o corpo cria a febre. Febre não é simplesmente uma elevação da temperatura, e sim um complexo processo que requer tempo e energia para realizar o seu trabalho.

Para criar a febre, o corpo tem que trabalhar muito. O coração tem que bombear 20 a 30 vezes a mais sangue que o normal. Todas as glândulas hormonais performam um trabalho extra. É por isso que sentimos moleza no corpo. Para preservar a energia usada na digestão dos alimentos, o corpo cria a falta de apetite. A língua é revestida por uma camada de muco para que se perca o paladar; o nariz é congestionado para não sermos tentados pelo cheiro da comida; as amídalas ficam inflamadas para ficar difícil engolir qualquer coisa. O corpo precisa do jejum nesse momento, por isso se utiliza desses artifícios. 

O que acontece quando o corpo tem febre? Ele entra no processo de transpiração para que o muco saia através dos poros. Você se lembra daquele suor pegajoso e com um odor típico que acontece durante uma febre alta? A febre ajuda o muco a ficar mais fino e mais fácil de ser expelido. É quando o nariz começa a escorrer.

Infelizmente o que as pessoas fazem nessa hora é tomar aspirina. Para que tomar aspirina?  Não temos deficiência de aspirina. Temos que ficar na cama porque nos sentimos fracos. A reação do corpo contra a aspirina é que provoca a fraqueza, e não a febre em si. 

Para piorar a situação, quando nos sentimos fracos, comemos alimentos pesados, como sopa de frango, por exemplo. Não temos apetite. Nosso corpo está dizendo, “Não coma!” E ainda assim, pensamos que precisamos comer para nos recuperar mais rápido. Eu costumava agir assim com meus filhos. Eu dizia, “tome um pouco de sopa de frango, você precisa se alimentar para ficar bom logo”, ou então, fazia eles comerem algo que tivesse bastante calorias. Em reação ao ato de comer, na fase em que não devemos comer, o corpo ainda usa um último recurso que é o vômito. É como se estivesse dizendo “Não, não é isso. O que eu preciso é recuperar toda a minha energia para me curar”.

Se comemos quando o corpo está na fase do “não comer” o sangue tem que agir no estômago para processar a sopa de frango, usando a energia que era  necessária ao processo de desintoxicação e cura.   

O problema está em não cooperarmos com o nosso corpo. De não entendermos a sua linguagem.

A recuperação depois que usamos medicamentos, requer muita energia. Depois de uma crise dessas, a doença pode desaparecer por um longo período, só que isso não quer dizer saúde e sim que o corpo não está tendo energia para se desintoxicar. Ele precisa estocar mais energia para um outro processo de cura. Enquanto isso, o muco nos pulmões vai aumentando. O muco fresco tem a cor clara. O mais velho é amarelo, verde, laranja escuro ou marrom. Para eliminar esse denso muco, o corpo pode criar a pneumonia, num esforço heróico para se purificar. Isso requer ainda mais energia do que no processo de febre. É quando nos sentimos muito debilitados e a respiração fica difícil. Quando temos pneumonia, tomamos penicilina.

Isso faz parar a expulsão do muco e enfraquecer o corpo. Por muito tempo não vai haver desintoxicação, apenas fracas tentativas, como pequenos resfriados de vez em quando.

O corpo continua a estocar o excesso de muco nos pulmões até restar apenas 1/3 disponível, e a essa altura os pulmões dizem: “É demais. Preciso desse 1/3 para continuar respirando. Não posso viver com menos oxigênio do que isso. Como um recurso, o corpo começa a se utilizar de uma camada embaixo da pele, primeiro desenvolvendo uma irritação ou fazendo a pele ficar áspera. Depois, quando andamos, mesmo por pouco tempo, começamos a suar e o muco começa a sair através dos poros. Esse muco é ácido e causa uma irritação. Se você coloca umas gotas de limão na sua pele e esfrega, ela fica irritada e coça. Quando o muco ácido sai através dos poros, sentimos essa mesma sensação. Chamamos isso de alergia.

Por que a alergia acontece?  Porque temos uma grande quantidade de toxinas no nosso corpo. As pessoas dizem: "isso acontece quando como frutas ácidas”. Os cítricos apenas dissolvem as toxinas, fazendo elas passarem através da pele com mais rapidez. Sem dúvida, isso é bom para nós. Significa, na verdade, que temos uma quantidade enorme de toxinas e que precisamos eliminá-las.

Algumas vezes acumulamos tanto muco que desenvolvemos uma condição de respiração forçada, com dispnéia, que chamamos de asma. Não podemos respirar. Não temos oxigênio suficiente e fica difícil respirar porque estamos cheios de secreção.

Há ainda um pequeno espaço entre os ossos do seio da face e a testa. O muco estocado aí, perto do cérebro, causa dor de cabeça. É a chamada sinusite. Essa frequente congestão pode causar até tumores.  Aquele espaço não foi destinado a ser preenchido.

Podemos verificar quanto muco temos acumulado quando, por exemplo, damos uma corrida em volta do quarteirão. Normalmente o nariz começa a escorrer. Quanto maior a quantidade de muco, mais secreção é expelida pelo nariz. 

Da mesma forma, se você puder correr respirando apenas pelo nariz, pode dizer que seus pulmões estão limpos. Você já notou que os corredores de maratonas têm que cuspir quando estão participando de corridas? Eles comem sua comida cozida, com grandes quantidades de calorias, como arroz e purê de batatas, que são alimentos que formam muco, e pensam que estão fazendo uma dieta adequada. Conheço muitos crudívoros que correm e nunca têm problema de secreção. Eles não precisam cuspir e podem respirar pelo nariz. Eles têm oxigênio bastante para correr e ainda conversar ao mesmo tempo. Seus pulmões estão limpos.

Nosso corpo adora se purificar quando corremos. Somos animais destinados a pelo menos andar. Por isso é que temos uma quantidade limitada de depósitos de muco. Fomos criados para nos mover. Nós temos esse mecanismo. Quando estamos nos movendo e sacudindo, os pulmões começam a bombear e deslocar o muco para ser excretado.

Porém, se não corremos e raramente fazemos caminhadas, como podemos esperar que o muco seja deslocado? Em vez de ajudar o corpo na eliminação, interrompemos seu esforço e tomamos aspirina, quando temos coriza ou febre.

O corpo tem que estar preparado para receber a febre. Quando somos capazes de produzir realmente uma boa febre, devemos celebrar! Fique contente. O corpo se dedica a fazer de você uma pessoa saudável. Quando tiver febre, faça a sua parte apenas ficando sem comer. O apetite desaparece porque o corpo precisa desse tempo para se purificar; e volta naturalmente no tempo certo.

Quando eu era criança e tinha febre, nunca queria comer. Minha mãe sempre me dava leite quente e outras coisas que eu rejeitava. Lembro que quando eu tirava o cobertor, minha mãe dizia: "se cubra, você não pode tomar vento”. Minha mãe fazia o que ela achava que era o melhor para mim. Agora sabemos que o melhor a fazer é ouvir o nosso corpo. Você pode se cobrir se sentir frio ou abrir as janelas se sentir calor. Faça o que seu corpo tem vontade. Ele é claro com relação ao que quer. 

Para ajudar o corpo no seu trabalho, você pode fazer compressas, alternar banhos frios e quentes, deitar numa banheira.

Todos nós temos toxinas no corpo. Desintoxicar é o esforço que o corpo faz para se livrar das toxinas. Desintoxicar é imprescindível para nos tornarmos saudáveis. 

Leia a Parte 2: Quais são os principais sintomas de desintoxicação?


* Texto extraído do livro Os 12 passos do crudivorismo - Victoria Boutenko - editora Alaúde.


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