Jill Fullerton-Smith *
As preferências alimentares são uma questão de gosto!
A hora das refeições pode ser um campo de batalha para os pais. Mesmo que você tenha instruído seus filhos quanto aos efeitos de uma alimentação saudável ao longo da vida, em muitos casos as papilas gustativas, a pressão dos colegas ou simplesmente a preferência pessoal acabam vencendo a batalha.
Imagine a cena: "Então, crianças, vocês vão querer hortaliças picadinhas com um molho gostoso ou batata frita com ketchup?" Jamais faça isso, pois sua derrota será óbvia.
O desafio: As crianças em geral comem menos de duas porções de frutas e hortaliças/dia, mas os especialistas recomendam cinco porções diárias.
Uma solução prática: essa é uma vantagem dos sucos desintoxicantes e leites de sementes, onde estas 5 porções são facilmente implementadas.
Bem, fora esta sugestão dos sucos verdes e leites de sementes, uma boa notícia: você pode influenciar as preferências alimentares dos seus filhos - mesmo antes deles nascerem. E, depois que já estiverem crescidos? Aí terá que recorrer a um pouco de psicologia.
Gosto não se discute
Junto com a visão, o paladar e o olfato são os guardiões de nosso sistema digestivo. Podem salvar nossa vida. Por exemplo, os alimentos doces normalmente são fontes "inofensivas" de energia, enquanto os alimentos com sabor amargo podem ser venenosos. Não é bem assim, pois o açúcar mata. Infelizmente, muitas hortaliças estimulam nossos sensores do sabor amargo, e esta é uma das razões pelas quais as crianças não as apreciam.
Ao nascermos, temos em média dez mil papilas gustativas. Aos oitenta anos de idade, restam-nos apenas três mil. No entanto, cerca 30% das pessoas são "superdegustadoras" - nascem com três vezes mais papilas gustativas do que as outras pessoas. Os superdegustadores são mais propensos a não gostar de sabores fortes ou desconhecidos. A boa nova é que até mesmo as crianças que são superdegustadoras podem superar o preconceito de seu organismo contra determinados alimentos.
Muitos outros fatores podem moldar as preferências de gosto das crianças. Talvez até mais importante: elas são influenciadas pelos hábitos alimentares da família e pelos sabores aos quais são expostas quando bem pequenas. Talvez seja por isso que as pessoas criadas em uma família asiática, por exemplo, tendem a desenvolver um certo gosto por comidas picantes. Os pais podem explorar isso desde cedo, moldando o paladar dos filhos ao lhes apresentar, desde cedo, alimentos variados e estimulando-os a experimentar coisas novas. Além disso, quando vão para a escola, as crianças começam a se misturar com outras, que possuem diferentes preferências alimentares - outra oportunidade para se exporem a novos sabores.
No entanto, o treinamento das papilas gustativas na verdade começa no útero materno.
Uma provinha do que vem por aí
É um choque sair do útero quentinho e seguro para entrar no mundo frio e assustador. As pesquisas mostram que as lembranças do útero podem ser importantes para confortar os recém-nascidos. Talvez o melhor exemplo disso seja um estudo realizado em 1987 por Peter Hepper, da Queen's University, em Belfast. Hepper descobriu que alguns bebês se acalmavam sempre que ouviam o tema da novela de televisão Neighbours. Os únicos bebês que reagiram assim eram aqueles cujas mães assistiam regularmente à novela durante a gravidez. Da mesma maneira, os bebês vivenciam determinados cheiros e sabores ainda no útero, o que também lhes pode ser reconfortante no mundo externo.
Suspenso em líquido amniótico, o feto em desenvolvimento entra em contato com substâncias químicas que vazam do organismo da mãe para este líquido que o cerca. Seus sentidos de paladar e olfato, embora ainda não estejam totalmente desenvolvidos, podem detectar parte destas substâncias. Por volta das 12 semanas de gravidez, o feto chega a engolir o liquido amniótico. E diversos experimentos não apenas confirmaram que os sabores dos alimentos se difundem no líquido como também sugerem que muitos destes sabores podem influenciar as futuras escolhas alimentares do bebê.
Em 1995, Peter Hepper testou a reação de bebês com apenas 20 horas de vida, ao cheiro de alho. Metade das mães do experimento havia comido alho pelo menos 4 vezes/semana nos últimos meses de gravidez, enquanto a outra metade não comera alho algum. Os bebês cujas mães não haviam comido alho viraram o rosto quando expostos ao cheiro, enquanto os outros não se importaram.
Outro estudo realizado na França usou uma bebida aromatizada com erva-doce, em lugar do alho, com resultados muito semelhantes.
Se o sabor dos alimentos pode chegar ao bebê ainda no útero e influenciar suas preferências alimentares, o que acontece depois que o bebê nasce? Quando a mãe está amamentando, os alimentos que ela ingere podem afetar o leite materno ou o fato do bebê gostar ou não de determinados sabores? Em 2001, Julie Mennella e suas colegas do Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, Pensilvânia, realizaram um estudo fascinante que demonstrou claramente que a resposta para esta pergunta é sim.
A equipe recrutou algumas gestantes e as dividiu aleatoriamente em três grupos. Um terço das mães bebeu regularmente suco de cenoura apenas durante a gravidez; um segundo grupo bebeu suco de cenoura regularmente durante os meses em que estava amamentando, e o terceiro grupo não bebeu suco de cenoura. Quando alimentos sólidos foram introduzidos na alimentação do bebê, deram-lhes cereal com sabor de cenoura para que experimentassem. Os bebês que haviam experimentado o sabor do suco de cenoura no útero e durante o aleitamento materno aceitaram muito melhor o cereal do que os que não haviam.
Qual a mensagem para os pais que se preocupam com a alimentação dos filhos? Ingerindo hortaliças e outros alimentos saudáveis durante a gravidez, as gestantes podem proporcionar ao bebê, ainda no útero, um pontapé inicial para o desenvolvimento de bons hábitos alimentares. E, durante a amamentação, o processo pode continuar.
Novos hábitos
Se os seus filhos não são mais bebês, adoram comida de lanchonete e odeiam brócolis, não se preocupe: nem tudo está perdido. Sempre existem maneiras de fazê-los provar alimentos saudáveis sem forçá-los, nem levantar o tom de voz. É tudo uma questão de psicologia.
Muitas crianças são "neofóbicas" - têm medo de coisas novas. No que diz respeito à comida, isso pode ser um grande problema. Praticamente todas as crianças possuem tendências neofóbicas. Lutar contra esta inclinação não é a idéia mais acertada. Todos nós sabemos que se dissermos uma coisa a uma criança, ela fará exatamente o oposto. Quanto mais você lhe disser que uma coisa não lhe faz bem, ou que precisa comer uma coisa porque é saudável, menor a probabilidade dela fazer o que você diz. É preciso lançar mão de abordagens mais sutis - afinal, é para o bem delas.
A aceitação de novos sabores pela criança aumentará se ela perceber as pessoas ao seu redor saboreando-os. Como pai ou mãe, você pode ser um importante modelo alimentar. Em outras palavras, ela precisa ver que você está comendo alimentos saudáveis com gosto. Mas o efeito será mais forte se o exemplo vier de outras pessoas da mesma idade. Todos sabemos que as crianças adquirem com muita facilidade os maus hábitos de amigos de sua mesma faixa etária. No entanto, exemplos positivos também funcionam, e não devem vir apenas de outras famílias, mas também dos irmãos e irmãs. Alguns pesquisadores conseguiram mudar a alimentação de crianças dessa forma.
Outra estratégia comprovada consiste em introduzir alimentos novos e saudáveis aos poucos. Das primeiras vezes que você servir brócolis ao seu filho, simplesmente estimule-o a cheirá-lo e brincar um pouco com ele no prato. Quando não estão sob pressão, as crianças têm mais probabilidade de desenvolver uma certa curiosidade sobre o sabor do brócolis (principalmente quando vêem as pessoas que o cercam colocá-lo no próprio prato e saboreá-lo com prazer). As pesquisas mostram que podem ser necessárias 7 a 8 exposições para que a criança aceite um alimento novo. Introduza o alimento em pequenas quantidades, talvez deixando passar alguns dias entre uma apresentação e outra. Dá trabalho, mas vale a pena.
O teste científico
Há esperança para pais frustrados, com filhos que não comem de tudo: os estudos mostram que é possível influenciar as preferências alimentares das crianças. Queríamos ver esses efeitos com nossos próprios olhos. Fomos a uma escola londrina para ver se conseguíamos fazer crianças de 6-7 anos começarem a gostar de hortaliças.
Enviamos um grupo de atores-mirins à escola - todos ligeiramente mais velhos do que as crianças da turma que escolhemos. Os visitantes já haviam aparecido em programas de televisão e fotografado para anúncios. Depois de uma palestra na turma sobre as interessantes experiências que tiveram durante as filmagens e sessões de fotos, os visitantes se juntaram à turma na hora do almoço. O cardápio era frango, salsicha, purê de batata, ervilha, cenoura e brócolis. Pedimos aos atores-mirins para colocar no prato bastante brócolis e falar a respeito do alimento com o maior entusiasmo. Cuidadosamente observadas pelas nossas câmeras ocultas, crianças que antes torciam o nariz para o brócolis, logo estavam cheirando a hortaliça, colocando-a no prato e demonstrando interesse. Algumas, felizes da vida, provaram e gostaram.
Você não vai conseguir levar um astro de cinema até sua casa para estimular seus filhos a comerem brócolis, mas o experimento mostra que as preferências alimentares das crianças não são inflexíveis. E você mesmo pode servir de modelo - se gostar de brócolis, é claro.
DICAS - Como fazer seus filhos provarem novos alimentos
1. Use recompensas que não estejam associadas à comida. Oferecer um pedaço de pudim para quem comer a salada reforça a idéia de que as hortaliças são desagradáveis e devem ser ingeridas por obrigação, não por prazer. Tente oferecer recompensas que não sejam comida por se alimentarem e se comportarem bem. O velho método da tabela de estrelinhas pode motivar as crianças. Depois de receber determinado número de estrelinhas, a criança pode ganhar um brinquedo, uma ida ao parque preferido ou ao cinema.
2. Continue oferecendo novos alimentos, repetidas vezes: é muito comum uma criança desconfiar de um novo alimento. A rejeição é quase que automática. Os pais acabam desistindo depois de algumas recusas. Por fim, a lista de alimentos rejeitados acaba cada vez maior, enquanto a lista de aceitação fica reduzida a um pesadelo nutricional. Os estudos mostram também que as crianças são influenciadas pelos pais, colegas e as pessoas que cuidam delas. Assim, prepare seu prato com alimentos que gostaria que seus filhos comessem. Mantenha a calma ao oferecer repetidamente o mesmo alimento. Se a criança o rejeitar, tire-o do prato sem dizer nada, espere uma semana e volte a tentar.
* Texto extraído do livro A verdade sobre a comida - Jill Fullerton-Smith - editora Intrínseca
Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações, citada a autora e a fonte www.docelimao.com.br
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