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Domesticação e o Sonho do Planeta
Os seres humanos não estão sonhando o tempo todo. Antes que nascêssemos, os que existiram anteriormente a nós criaram um grande sonho externo que denominamos sonho da sociedade ou sonho do planeta. O sonho do planeta é um sonho coletivo de bilhões de sonhos pessoais menores, que, juntos, formam o sonho da família, o sonho da comunidade, o sonho de uma cidade, o sonho de um país, e, finalmente, o sonho de toda a humanidade. O sonho do planeta inclui todas as regras da sociedade, suas crenças, suas leis, suas religiões, suas diferentes culturas e formas de ser, seus governantes, escolas, eventos sociais e feriados.
Nascemos com a capacidade de aprender como sonhar, e os seres humanos que viveram antes de nós nos ensinaram a sonhar da forma que a sociedade sonha. O sonho exterior possui tantas regras que, quando um novo ser humano nasce, captamos a atenção da criança e apresentamos as regras à mente dela. O sonho exterior usa Papai e Mamãe, as escolas e a religião para nos ensinar a sonhar.
A atenção é a capacidade que possuímos de discriminar e nos focalizar apenas no que desejamos perceber. Podemos perceber milhões de coisas ao mesmo tempo, mas, usando nossa atenção, podemos segurar qualquer delas no primeiro plano de nossa mente. Os adultos ao redor de nós capturaram nossa atenção e colocaram informações em nossas mentes mediante a repetição. Essa é a forma pela qual aprendemos tudo o que sabemos.
Utilizando nossa atenção, aprendemos uma realidade inteira, um sonho inteiro. Aprendemos como nos comportar em sociedade, em que acreditar e em que não acreditar, o que é bom e o que é mau, o que é bonito e o que é feio, o que é certo e o que é errado. Tudo já estava lá – todo esse conhecimento, todas as regras e conceitos sobre como comportar-se no mundo.
Quando você estava na escola, sentava-se numa cadeira pequena e colocava sua atenção no que o professor estava ensinando. Quando você ia à igreja, colocava sua atenção naquilo que o padre ou o pastor dizia. É a mesma dinâmica com pais e mães, irmãos e irmãs: todos tentam capturar as atenções de outros seres humanos e desenvolvemos certa necessidade de atenção que pode se tornar extremamente competitiva. As crianças competem para ter atenção dos pais, dos professores, dos amigos. “Olhe para mim! Veja o que estou fazendo! Ei, estou aqui.” A necessidade de atenção se torna muito forte e continua pela vida adulta.
O sonho exterior captura nossa atenção e nos ensina em que acreditar, começando com a linguagem que utilizamos. A linguagem é o código para o entendimento e a comunicação entre os seres humanos. Cada letra, cada palavra em cada linguagem é um acordo. Chamamos a isso de página de um livro; a palavra página é um acordo que entendemos.
Uma vez que se compreenda o código, nossa atenção é capturada e a energia é transferida de uma pessoa para outra.
Não foi sua escolha falar português. Você não escolheu sua religião e valores morais – eles já existiam antes de você nascer. Nunca tivemos a oportunidade de escolher em que acreditar ou não acreditar. |Nunca escolhemos nem ao menos o menor desses acordos. Não escolhemos ao menos nosso próprio nome.
Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas concordamos com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos. A única maneira de armazenar informações é por acordo. O sonho exterior pode captar nossa atenção, mas se não concordamos, não armazenamos essa informação. Assim que concordamos, acreditamos, e isso é chamado de fé. Ter fé é acreditar incondicionalmente.
Foi assim que aprendemos quando crianças. Crianças acreditam em tudo o que os adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que o sistema de fé controla todo o nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças, e poderíamos nos ter rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para realizar essa rebelião. O resultado é ceder às crenças com nosso consentimento.
Chamo esse processo de a domesticação dos seres humanos.
E por intermédio dessa domesticação aprendemos como viver e como sonhar. Na domesticação de seres humanos, a informação do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe, papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e na televisão, nos dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma “mulher” e o que é um “homem”. Também aprendemos a julgar: julgamos a nós mesmos, julgamos as outras pessoas, julgamos os vizinhos.
As crianças são domesticadas da mesma forma que domesticamos um cão, um gato ou qualquer outro animal. Para ensinar um cachorro precisamos punir e dar recompensas a ele. Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos e recompensas. Dizem-nos: “Você é um bom menino” ou “Você é uma boa menina” quando fazemos o que mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não acontece, somos “meninos maus” ou “meninas más”.
Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos puniram; quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos castigados muitas vezes por dia. Logo ficamos com receio de sofrer o castigo e também com receio de não ganharmos a recompensa. A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos pais, ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo desenvolvemos necessidade de captar a atenção de outras pessoas para conseguir a recompensa.
A recompensa provoca uma sensação boa, e continuamos fazendo o que os outros querem que a gente faça para obter a recompensa. Com medo de ser punidos e medo de não ganhar a recompensa, começamos a fingir ser o que não somos apenas para agradar aos outros, só para ser suficientemente bons para outras pessoas. Tentamos agradar a mamãe e papai, tentamos agradar aos professores na escola, tentamos agradar à Igreja, e com isso começamos a representar. Fingimos ser o que não somos porque temos medo de ser rejeitados. O medo de sermos rejeitados torna-se o medo de não sermos suficientemente bons. Mais tarde, acabamos por nos tornar alguém que não somos. Tornamo-nos cópias das crenças de mamãe, das crenças de papai, das crenças da sociedade e das crenças religiosas.
Toas as nossas tendências normais são perdidas no processo da domesticação. E quando somos grandes o suficiente para que nossa mente compreenda, aprendemos a palavra não. Os adultos dizem “Não faça isso, não faça aquilo”. Nós nos rebelamos e dizemos “Não!”. Rebelamo-nos porque estamos defendendo nossa liberdade. Queremos ser nós mesmos, mas somos pouco, e os adultos são grandes e fortes. Depois de um certo tempo, ficamos com medo porque sabemos que todas as vezes em que fizermos algo errado, seremos castigados.
A domesticação é tão forte que num ponto determinado de nossa vida não precisamos mais que ninguém nos domestique. Não precisamos da mamãe ou do papai, da escola ou da Igreja para nos domesticar. Somos tão bem treinados que passamos a ser nosso próprio treinador. Somos um animal auto-domesticado. Agora podemos domesticar a nós mesmos de acordo com a mesma crença no sistema que nos forneceram, usando as mesmas técnicas de punição e recompensa. Punimos a nós mesmos quando não seguimos as regras de acordo com nosso sistema de crenças; recompensamos a nós mesmos quando somos “bonzinhos” ou “boazinhas”.
O sistema de crenças é como o Livro da Lei que regula nossa mente. Sem questionar, o que estiver escrito no Livro da lei é nossa verdade. Baseamos todos os nossos julgamentos segundo o Livro da lei, mesmo que esses julgamentos e opiniões venham contra nossa própria natureza.
Mesmo leis morais como os Dez Mandamentos são programadas em nossas mentes no processo de domesticação. Um a um, todos esses compromissos regem nosso sonho.
Existe algo em nossa mente que julga a tudo e a todos, incluindo o tempo, o cão, o gato ... tudo. O Juiz interno usa o que está escrito no Livro da lei para julgar o que fazemos e o que não fazemos, o que pensamos e o que deixamos de pensar, mais tudo o que sentimos e deixamos de sentir.
Tudo vive sob a tirania desse Juiz. Todas as vezes que fazemos alguma coisa que vai contra o Livro da lei, o Juiz diz que somos culpados, que precisamos ser punidos e que deveríamos nos envergonhar. Isso acontece muitas vezes por dia, dia após dia, ao longo de todos os anos em que vivermos.
Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos, e essa parte chama-se: a Vítima. A Vítima carrega a culpa, a responsabilidade e a vergonha. É a parte de nós que diz: “Coitado de mim, não sou bom o suficiente, não sou inteligente o suficiente, não sou atraente, não sou digno de amor, pobre de mim”. O grande Juiz concorda e diz: “Sim, você não é bom o suficiente”. E tudo isso é baseado num sistema de crenças que não chegamos a escolher. Essas crenças são tão fortes que mesmo anos mais tarde, depois que fomos expostos a novos conceitos e tentamos tomar nossas próprias decisões, descobrimos que essas crenças ainda controlam nossas vidas.
O que quer que vá contra o Livro da lei irá fazer você experimentar uma sensação estranha no plexo solar, que é chamada Medo. Quebrar as regras do Livro da Lei abre seus ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional. Porque tudo que está no Livro da lei tem de ser verdade, qualquer coisa que desafie aquilo em que você acredita irá produzir uma sensação de insegurança. Mesmo que o Livro da lei esteja errado, ele faz com que você se sinta inseguro.
É por isso que precisamos de um bocado de coragem para desafiar nossas próprias crenças. Ainda que saibamos não haver escolhido nenhuma dessas crenças, também é verdade que terminamos por concordar com todas elas. A concordância é tão forte que mesmo que a gente entenda o conceito de que não são nossas verdades, sentimos a culpa e a vergonha que ocorrem se formos contra essas regras.
Assim como o governo possui o Livro de Leis que regula o sonho da sociedade, o nosso sistema de crenças possui o Livro da Lei, que regulamente nosso sonho pessoal. Todas essas leis existem em nossa mente, acreditamos nelas, e o Juiz dentro de nós baseia tudo nessas regras. O Juiz decreta e a Vítima sofre a culpa e o castigo. Mas quem disse que existe justiça nesse sonho? A verdadeira justiça é pagar uma vez apenas por cada erro. A injustiça verdadeira é pagar mais de uma vez por cada erro.
Quantas vezes pagamos por um erro? A resposta é: milhares de vezes. O ser humano é o único animal na Terra que paga milhares de vezes pelo mesmo erro. O resto dos animais paga apenas uma vez pelo erro cometido. Não nós. Temos uma memória poderosa. Cometemos um erro, julgamos a nós mesmos, descobrimos que somos culpados e castigamos a nós mesmos. Se a justiça existe, então foi o suficiente; não precisamos nos castigar outra vez. Mas cada vez que lembramos, julgamos a nós mesmos outra vez, nos declaramos culpados outra vez e punimos a nós mesmos outra vez, e outra, e outra ainda. Se tivermos uma esposa ou marido, ela ou ele também ajudarão a lembrar de nosso erro, de forma que nos julgamos, condenamos e castigamos ainda outras vezes. É justo isso?
Quantas vezes fazemos nossos cônjuge, nossos filhos e nossos pais pagarem pelo mesmo erro? A cada vez que lembramos um erro, culpamos a eles novamente e enviamos todo o veneno emocional produzido pela injustiça, depois fazemos com que eles paguem outra vez pelo mesmo erro. Isso é justiça? O Juiz na mente está errado porque o sistema de crenças, o Livro da lei, está errado. Todo o sonho é baseado em leis falsas. Noventa e cinco por cento das crenças que temos armazenadas em nossas mentes não passam de mentiras, e sofremos porque acreditamos nessas mentiras.
No sonho do planeta, é normal que os seres humanos sofram, vivam com medo e criem dramas emocionais. O sonho exterior não é agradável; é um sonho violento, um sonho de medo, um sonho de guerra, um sonho de injustiça. O sonho pessoal dos seres humanos pode variar, mas de forma global, geralmente é um pesadelo. Se observarmos a sociedade humana, encontramos um lugar muito difícil de viver porque é regido pelo medo. Através do mundo, vemos os seres humanos a sofrer, sentir raiva, vingar-se,viciar-se e provocar violência nas ruas, gerando uma tremenda quantidade de injustiça. Pode existir em níveis diferentes em vários países ao redor do mundo, mas o medo controla nosso sonho exterior.
Se compararmos o sonho da sociedade humana com a descrição do inferno fornecida por quase todas as religiões do mundo, descobrimos que são a mesma coisa. As religiões dizem que o inferno é um local de punição, de medo, dor e sofrimento, um lugar onde o fogo queima a gente. O fogo é gerado por emoções que vêm do medo. Sempre que sentimos raiva, ciúme, inveja ou ódio, experimentamos um tipo de fogo queimando em nosso interior. Estamos vivendo um sonho do inferno.
Se você considera o inferno um estado de espírito, então ele se encontra ao nosso redor. Os outros podem nos prevenir de que não fizemos o que eles dizem que devemos fazer, iremos para o inferno. Más notícias! Já estamos no inferno, incluindo as pessoas que nos disseram isso. Nenhum ser humano pode condenar outro ao inferno porque já estamos nele. É verdade que outros podem nos colocar num inferno ainda mais profundo. Mas apenas se nós permitirmos que isso aconteça.
Cada ser humano possui o seu sonho pessoal, e assim como o sonho da sociedade, geralmente é regido pelo medo. Aprendemos a sonhar o inferno em nossa própria vida, em nosso sonho pessoal. Os mesmos medos se manifestam de formas diferentes para cada pessoa, claro, mas experimentamos a raiva, o ciúme, o ódio, a inveja e outras emoções negativas. Nosso sonho pessoal também pode se tornar um pesadelo constante, onde sofremos e vivemos em estado de medo. Porém, não temos necessidade de sonhar um pesadelo. É possível fabricar um sonho agradável.
Toda a humanidade busca a verdade, a justiça e a beleza. Estamos numa busca eterna pela verdade porque apenas acreditamos nas mentiras que possuímos armazenadas na mente. Estamos procurando justiça porque no sistema de crenças que adotamos não existe justiça. Procuramos pela beleza porque, não importa quão bela é uma pessoa, não acreditamos que essa pessoa tenha beleza. Continuamos procurando sem parar, quando tudo já está em nosso interior. Não existe verdade a encontrar. Sempre que voltamos nossas cabeças, o que vemos é a verdade, mas com os compromissos e crenças que temos na mente, não temos olhos para enxergar essa verdade.
Não enxergamos a verdade porque somos cegos. O que nos cega são as crenças falsas que temos em nossas mentes. Temos a necessidade de estar certos e de tornar os outros errados. Confiamos no que acreditamos, e nossas crenças nos predispõem ao sofrimento. É como se vivêssemos no meio de um nevoeiro que não permite enxergar um palmo além do nariz. Vivemos num nevoeiro que nem ao menos é real. Esse nevoeiro é um sonho, seu sonho pessoal da vida – aquilo em que você acredita, todos os conceitos que possui sobre quem você é, todos os compromissos que assumiu com os outros, com você mesmo e até com Deus.
Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote. Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo, e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana – um grande mitote, e com esse grande mitote você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia, eles chamam o mitote de maya, o que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “eu sou”. Tudo em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, rodos os conceitos e programas que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres.
Por isso, os seres humanos resistem à vida. Estar vivo é o maior medo que os homens possuem. A morte não é o maior medo que temos; nosso maior medo é assumir o risco de estar vivo – o risco de estar vivo e expressar o que somos na realidade. Simplesmente sermos nós mesmos é o maior medo dos seres humanos. Aprendemos a viver nossa vida tentando satisfazer as exigências de outras pessoas. Aprendemos a viver pelos pontos de vista de outras pessoas, por causa do medo de não sermos aceitos e de não sermos bons o suficiente para outras pessoas.
Durante o processo da domesticação, formamos uma imagem do que é a perfeição para tentarmos ser bons o suficiente. Criamos uma imagem de como devemos ser para sermos aceitos por todos. Especialmente tentamos agradar aos que nos amam, como mamãe e papai, irmãos e irmãs maiores, os sacerdotes e os professores. Tentando ser bons para eles, criamos uma imagem de perfeição, mas não nos encaixamos nessa imagem. Criamos essa imagem, mas essa imagem não é real. Nunca iremos ser perfeitos sob esse ponto de vista. Nunca!
Não sendo perfeitos, rejeitamos a nós mesmos. E o nível de auto-rejeição depende de quão efetivos foram os adultos ao quebrarem nossa integridade. Depois da domesticação, não se trata mais de sermos bons o suficiente para outras pessoas. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos perfeitos.
Sabemos que não somos quem deveríamos ser e, portanto, nos sentimos falsos, frustrados e desonestos. Tentamos nos esconder de nós mesmos, e fingimos ser quem não somos. O resultado é que nos sentimos autênticos e usamos máscaras sociais para evitar que os outros percebam isso. Temos medo de que alguém mais repare que não somos quem pretendemos ser. Julgamos igualmente os outros de acordo com nossa imagem de perfeição, e, naturalmente, eles não correspondem às nossas expectativas.
Desonramos a nós mesmos só para agradar a outras pessoas. Chegamos a fazer mal ao nosso corpo físico apenas para ser aceitos pelos outros. Você vê adolescentes tomando drogas apenas para evitar serem rejeitados por outros adolescentes. Eles não sabem que o problema é não aceitar a si mesmos. Rejeitam a si mesmos porque não são o que fingem ser. Desejam ser de uma certa forma, mas não são, e por isso carregam a vergonha e a culpa. Os seres humanos punem a si mesmos interminavelmente por não serem quem acreditam que devem ser. Tornam-se auto-destrutivos, e usam também outras pessoas para fazerem mal a si mesmos.
Mas ninguém nos pode fazer mal com tanta eficiência quanto nós mesmos, e o Juiz, a Vítima e o sonho social são responsáveis por isso. É verdade, encontramos pessoas que dizem que o marido ou a esposa, mãe ou pai as fazem sofrer, mas você sabe que nos prejudicamos muito mais do que isso. A forma como julgamos a nós mesmos é o pior juiz que jamais existiu. Se cometermos um erro na frente de outras pessoas, tentamos negar o erro e encobrir tudo. Assim que ficamos sozinhos, entretanto, o Juiz se torna forte, e a sensação de culpa assume proporções enormes; sentimo-nos estúpidos, ou maus, ou indignos.
Durante toda a sua vida ninguém fez você sofrer mais do que você mesmo. E o limite desse auto-sofrimento é exatamente o limite que você irá tolerar nos outros. Se alguém faz você sofrer um pouco mais do que você mesmo, provavelmente você se afastará dessa pessoa. Mas se alguém faz você sofrer menos do que você costuma fazer, você com certeza irá permanecer no relacionamento e tolera-lo infindavelmente.
Se você se impõe sofrimentos grandes demais, pode até tolerar alguém que bate em você, humilha-o e o trata como sujeira. Por quê? Porque em seu sistema de crenças você diz: “Eu mereço. Essa pessoa está me fazendo um favor por estar comigo. Não sou digno de amor e respeito. Não sou bom o suficiente”.
Temos necessidade de ser aceitos e de ser amados por outros, mas não podemos aceitar e amar a nós mesmos. Quanto mais gostamos de nós mesmos, menos iremos experimentar o auto-sofrimento. O auto-sofrimento vem da auto-rejeição, e a auto-rejeição vem de ter uma imagem sobre o que significa ser perfeito e não atingir nunca esse ideal. Nossa imagem de perfeição é o motivo pelo qual rejeitamos a nós mesmos; é por isso que não aceitamos a nós mesmos da maneira que somos e não aceitamos os outros da forma que são.
PRELÚDIO DE UM NOVO SONHO
Existem centenas de compromissos que você firmou consigo mesmo, com as outras pessoas, com seu sonho de vida, com Deus, com a sociedade, com seus pais, com seu cônjuge, com seus filhos. Contudo, os compromissos mais importantes são os que você fez consigo mesmo. Nesses compromissos você diz a si mesmo quem você é, como se sente, no que acredita e como se comportar. O resultado é o que você chama de sua personalidade. Nesses compromissos você diz: !Isso é o que sou. Isso é aquilo em que eu acredito. Posso fazer certas coisas e outras coisas, não. Essa é a realidade, aquela é a fantasia; isso é possível, aquilo é impossível”.
Um único compromisso não representa tanto problema, porém temos muitos compromissos que nos fazem sofrer, que nos fazem fracassar na vida. Se você quer viver uma vida de alegria e realização, é preciso encontrar a coragem de quebrar esses compromissos baseados no medo e reclamar seu poder pessoal. Os compromissos que vêm do medo exigem que gastemos um bocado de energia, mas os compromissos que derivam do amor nos ajudam a conservar energia e ainda ganhar energia extra.
Cada um de nós nasce com uma determinada quantidade de poder pessoal, que podemos reconstruir a cada dia depois que descansarmos. Infelizmente gastamos todo o nosso poder pessoal em primeiro lugar para criar esses compromissos, e depois para mantê-los. Nosso poder pessoal é dissipado por todos os compromissos que criamos, e o resultado é que nos sentimos sem poder. Temos poder suficiente para sobreviver a cada dia, porque a maior parte é usada para manter os compromissos que nos atrelam ao sonho do planeta. Como podemos mudar o sonho de nossa vida quando não temos poder para mudar nem sequer o menor compromisso?
Se conseguirmos perceber que são os compromissos que nos regulam a vida, e não gostamos do sonho de nossa vida, precisamos alterar os compromissos. Quando, finalmente, estivermos prontos para mudar esses compromissos, existem quatro acordos poderosos que nos ajudarão a quebrar aqueles acordos que vêm do medo e drenam nossa energia.
A cada vez que se quebra um acordo, todo o poder que você usou para criá-lo retorna para você. Se você adotar esses quatro novos acordos, eles irão criar poder pessoal suficiente para alterar todo o seu sistema antigo de compromissos.
Você precisa de muita força de vontade para adotar os Quatro Compromissos – mas se você conseguir começar a viver sua vida com esses compromissos, a transformação em sua vida será impressionante. Você verá o inferno desaparecer perante seus olhos. Ao invés de viver um sonho de inferno, você estará criando um novo sonho – seu sonho pessoal do CÉU.
* Texto extraído do FANTÁSTICO livro OS QUATRO COMPROMISSOS - Don Miguel Ruiz – Ed. Best Seller – Quarta edição. Confira em Livros indicados
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