Alimentação
Alimentos refinados e nossas crianças
Ralph Bircher *
Trata-se de experiências realizadas pelo Dr. A. Katase, diretor do Instituto de Patologia da Faculdade de Medicina de Osaka e publicadas em 1934 com o nome de "Influência da alimentação sobre o organismo".
É difícil acreditar que uma obra como esta, com as conclusões de estados feitos durante mais de 10 anos por um proeminente pesquisador e seus 40 assistentes - e que trouxe resultados decisivos para a alimentação - foi simplesmente deixada de lado pelo mundo científico.
As experiências de Katase e seus assistentes tratam dos efeitos dos sais minerais básicos (cálcio, sódio, potássio, magnésio, etc.). Eles comprovaram que estes sais minerais, fornecidos constantememe ao organismo em quantidades e proporções determinadas, exercem forte influência sobre as funções do fígado. Com o tempo, provocam mudanças nos tecidos e nos órgãos que podem ser vistas com o microscópio e até a olho nu. São alterações que ocorrem principalmente no sangue (na formação das plaquetas, na coagulação, etc.); na função da musculatura do intestino; no metabolismo da lecitina e do colesterol (levando à arteriosclerose); na defesa contra bactérias e venenos; no crescimento e atrofia dos ossos e na formação de tumores.
Os sais minerais acima mencionados estão presentes em toda a alimentação, mas é necessário que haja um equilíbrio, uma correlação, uma proporção certa entre eles e também com todos os outros nutrientes. O cálcio, o sódio, o magnésio e o potássio foram analisados mais profundamente, mas outros sais minerais também estão em jogo. O essencial é a conclusão final, indicando que o equilíbrio apropriado nunca poderá ser obtido com uma alimentação composta predominantemente de carne, farinha branca e açúcar. Tal alimentação conduz a um processo lento de deterioração das funções vitais, que no início não é visível mas leva, finalmente, à alteração patológica dos tecidos e órgãos.
A carne consumida pelo homem é principalmente a carne dos músculos. Nela falta cálcio, sódio, cloro e potássio. A falta de sódio e cloro é compensada, geralmente, pelo sal de cozinha em excesso. A falta de cálcio e potássio permanece e é agravada pelo consumo de açúcar, pão branco e demais farináceos. Os alimentos ricos em cálcio são o leite, as hortaliças verdes e as frutas. Entretanto, o leite fervido perde uma parte do cálcio e as pessoas comem poucas hortaliças verdes. Desta forma, a falta de cálcio é uma característica da alimentação da civilização moderna. Que isto é verdade pode ser visto no enfraquecimento dos ossos e dos dentes, mesmo quando a alimentação é suplementada com leite e produtos farmacêuticos à base de cálcio. Uma população com bom equilíbrio de sais minerais tem esqueleto resistente mesmo ingerindo pouco cálcio. Segundo Katase, a ilusão de que a carne é um alimento de alto valor nutritivo dificulta seriamente a introdução de uma alimentação equilibrada.
A seguir, o Dr. Katase dedicou-se ao efeito do açúcar, da gordura e das proteínas. Como agem estes alimentos sobre um organismo em crescimento, quando são ingeridos regularmente e em excesso, através de produtos industrializados?Essa foi a pergunta.
Como muitos outros observadores, Katase havia percebido que a criança que come muitos doces e bolos apresenta uma "fraqueza corporal".Isto foi para ele motivo para pesquisar cuidadosamente a ingestão de açúcar em animais jovens (coelhos, cobaias, pombos e cães). A quantidade de açúcar ingerida diariamente pelos animais correspondia à quantidade diária de 40 a 60 g para uma criança de 20 a 30 quilos.
Após 146 dias, esta quantidade de açúcar levou a uma modificação patológica grave de todo o sistema ósseo. A substância óssea tornou-se tão mole que podia ser cortada facilmente com uma faca. Ocorreram fraturas espontâneas. O microscópio mostrou que os ossos haviam se tornado porosos porque o açúcar havia "roubado" o cálcio durante a digestão. Ocorreu um verdadeiro amolecimento dos ossos, que ficaram deformados e quebradiços.
"A causa desse problema, escreveu Katase, está na acidose (acidez) do sangue provocada pela ingestão de açúcar. As mesmas alterações nos ossos são provocadas por ácido clorídrico, e não adianta adicionar simultaneamente sais alcalinos". Além das doenças ósseas, ele também encontrou um aumento patológico da paratireóide que, como se sabe, regula o metabolismno do cálcio. Nos ossos e na sua película, observou "muitos sinais de atividade celular aumentada, como esforço para deter o avanço de um dano crescente".
O resultado estranho desta alimentação desequilibrada é o prolongamento dos ossos tubulares, acompanhado, como já foi dito, por outras alterações na formação do esqueleto. As experiências mostraram que a acidose era provocada pela alimentação - principalmente quando rica em carne. Os pesquisadores reconheceram, desta forma, uma constituição que chamaram de "constituição ácida": o homem alto, de peito estreito, que hoje tem aumentado tanto.
Em outras experiências, o Dr. Katase e seus assistentes determinaram com que quantidade de açúcar começam a aparecer doenças nos ossos. "Se a tolerância do ser humano for igual a dos coelhos", escreveu Katase, "uma quantidade de 6 gde açúcar ainda não causa prejuízos em uma criança de 5 a 6 anos, que pesa aproximadamente 20 quilos. Mas, as crianças de hoje (1934), que recebem diariamente muito mais do que essa quantidade de açúcar, são, em sua maioria, enfraquecidas e agitadas, principalmente nas grandes cidades. Este fato importante é produto da civilização".
Como o amido no organismo se transforma em açúcar, Katase pesquisou se a ingestão de amido também provoca acidose no sangue, afetando os ossos. As pesquisas não indicaram efeitos nocivos sobre o sistema ósseo, já que a formação de açúcar por amido é tão lenta que não aparece a acidose no sangue. Na ingestão de açúcar puro, a absorção do açúcar é tão rápida que ultrapassa o limite natural e inofensivo. Esta diferença entre amido e açúcar no efeito da alimentação não era conhecida no mundo científico.
Somente 25 anos mais tarde o açúcar voltou a ser estudado por pesquisadores como causa do enfraquecimento dos ossos e fator de aterosclerose.
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* O Dr. Ralph Bircher, filho do famoso médico suíço Dr. Max Bircher-Benner, publicou este artigo no livro "Geheimarchiv der Emiltirungsleltre" (arquivo secreto da ciência alimentar).
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