Live: Desafios da cultura agroecológica do abacate e avocado

Entrevistei e fizemos uma live com Ana Clara Rocha. Incluso, ela faz parte do meu livro AMO ABACATE desde a primeira edição.

Ana é Engenheira Agrônoma formada pela ESALQ USP, de Piracicaba/SP, e tem o sítio AmoreBio em implantação com algumas culturas, que não é um sistema agroflorestal, e sim um manejo orgânico consorciado do abacate com a banana. São cerca de 200 plantas (variedade Avocado ou Hass) em 2 hectares. Além disso, produz-se também macadâmia e pitaia, que aos poucos são inseridos no mercado. As bananeiras já estão produzindo e os abacateiros ainda são plantas jovens, em fase vegetativa. Mas desde 2019 acontecem colheitas, com a expectativa inicial de 60 a 80 kg de Hass/ano.

A produção não é certificada, mas é orgânica e biodinâmica: “Eu me importo muito mais com a entrega de um produto íntegro, gosto da ideia de alimentos autênticos e o contato direto entre quem produz e quem consome. Gosto do conceito ‘desembalar menos e descascar mais’”.

Ana entende que a produção orgânica é um caminho que está se expandindo e se difundindo muito. E afirma: “É fundamental retomar os laços entre uma produção autêntica do alimento e o entendimento pleno do consumidor de que aquele alimento, que ele está comprando e consumindo, não é um alimento qualquer”.

Nesta live vamos saber mais sobre as sofrências e avanços do agricultor, o que é muito importante pois nos torna mais cúmplices como consumidor.

Então, considero muito importante assistir à esta live que realizamos com a Ana em 20.04.2023.


O sítio em Corumbataí/SP

É uma história complicada, porque o pequeno produtor sempre tem que abraçar tudo na cadeia, desde planejamento, plantio, manejo até comercialização, pós-colheita e tudo mais. E isso já é uma missão árdua, porque tem que ser muito multitarefa e fazer de tudo um pouco. Muitas vezes esse fazer de tudo um pouco, acaba por não fazer bem feito nada.

Por alguns anos, de 2014 a 2019, o sítio prosperou muito, e vimos que existe o potencial de altas produtividades, com produção muito boa do avocado consorciado com bananas. Tem um pé ou outro de outro tipo de abacate para fazer polinização, que é aquele esquema que precisa cruzar com outras variedades para incrementar o potencial produtivo. E aí, minha perspectiva até aquele momento era de que estava produzindo muito bem, mas era realmente uma dificuldade fazer comercialização local, que era meu objetivo. Eu queria produzir de maneira agroecológica e queria vender perto, queria cadeias curtas, queria chegar no consumidor direto.

Essa pode ter sido uma das razões pelas quais eu senti essa dificuldade em me posicionar no mercado. Se eu tivesse simplesmente feito uma colheita que limpa o pé e depois largasse tudo num Ceasa, alguma coisa assim, o volume teria desovado, mas num preço muito menos competitivo e que muitas vezes, quando eu já recebi proposta, não era nem compatível com o custo de produção que estava tendo nas áreas.

E aí, acho que essa foi a primeira fase.

A fase atual é fazer o mínimo de custo possível na roça, para não ter muitos custos, e o que tiver de retorno da colheita, ótimo. Mas sinto que não tem a demanda puxada, não tem alguém falando para mim, assim como já aconteceu com outras culturas, berries, a própria banana e a macadâmia, que são culturas que eu senti a demanda puxada pelo próprio mercado local. E tudo que tem vende, principalmente se beneficiados...

Mas o avocado para mim não se mostrou uma cultura ávida no mercado ainda. Precisamos de um desenvolvimento de curto, médio e longo prazo para conquistar uma demanda mais natural do consumidor brasileiro.

Então essa é a minha perspectiva macro enquanto pequena produtora que não foca tanto. No entanto, é uma cultura que eu gosto muito de trabalhar, é uma cultura rústica, resiliente, fácil de manejar, uma cultura que te conta o que ela está precisando, uma cultura que é muito responsiva ao manejo. Então eu gosto muito de trabalhar com abacate, por isso que ainda estamos fazendo o manejo mínimo, para poder ainda ter colheita. E bom, essa é a resposta da primeira pergunta, mas é infelizmente a situação que estou hoje, um pouco mais distante do avocado.

Sobre demanda de água dos abacateiros

As plantas têm diferentes demandas de água e diferentes comportamentos fisiológicos em função de ser uma planta de ambiente tropical ou de ambiente subtropical temperado.

Em ambiente tropical ela não precisa (em nenhum momento) fazer reserva de água. Então ela pode sim continuar vegetando e produzindo parte aérea porque ela sabe que dá conta do recado ao longo do ano inteiro.

Então uma primeira segregação é, existem variedades de abacates que, em função da região de origem, estão mais habituados ao frio ou não. E as que estão mais habituadas ao frio normalmente são plantas mais resilientes a não ter água o tempo todo.

E em ambiente tropical, que chove muito mais, que chove ao longo do ano, a planta normalmente se habitua a ter água no pé. E aí existem as necessidades intrínsecas da cultura para ela viver, ou seja, nenhum abacateiro precisa de água, seja ele a variedade que for. Mas existe uma indução para manejos onde vai para potenciais produtivos maiores e aí isso pode acontecer em um abacate ou em outro, seja ele um avocado, um quintal, um breda ou geada.

E aí respondendo mais de forma prática até o contexto que você me deu assim de ter algum que puxa mais água, menos água.

Pode sim acontecer isso porque tem regiões e variedades de origens distintas, então, por exemplo, os guatemalenses tendem a ter um pouco mais de demanda de água. Só que não faz sentido pensar que é restritivo ou obrigatoriamente ter irrigação em todos.

O que acontece? A fisiologia é a mesma, no mesmo momento praticamente está acontecendo a indução de florada. Se essa florada for numa época extremamente seca as floradas tendem a ter um pouco de queda independente da variedade escolhida. E aí o que eu observo aqui, onde trabalhamos 100% sem irrigação (com o avocado) há 3 anos: está funcionando bem.

O que está restringindo aqui é manejo, tenho certeza absoluta porque eu vejo as deficiências nutricionais apontando nas folhas. Então é bastante fácil de reconhecer para quem tem o conceito técnico. E não é uma cultura que puxa água, que rouba água do sistema, não. É uma planta que precisa ser podada todo ano. Com essa poda volta a ter mais matéria orgânica depositada no solo.

Toda a água que compõe aquela biomassa da planta podada vai voltar para o sistema. Então um pé de abacate num quintal sozinho que fica com 20 metros de altura super encopado vai ser uma planta que vai demandar mais água. E como você não está podando e voltando isso para o sistema, não está voltando a água. Mas dentro de uma área de produção comercial, meu ponto de vista é não há nenhum deságio em um abacate...

Ah, ele fica roubando água do sistema. Não, não acontece isso. E sou exemplo vivo aqui de ter uma área com condução sem irrigação. E tanto os de polinização que são aqui no caso o Geaba, quanto a área principal que é de avocado, não demandam irrigação. Está tudo bem e portanto não vejo necessidade de falar que é uma planta ruim para o sistema pela ótica da água. 

Agroecologia e consorciamento = subsistência, comercialização e regeneração do meio-ambiente

Acho bem importante pontuar que é uma planta super tranquila em termos de manejo de praga e doença, uma vez que o sistema estiver equilibrado.

Então, o segredo são sistemas consorciados, com bastante matéria orgânica (podas do manejo) sendo incorporada no solo.

O abacate é uma cultura que pode ter lá seus problemas, mas aqui no sítio, pelo menos, minha vivência de um hectare, é de que é uma planta muito fácil, desde que o ambiente esteja equilibrado, esteja bem posicionado em termos de poda e manejo, de adubação...

É uma planta forte, não há nenhum problema com praga e doença. Então é uma cultura que ambientalmente, por esse aspecto de produtos de controle de praga e doença, muito tranquila. E eu gostaria muito de ver cada vez mais a gente indo para culturas que sejam mais bem adaptadas ao ambiente que temos.

Em ambiente tropical, super rápido em ciclos de crescimento de praga e doença, tudo vem rápido, tudo cresce rápido. Então, se o abacate está bem nessa condição, é porque ele é resiliente e cabe bem nesse contexto de produção no Brasil.

Gratidão Ana Clara por tanta informação e amor ao Planeta.

Instagram: @amorebio_ana


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* Conceição Trucom
 (Instagram: @conceicaotrucom) é química, pesquisadora, palestrante e escritora sobre temas voltados para alimentação natural, bem-estar e qualidade de vida. Possui 10 livros publicados, entre eles O Poder de Cura do Limão (Editora Planeta), com meio milhão de cópias vendidas, Mente e Cérebro Poderosos (Pensamento-Cultrix) e Alimentação Desintoxicante (Editora Planeta).

Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações e citadas a autora e a fonte: www.docelimao.com.br

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