Por Cláudia Ramos, Dalila Magarian e Déborah de Paula Souza (*)
O riso cura o mau humor, alivia os males da alma, torna as mulheres mais belas, os homens interessantes e a vida leve. Confira os resultados de uma das pesquisas mais felizes da temporada!
O homem gosta de rir por rir. A mulher, para parecer mais leve, bonita e sedutora. Para eles, a risada é um fim. Para elas, um meio. Essa é uma das conclusões da antropóloga Mirian Goldenberg, paulista radicada há anos no Rio de Janeiro, que resolveu pesquisar o papel do riso na nossa cultura. Mas, afinal, quem está certo, o homem ou a mulher? Ambos. A alegria é um bem em si, mas a intuição feminina não se engana: o sorriso é uma poderosa arma de conquista. Não serve apenas para encantar o sexo oposto mas também para fazer amigos e abrir portas. “Na minha opinião, o riso e o sorriso são até mais importantes do que a palavra”, afirma Mirian. Você pode dizer coisas pertinentes, mas, se tiver um discurso sério demais, não consegue se comunicar, pois não faz contato afetivo com o outro.” A especialista garante que o riso é valorizado no Brasil, mas sua importância não é a mesma em todo lugar. Entre suas entrevistadas, por exemplo, há uma brasileira de 47 anos que já morou em vários países e há dez anos se fixou nos Estados Unidos. Ao comparar o humor brasileiro e norte-americano, ela considera que estamos muito melhor na foto: “Temos até rituais coletivos, nos quais rimos de nós mesmos, como o Carnaval e as festas juninas. Os brasileiros são capazes de rir das suas heranças culturais, da pobreza, da homossexualidade, de tudo. Já os rituais americanos são cheios de pompa e tradição, daí a praga do politicamente correto. Eles acreditam que devem parecer sérios para provar que têm valor. Nós somos mais relaxados. Como sabemos zombar de nós mesmos, não temos tanto medo do ridículo porque, no fundo, acreditamos que o mais importante é ser feliz”.
No Brasil, nos comunicamos muito com os gestos e o corpo. O riso, expressão física de contentamento, é tido como um modo de cada um vender seu peixe, negociar e contornar conflitos. “Além da alegria, ele também é uma demonstração de receptividade e acolhimento. Associado a outros elementos não verbais, ganha diversos significados”, explica o psicólogo Ailton Amélio, especialista em comunicação não verbal e relações amorosas. Segundo ele, um belo sorriso acende o sinal verde na paquera; já a capacidade de rir junto é prova de cumplicidade e sintonia fina entre os casais.
Elixir mágico
Para a pesquisa A Risada na Cultura Brasileira, Mirian Goldenberg distribuiu questionários a 100 homens e 100 mulheres. Ela fez ainda 50 entrevistas detalhadas. O estudo, realizado este ano, foi consequência de outro que a antropóloga fez em 1998 sobre casamento, sexualidade e infidelidade, na qual ela mapeou o que era considerado atraente pelos dois sexos. Ambos destacaram o corpo, a inteligência, o charme e o bom humor. Numa recente investigação sobre envelhecimento, os entrevistados também apontaram que “a melhor forma de envelhecer é com bom humor”. Somando todos os levantamentos, Mirian acumulou mais de 3 mil questionários em que a capacidade de rir mostra-se muito valorizada: espécie de elixir mágico, ela é vista como agente de cura da solidão e dos males da alma, ajudando a viver, amar e aceitar as transformações do tempo. Essa tese feliz tem também o aval de roteiristas e humoristas nacionais (leia os depoimentos ao longo desta reportagem). Os homens parecem se divertir mais do que nós: 84% dos entrevistados dizem que riem muito, ante 68% das mulheres. E quando é que elas riem mais? Quando estão perto dos homens – namorado, amigo ou filho. “Entre eles, 60% se consideram engraçados. Só 30% das mulheres afirmam o mesmo a respeito delas”, diz Mirian. No uso perspicaz da autoironia, de novo eles ganham: 50% garantem que sabem rir de si mesmos. Entre as mulheres, apenas 28%.
Beleza alegre
Elas admitem que gostariam de rir mais. Associam o riso feminino à beleza e à leveza. E curtem o bom humor masculino, mas sem palhaçadas. Gostam mesmo é de ver neles o traço da perspicácia, da inteligência. Têm inegável simpatia por homens que as façam rir na dose certa. Os engraçadinhos cansam ou são vistos como inconvenientes. E elas também apreciam a faceta séria deles. Já para os homens, o único momento em que uma mulher não deve rir é na hora do sexo. Para eles, a risada é importante na aproximação, mas não na hora H. Embora as mulheres julguem arriscado demonstrar muita alegria no trabalho, os homens declaram que uma profissional risonha nunca seria considerada pouco séria ou menos competente por eles.
Na visão de Mirian, as mulheres riem menos porque são mais pressionadas socialmente. “Ainda precisam provar que são competentes, que conseguem manter a casa e o corpo em ordem, que são sensuais...” Essa tensão atrapalha a felicidade. Tanto que a pesquisa levantou quais são os conselhos de homens e mulheres para que as pessoas consigam rir mais. Eles são simples: “Ter amigos, tomar um chopinho com eles e rir de si”. Dizem elas: “Não levar as coisas tão a sério, conter a crítica e autocrítica, aproximar-se de gente divertida, casar ou namorar com alguém bem-humorado, transformar tragédia em comédia, conviver com crianças, lembrar que cada dia pode ser o último e comer mais chocolate”.
Toque sedutor: Cultive a alegria de viver. Riso bom é o espontâneo. O falso não tem graça. O cínico é violento – em vez de atrair, machuca e afasta os outros.
Quem ri por último ri melhor? Que nada! Tudo depende do contexto e da sensibilidade. Ri melhor quem sabe compartilhar a graça em vez de usá-la para excluir alguém da roda.
Fique esperta: por sua conotação erótica, o riso pode acabar provocando tanto a libido quanto o ciúme do parceiro.
Você é tímida? Experimente encarar o pretendente, desviar os olhos e olhar de novo, agora com um sorriso. Pode atingir o alvo sem trair seu estilo.
Efeito matador: ao dar uma boa risada, jogue a cabeça para trás e deixe seus belos dentes à mostra. Esse é um flerte universal e significa: “Pode chegar”.
Fontes: Mirian Goldenberg, antropóloga, Rio de Janeiro; e Ailton Amélio, psicólogo, São Paulo.
Depoimentos
“O riso cura a mágoa e é uma linda maneira de ensinar a delicadeza. Desperta a felicidade e traz prazer ao corpo. Rir é chegar perto. Quando duas pessoas sabem fazer isso juntas, ou são amigas ou amantes, o que já é motivo para alegria. E, se aconteceu em um primeiro encontro, pode ter certeza: foi um milagre”
ADRIANA FALCÃO, ESCRITORA E ROTEIRISTA DE PROGRAMAS COMO A GRANDE FAMÍLIA, DA REDE GLOBO
“Uma pessoa de bom humor tem mais chances de estabelecer relações legais no trabalho e na vida. Muita gente feia fatura altas gatas só com o poder de uma piadinha bem colocada. Pode-se, inclusive, enfrentar adversidades com uma gracinha, pois se consegue desarmar o outro, mostrar presença de espírito e, assim, conquistar o rival”
HÉLIO DE LA PEÑA, HUMORISTA DO CASSETA & PLANETA, DA REDE GLOBO
“Rir é divino e sexy. Cria abertura para o tesão; você fica mais sedutora. Gargalhada é orgasmo. Quando termino um show, parece que acabei de fazer sexo, com direito ao gozo final! O segredo do humorista é levar a alegria para seu cotidiano. É um exercício diário, assim como a fé em Deus, porque Ele, sim, é o maior humorista do mundo!”
FAFY SIQUEIRA, ATRIZ E HUMORISTA
“O riso é ótimo para combater a paralisia facial, estimula a musculatura do rosto. Mas é um perigo no sexo: se a mulher rir durante o ato, aperta o pênis. O que gosto é de ver duas pessoas rirem juntas. O solo se abre e um dragão roxo aparece em meio à crosta terrestre. É lindo!”
RAFINHA BASTOS, JORNALISTA DO CQC, DA REDE BANDEIRANTES
“O humor é uma válvula de escape e a arma do perdedor, pois, com ele, um anônimo pobre se iguala a um rico famoso; basta tirar sarro de seus deslizes. O riso é o sintoma de que o mal está curado: se você consegue gargalhar ao lembrar de algo ruim é porque não dói mais”
DANILO GENTILI, ATOR E HUMORISTA DO CQC, DA REDE BANDEIRANTES
Texto publicado na Revista Cláudia - editora Abril
Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações, citada a autoria e a fonte www.docelimao.com.br
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