Segundo o psicólogo norte-americano Dacher Keltner, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, enquanto a risada é involuntária, alguns músculos necessários para sorrir podem ser controlados, sendo um deles o zigomático maior, que puxa os cantos do lábio para cima e, ao contraí-los, forma o que ele chama de "sorriso de aeromoça", por ser uma expressão automática, expressando mais delicadeza do que alegria. "É esse o sorriso que o funcionário esboça quando o chefe conta a piada que ele já ouviu centenas de vezes, ou que uma pessoa utiliza quando cumprimenta outra e ambas movem os lábios num movimento quase simultâneo".
Dacher ainda nos informa que os músculos responsáveis pelo sorriso verdadeiro não podem ser controlados por 95% das pessoas, sendo o orbicular ocular um deles, que fica ao redor dos olhos, e que, quando ele se contrai, formam-se pequenas rugas do tipo pé-de-galinha, o olhar ganha um leve brilho, as bochechas se elevam e pequenas bolsas se formam embaixo dos olhos. Essas são as características do sorriso espontâneo, aquele que os bebês dirigem à mãe nos primeiros meses de vida (2).
A psicóloga Mariana Funes (O poder do Riso - Ed. Ground) examina o nosso corpo durante o riso: "Quando o lábio superior é erguido no sorriso, ele descobre parcialmente os dentes e também provoca uma curva descendente dos sulcos que se estendem das duas narinas até os cantos da boca. Isso, por seu lado, produz um enchimento, ou arredondamento, das bochechas na parte externa das rugas. Também ocorrem rugas momentâneas sob os olhos, e em pessoas mais velhas é possível ver rugas de riso nas arestas laterais da órbita dos olhos. Os próprios olhos sofrem uma mudança geral e podem ser descritos como brilhantes e faiscantes.
Segundo o psicólogo alemão Dietmar Ohm (Rir, amar e viver mais - Ed. Paulinas), na expiração inicial o ar é eliminado. Durante a segunda fase, é expirado o assim chamado "volume de reserva", que em geral fica nos pulmões. Por essa razão, o riso provoca uma nítida estimulação da respiração, tanto que muitos autores falam de uma "ducha de oxigénio". A troca gasosa é aumentada de três a quatro vezes quando comparada ao estado de repouso.
O médico William Fry Jr., conhecido como Dr. Humor, tendo pesquisado o riso por mais de trinta anos, declarou em 1991 que "o humor transforma as pessoas. E o efeito não pára na garganta... A alegria mexe com o corpo todo, tanto no aspecto físico quanto no biológico". Ele chama esse efeito de "massagem interna", pois primeiro nosso corpo é movimentado e exercitado e depois relaxa e se tranquiliza.
O Dr. Fry afirma ainda que o riso é um excelente exercício aeróbico que ventila os pulmões, relaxa e aquece os músculos e os nervos, acelera as batidas do coração, aumenta a pressão arterial, melhora a respiração e a circulação, estimula a inalação e a exalação do ar. Suas pesquisas mostram que uma gargalhada, além de tudo, exercita os grupos musculares dos ombros, dos braços, do abdome, do diafragma e das pernas. Fazendo uma comparação, ele destaca que uma média de cem a duzentas risadas por dia equivalem a aproximadamente dez minutos de remo ou de corrida.
Mariana Funes nos apresenta o som do riso: as mulheres têm uma frequência mais elevada (~ 502 hertz) do que os homens (~ 276 hertz), e o principal componente do riso é uma forte e abrupta expiração inicial seguida por uma série de microciclos de expiraçao-inspiração com intervalos.
Ela também nos apresenta a gramática do riso: uma risada é caracterizada por uma série de notas silábicas curtas do tipo vogal e cada nota dura cerca de 75 milésimos de segundo, repetindo a cada 200 milésimos de segundo. É difícil dar risada com durações de notas muito longas, como "haaa-haaa-haaa", ou muito curtas. Do mesmo modo, durações normais de notas com intervalos muito longos ou muito curtos entre si não ocorrem, como exemplo: "ha-ha-ha". A risada é caracterizada por um decrescendo, presumivelmente porque nos falta o ar. Estima-se que ele sai de nossos pulmões a mais de 100 Km/h, antes que tenham se passado cerca de 2 segundos.
PESQUISAS
1) Herbert Spencer, filósofo inglês do século XIX, foi um dos primeiros cientistas a mencionar os efeitos massageadores do riso, em trabalho realizado em 1860, chamado The physioíogy of laughter [A fisiologia do riso]. Ele se convenceu de que o riso é um mecanismo essencial para se restabelecer o conforto físico e o equilíbrio biológico e interior.
2)O psicólogo E. L. Lloyd mostra a relação entre o riso e a respiração em seu artigo "O mecanismo respiratório do riso", publicado em 1938 no Journal of General Psychology [Revista de Psicologia Geral]. Essa ação de "respirar com alegria", que é a combinação de inalação profunda e exalação total, leva a uma excelente ventilação, ao relaxamento e ao descanso.
3) A psicóloga Patrícia Long descreveu em artigo para o Psychology Today [Psicologia Hoje], em outubro de 1987, o trabalho da pesquisadora Sabina White, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Ao pesquisar os efeitos calmantes do riso, Sabina deu a 87 alunos um teste com um grande número de exercícios, problemas e equações matemáticas para resolver. Logo depois fez com que ouvissem música relaxante e assistissem a vídeos de comédia. O relaxamento e a risada aumentaram a circulação de sangue, relaxaram a musculatura, aliviaram o sistema nervoso e regularam os batimentos cardíacos dos alunos.
4) O psicólogo Dacher Keltner analisou numa pesquisa milhares de faces sorridentes e concluiu que existem dois tipos de sorriso, os quais nem sempre são possíveis de identificar. Um deles revela que a pessoa está realmente achando graça de algo ou demonstrando felicidade. O outro mostra que ela apenas se esforça para parecer simpática.
DICAS
De fato, o riso, e em especial a gargalhada, mexe com todo o nosso organismo, interna e externamente. É um verdadeiro e completo exercício massageador. Depois de uma sessão de riso, eu me sinto como se tivesse acabado de sair da academia. Perceba essa sensação você mesmo. Quando gargalhar, lembre-se, sempre que possível, de colocar sua mão sobre a barriga para sentir a movimentação dos seus órgãos internos.
A partir de agora passe a observar como nós nos movimentamos quando estamos gargalhando. Ao gargalhar em pé, tente manter um livro equilibrado sobre sua cabeça ou escrever seu nome em uma folha de papel ou ainda andar sobre um barbante esticado ao chão. Depois, se quiser, escreva-me dizendo se conseguiu e qual foi a sensação.
Fontes: (*) Texto extraído do livro 'Sorria - você está sendo curado' escrito pelo Marcelo Pinto (Dr. Risadinha) - Editora Gente.
1. LAMBERT, Eduardo. Terapia do RISO: a cura pela alegria. São Paulo: Pensamento, 1999, p. 44.
2. CARELLI, Gabriela no texto Você é o humor que você tem.
Leia também: Riso & Relacionamentos
A Fisiologia do Riso
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