Albermari Sobreira*
A fecundação e gestação: um elo com a Criação
O casal se uniu em desejo, em amor, em criação: a fecundação aconteceu...
O pai com sua energia e poder do macho, ofereceu à sua fêmea o poder da gestação, da maternidade.
A mulher o acolheu, o recebeu e de agora em diante se transforma durante todo a evolução da gravidez. Mudam as suas formas externas, para criar uma nova forma interna.
É a maior metamorfose que pode ocorrer na vida de um ser humano: é a dádiva que Deus oferece a nós, fêmeas, que trazemos na essência o dom da transformação e da criação.
Somos divinas, sagradas e maravilhosas, pois carregamos em nós a força, não da submissão, mas a do receber, do acolher o yang (do homem e Deus) e sublimar na gestação.
A maternidade, ao mesmo tempo que é, no plano físico, uma função fisiológica, biológica, é também uma função espiritual, quando permite encarnar novos seres para vivenciar suas evoluções... Por esta visão, somos instrumentos da evolução.
A maternidade é também a forma que Deus criou para interagir com os homens. Assim, a maternidade pode ser reconhecida como um canal direto com as forças da criação, com Deus.
O homem como pai, vetor e, a mulher com seu ventre e útero: ambos se ligam a Deus.
O útero pode simbolicamente ser considerado um portal, que permite o acesso de todos os seres que desejam evolução espiritual à Terra.
Não existe mistério e magia maior do que a concepção e a gestação.
Em nove meses lunares ou 40 semanas, um ser munido de todo o potencial humano presente no universo (a partir daquela única célula fecundada), se forma, se multiplica, se desenvolve com a perfeição de milhares de cosmos e nasce: um novo Ser.
Onde nos perdemos?
Durante a gravidez, muitas mulheres fazem cursos, ouvem seus médicos, assistem palestras, lêem livros sobre tudo o que está e vai acontecer com sua gestação, o parto, com o bebê.
Claro, extremamente salutar e importante. Mas, quando chega o exato momento de colocar os aprendizados em prática, surgem muitas dúvidas, inseguranças e medos.
Gestar, ter um filho e amamentá-lo é um ato fisiológico tão natural quanto dormir e menstruar. O corpo leva nove meses se preparando, construindo célula por célula daquele novo ser, para expeli-lo e, na sequência, jorrar a seiva para alimentá-lo. É um processo instintivo e sincronizado: o balé perfeito e cósmico da existência se manifestar aqui na Terra.
O parto é uma força ativa que conserva a ordem natural de tudo o que existe. É uma condição própria de toda fêmea. É, literalmente, a perpetuação da espécie se manifestando.
Não é o médico que faz o parto, mas a mulher que dá a luz. O médico, e sua equipe, devem apenas (caso não existam complicações) acompanhá-la, auxiliá-la e apoiá-la. Conferir se tudo está correto com o bebê e passá-lo imediatamente à sua mãe.
Nesse momento cósmico, a mulher é a protagonista desse grande acontecimento: a maternidade se fez real. Momento sublime, quando a mulher transpassa barreiras, transmuta conceitos e transforma sua condição de Ser. Com o bebê, sendo parte literal da mãe, a mãe nunca mais será inteira, pois parte dela se separou e transformou num novo Ser.
A mulher foi concebida para conceber e doar seu fruto ao mundo. Ela é, e sempre será um ser maternal, que através da sua condição de fêmea, traz luz e possibilidades de evolução ao mundo.
De épocas em épocas o mundo vai se transformando, através de novas tecnologias, terapias, drogas e equipamentos de ponta e, junto com tudo isso nos vamos afastando da origem, do natural, do simples, do essencial.
Entendo: não devemos nos expor aos riscos, tão comuns na antiguidade. Mas, não devemos, porém, nos afastar da intuição, das percepções instintivas, da singularidade do ser humano, que cada dia vai ficando mais e mais no esquecimento. Passamos de um pólo ao outro, sem meio termo. Do ponderável ao imponderável.
E nós fêmeas, ao recebermos a graça da gestação e maternidade, dons do feminino, coibimos a ordem espontânea da criação e passamos a fazer o antinatural, muitas vezes para satisfazer aos que nos cercam, deixando em abafo os sons (as vozes) do nosso coração e do bebê.
A lógica e o bom senso ficaram submersos e hoje o que temos é um infinito oceano de medos, traumas, perturbações. Vamos nos tornando, junto com os bebês, carentes de nós mesmos.
O medo de sofrer no parto nos enrijece ao ponto de acreditarmos que um procedimento cirúrgico, como a cesárea é muito melhor do que um ato fisiológico e natural de expulsão do bebê. Breve falarei sobre as diferenças comportamentais de um bebê de parto natural e de cesárea.
Nos deixamos acreditar que um parto corre mais riscos num processo espontâneo.
O medo nos afasta do instinto de ser mãe, de lamber com os olhos e nosso colo (que tem os sons que o acompanharam durante estes nove meses), o filhote, pois somente este par sabe o que cada um sente e quer.
O medo nos faz imaginar que a seiva que jorra do nosso peito, com todas as propriedades genéticas e nutricionais perfeitas para o acolhimento do meu filho a esta nova condição existencial, não será adequado para ele.
Nos fazem acreditar que o nosso leite, que é a substância que traz na sua transparência a seiva divina da encarnação e cumplicidade com a mãe, é fraco.
O medo, então, faz a mãe ter a certeza, equivocada, que um leite oriundo de outro mamífero, industrializado, quimicamente modificado, introduzido no bebê, através de um bico de borracha, possa ser melhor que o aconchego de um peito materno, que traz, além de todos os nutrientes que o bebê humano precisa, o cheiro e os ruídos do corpo da ‘minha e só minha mãe’.
Continua: Gestação, um novo olhar - Parte 2 - Amamentação
* Albermari Sobreira - doula no Hospital Amparo Maternal e consultora de gestantes e amamentação. Saiba mais sobre sua Consultoria de Gestação e Amamentação aqui.
Albermari é umai importante colaboradora do livro De BEM com a Natureza - Cuidando do seu filho com a Alimentação Viva - Conceição Trucom - editora Alaúde. Um livro Especial Kids.
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