Brincar é bom demais e muito saudável

Brincar é bom demais e muito saudável

Conceição Trucom*

Há tempos a sociedade vem passando por diversas transformações. A evolução tecnológica trouxe muitos benefícios, como o acesso maior a informações, avanços na medicina e mudanças na forma de relacionamento.

Por outro lado, o avanço da tecnologia também afetou as brincadeiras infantis. Brincadeiras ao ar livre, como jogar bola, pular amarelinha e correr, deram lugar aos videogames, jogos por computador e desenhos na TV. Embora de reconhecida utilidade e diversão, especialistas recomendam que pais estimulem os filhos a brincar como antigamente, com jogos e atividades que propiciem o uso da imaginação e a interação entre amigos.

Familiarizadas com as invenções tecnológicas, muitas crianças deixaram de lado o prazer de criar brinquedos com artefatos simples como caixas, latas, botões e madeirinhas – atividade que estimula a brincadeira livre, a criatividade e a fantasia.

Estudos também atentam para o aumento de incidência de doenças como obesidade, problemas cardiovasculares e depressão. Por isso, especialistas indicam brincadeiras de rua como meio de gastar energia e afastar os perigos do sedentarismo entre os pequenos.

Consenso entre médicos, psicólogos e pedagogos, realizar atividades coletivas livremente é muito mais que um simples passatempo na vida de uma criança. Fundamental para o desenvolvimento humano, contribui para a socialização do indivíduo, para a descoberta de si mesmo e do mundo, instiga o desenvolvimento de habilidades básicas e tem efeitos positivos no processo de aprendizagem. Além de estimular o desenvolvimento social e afetivo, as diversões na infância também podem ser uma forma de autoexpressão, possibilitando o autoconhecimento.

Pesquisas no campo da neurologia mostram que quanto mais a criança brinca, corre, pula e canta, mais sinapses forma em seu cérebro, resultando em um melhor aprendizado e, consequentemente, uma interação melhor com o mundo.

Atividade natural de toda criança, realizada sem compromisso, planejamento ou seriedade, brincar é um direito de todos os pequeninos, tanto que faz parte da Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Aproveito para complementar com este texto da Inês Afonso Marques, Psicóloga Clínica e Coordenadora área infanto-juvenil da Oficina de Psicologia...

Através do brincar, as crianças abrem uma janela para o seu interior, diminuem ansiedades, expressam emoções e medos, mostram a forma como compreendem o mundo, fazem perguntas, partilham dúvidas, constroem sentidos. Se envolvem em trocas sociais e afetivas, de enorme valor e riqueza. O brincar pode ser considerado inato, ainda que sensível à estimulação, no sentido que a exploração do mundo e a curiosidade são comportamentos que identificamos nos bebés, desde que nascem.

Brincar é uma das tarefas da infância com maior responsabilidade no desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor. Através do brincar assiste-se ao desenvolvimento da criatividade, da imaginação, da experimentação de papéis e da compreensão do mundo que rodeia a criança. No jogo simbólico a criança experimenta diferentes papéis, dá forma aos seus pensamentos, ao que observa à sua volta, exprime as suas emoções, interpreta o que acontece consigo e com os que a rodeiam e ensaia comportamentos. Nesse sentido, o brincar, enquanto um processo, tem impacto no corpo, na mente e no espírito. Brincar é por isso essencial, como ter uma rotina para estudar ou lavar os dentes.

É inegável que as brincadeiras das crianças de hoje, são diferentes das dos seus pais e muito diferentes das dos seus avós. Sem dúvida, as tecnologias vieram acrescentar um leque variado de novas brincadeiras e formas de entretenimento. O recurso às “brincadeiras tecnológicas” não deve funcionar como uma “ama tecnológica” que impede a criança de socializar, mas sim como uma via alternativa para a criança brincar. O seu uso não deve ser proibido, mas também não deve ser a única forma da criança brincar.

Há brinquedos e brincadeiras que podem ser transversais a um vasto leque de idades, adequando apenas o grau de “complexidade” ao nível de desenvolvimento da criança.

– Puzzles e construções – permitem desenvolver a motricidade fina, o raciocínio lógico-abstrato, a capacidade de planeamento, a resistência à fadiga e à frustração, a imaginação.

– Papel e material para rabiscar, desenhar e pintar; plasticinas – permitem desenvolver a imaginação, a motricidade fina, a expressão emocional.

– Livros – forma lúdica da criança aprender, consciencializar-se, regular e desenvolver-se emocionalmente; proporciona a interação entre a criança e quem explora com ela o livro; permite colocar questões e refletir; desenvolver a linguagem, a imaginação, a memória e o espírito crítico.

– Todos os materiais que permitam à criança brincar ao faz de conta e experimentar outros papéis, desenvolvendo a imaginação, as suas competências sociais, estratégias de resolução de problemas (lenços, chapéus, utensílios de cozinha, caixas, perucas, molas, malas, óculos…).

A que vão brincar hoje?

A criança precisa ter espaço e incentivo para brincar! Esse é o lema do site Qdivertido
Acesse e escolha sua brincadeira predileta.

Leia também: O mais importante na vida de uma criança é ter com quem brincar

 

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* Conceição Trucom
 (Instagram: @conceicaotrucom) é química, pesquisadora, palestrante e escritora sobre temas voltados para alimentação natural, bem-estar e qualidade de vida. Possui 10 livros publicados, entre eles O Poder de Cura do Limão (Editora Planeta), com meio milhão de cópias vendidas, Mente e Cérebro Poderosos (Pensamento-Cultrix) e Alimentação Desintoxicante (Editora Planeta).

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