Cultura indígena e surgimento da mandioca

Guilherme Trucco *

Outono é a estação do ano quando a natureza nos oferta as raízes e, pegando esse mote, pensando na nossa Farofa Literária, vamos falar do conto etiológico indígena que trata sobre o surgimento da mandioca.

A lenda da menina Maní é um conto repassado oralmente por nosso povo originário indígena, e como é o caso em muitas de suas histórias, ela possui caráter "etiológico", ou seja, é uma história que dramatiza, explica, como se deu o surgimento de algo, ou os motivos para que algum elemento da natureza seja como é, por exemplo, porque o jabuti tem casco, ou porque o fruto do guaraná parece com um olho, etc.

Coletada pela primeira vez pelo explorador Couto de Magalhães em O Selvagem, publicado pela Companhia Editora Nacional, coleção Brasiliana, em 1935, a lenda de Maní possui características muito comuns à cosmologia e cultura indígena.

Seus contos etiológicos muitas vezes lidam com a morte de um ser humano por motivos inexplicáveis, ou ligado aos deuses, seguido do enterro e consequente transmutação em outro elemento da natureza, como uma planta, animal, pedra, montanha, seres mágicos, rios, etc.

Esta dramatização encapsula a noção e o conhecimento de que a energia na natureza se transforma, e que todos os elementos ao nosso redor são parte de nós, de nossa família, de nossa ancestralidade.

Como bem nos lembra a Conceição Trucom, a mandioca tem origem ainda controversa: alguns acreditam que foi nas Américas Central e do Sul e outros creem que sua origem estaria no cerrado brasileiro e posteriormente alcançando a Amazônia.

Como a palavra Mani é de origem Aruak (povos originários do alto amazonas, litoral equatoriano e planícies venezuelanas), e esses eram exímios agricultores, principalmente no cultivo da mandioca, é possível presumir que os Tupis tenham aprendido com eles como cultivar essa planta. A colheita principal é quando as temperaturas baixam, portanto de maio a agosto.

Por sua provável origem, a mandioca caracteriza-se por ser um produto brasileiro e tem relevante importância na cultura e alimentação brasileira – soberania alimentar -, onde sua principal função tem sido de alimento 100% energético. Mas, com boas combinações e balanceamento, podemos obter pratos muito nutritivos.

Vamos então, saborear a Lenda da índiazinha Maní

"No tempo que já foi passado, nasceu uma menina chamada Maní. Com energia contagiante, e pele muito branca como algodão, Maní era uma indiazinha muito estimada por sua tribo. Ela era neta do cacique, mas a gravidez da sua mãe havia sido motivo de tristeza para o chefe da tribo. Isso porque quando sua mãe engravidou, ela não soube dizer quem era o pai da criança.

O cacique obrigou a filha a dizer quem era o pai, mas a índia dizia que não sabia como tinha ficado grávida. Julgando-a, a desonestidade da filha desagradava muito o cacique.

Até que um dia, ele teve um sonho que o aconselhava a acreditar na filha, pois ela dizia a verdade ao pai. Desde então, aceitou a gravidez e ficou muito contente com a chegada da sua neta Maní.

 

Maní era muito esperta e contagiante, aprendendo a andar e falar em menos de um ano. Entretanto, certo dia, pela manhã, Maní foi encontrada morta por sua mãe. Ela simplesmente tinha morrido durante o sono, mas, mesmo sem vida, parecia sorrir.

Triste com a perda, sua mãe enterrou Maní dentro da sua oca e suas lágrimas umedeciam a terra tal como se estivesse sendo regada.

Dias depois, nesse mesmo local nasceu uma planta, diferente de todas as que conhecia, a qual ela passou a cuidar. Percebendo que a terra estava ficando rachada, cavou na esperança de que pudesse desenterrar sua filha com vida.

No entanto, encontrou uma raiz, a mandioca, que recebeu esse nome em decorrência da junção do nome de Maní e da palavra Oca... Mani Oca e finalmente MandiOca.

Todos quiseram experimentar daquela raiz deliciosa e que parecia encher o corpo de energia, e passaram a plantar e cultivar a mandioca."

Finalizando

Personagem quase que constante nas inúmeras farofas Brasilzão afora, a mandioca além de consumida cozida, frita, purês, sopas, ensopados muito mais, ela pode virar farinha... E esta farinha poderá ser crua, torrada, fina, grossa, fermentada (puba) e lembremos da criatividade e policulturas brasileiras.

Mas esta parte vou deixar para a Conceição Trucom FAROFAR.

Entrou por uma FAROFA e saiu pela outra: vou seguir CONTANDO cultura oral brasileira.

Assista agora o Episódio 01 da nossa série Farofa Literária

Ingredientes: 1 1/2 xícara (chá) de farinha de mandioca (pode ser torrada, crua ou de puba) + 2 xícaras (chá) de couve (manteiga, de couve-flor ou de brócolis) picada e repicada + 1/2 xícara (chá) de salsa picada + 1/2 xícara (chá) de cebolinha picada + 2 bananas da terra assada no vapor (ao dente) e picada em cubos de 1,5 cm + 1 colher (sopa) de azeite + suco fresco de 1 limão médio (opcional as raspas da casca) + Sal integral e pimenta calabresa a gosto.

Preparo: Em uma frigideira ou panela espaçosa (isso, festa popular precisa de espaço), ideal esta que usei que é de cerâmica anodizada para evitar o uso de muito óleo, coloque o azeite e deixe dar uma aquecida. Na sequencia acrescente toda a couve que foi picada e repicada para não embolar os fios na farofa. 

Quando ela começar a brilhar, acrescente a farinha, o sal, o suco de limão e a pimenta e misture bem. Se a farinha é torrada ou a puba (farinha de mandioca crua e fermentada) esta etapa será bem rápida. Se for crua, deixe ela 'fritar' um pouco mais, tipo uns 2 minutos. Prove para acertar o tom de sal.

Finalmente acrescente a banana da terra e desligue o fogo. Misture delicadamente para envolver todos os cubos de banana. Acerte o tom da pimenta e sirva imediatamente.

Mas ela é gostosa fria ou requentada: vixe Maria... é gostosa de qualquer jeito e à qualquer hora... 

COMPLEMENTE TUDO ISSO COM: As festas profano-religiosas. EP01: A CONGADA

(*) Guilherme Trucco é escritor paratiano, sua obra é inteiramente dedicada a explorar a cultura popular da brasilidade, e seus desdobramentos profundos, através de uma literatura ficcional voltada para o Realismo de Encantaria, uma mistura à brasileira de realismo mágico, realismo animista e o surrealismo. É autor dos livros de ficção: Saída Bangu, Vocês vão ter que me engolir, e Nó na Garganta, além de ser colunista no portal Ludopédio.
Seu Blog: https://www.guilhermetrucco.com e seu Instagram: @gui_trucco


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* Conceição Trucom
 (Instagram: @conceicaotrucom) é química, pesquisadora, palestrante e escritora sobre temas voltados para alimentação natural, bem-estar e qualidade de vida. Possui 10 livros publicados, entre eles O Poder de Cura do Limão (Editora Planeta), com meio milhão de cópias vendidas, Mente e Cérebro Poderosos (Pensamento-Cultrix) e Alimentação Desintoxicante (Editora Planeta).

Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações e citadas a autora e a fonte: www.docelimao.com.br

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