A formula da Felicidade

A fórmula da Felicidade

Conceição Trucom*

Passam-se séculos, gerações e as pessoas seguem na esperança de encontrar uma fórmula, algum conselho ou maneira infalível de serem felizes.

Vale lembrar que a vida é mesmo muito complexa, “uma colcha de retalhos”, desde que nascemos, de infinitos desafios, propositais para a evolução e maturidade (seja física, emocional, intelectual ou espiritual) de cada indivíduo, de cada Ser.

Diante desta realidade da existência humana, me parece um “milagre” que as pessoas ainda acreditem que tal fórmula exista e que 'mestres' ofereçam soluções "universais", únicas, aplicáveis à infinidade de situações desafiadoras que acontecem a cada um de nós.

Creio seria mais verdadeiro e definitivo compreendermos a felicidade. Então, que tal esta história contada por Anthony de Mello, pensador e jesuíta indiano?

O gênio de uma lâmpada mágica estava tão cansado dos pedidos contínuos de seu amo que um dia se revoltou e lhe disse:

— Decidi conceder-lhe as três últimas coisas que me deseja pedir. Depois não lhe concederei mais nada.

Repleto de alegria, o amo fez seu pri¬meiro pedido sem pensar duas vezes: que sua esposa falecesse para que pudesse se casar com outra melhor. E seu pedido foi imediatamente atendido.

Quando seus amigos e paren¬tes se reuniram para o funeral e começaram a lembrar das boas qualidades da falecida, ele percebeu que fora um tanto precipitado.

Reconhecia agora que havia sido cego para as virtudes da mulher. Por acaso seria fácil encontrar outra com tantas qualidades quanto ela?

Por isso pediu ao gênio que lhe restituísse a vida de sua esposa. Com isso, só lhe restava um pedido. Estava decidido a não cometer um novo erro, pois desta vez não teria possibilidade de corrigi-lo. E pôs-se a solicitar a opinião dos outros.

Alguns de seus amigos o aconselharam a pedir a imortalidade, mas... de que lhe serviria a imortalidade - atalharam outros - se não tinha saúde?

E de que serviria a saúde se não tinha dinheiro?

E de que serviria o dinheiro se não tinha amigos, pois todos iriam morrer no seu tempo certo?

Passavam-se os anos, e ele não conseguia determinar o que deveria pedir: vida, saúde, riquezas, poder, amor?

Por fim, suplicou ao gênio:

—    Por favor, aconselhe-me o que devo pedir.

Ao ver a aflição do pobre homem o gênio riu e respondeu-lhe:

—    Peça-me que sejas capaz de ser grato com tudo o que a vida lhe oferece, seja lá o que for.

A moral da história é que a felicidade não depende de fatores externos, muitas vezes imprevisíveis, e, sim, da decisão tomada por cada um, diante de cada desafio interno ou externo, e criar condições para que a gratidão, o bom-humor e o riso sejam presenças constantes em sua vida.

Assim, para renascer com todas as chances de Ser feliz, segue nossa sugestão do Doce Limão:

A escola do prazer ou Escola da curtição

Quem não sente prazer torna-se insuportável. Essa expressão reflete a drástica realidade de muitas pessoas doentes física e emocionalmente, pois observa-se, com frequência, em pessoas com distúrbios 'de felicidade' ou depressivas, uma falta de realização e de ação "eutímica". Por realização e ação "eutímica", o psicólogo Rainer Lutz (*), do Instituto de Psicologia da Universidade de Marburg, entende tudo aquilo que faz bem à "alma". Aqui se trata de querer perceber e usufruir ativamente A VIDA. A depressão e outros distúrbios psíquicos, segundo a experiência, podem ser melhorados quando a capacidade para realização e ação eutímica aumentam.

Mas não só em doentes se verifica uma insegurança ou ausência da vivência eutímica. Isso não é de causar espanto, pois onde é que se pode aprender a arte ensinada do "verdadeiro prazer"? Nas escolas, procura-se inutilmente essa disciplina nos currículos. Portanto, não é de se admirar que aqui surjam deficiências ou ocorram abusos que são causados pelo excesso de ofertas em nossa sociedade de supérfluos.

Para a melhoria da capacidade de sentir de maneira positiva a alegria e o prazer, os psicólogos Eva Koppenhõfer e Rainer Lutz (**) desenvolveram um programa de terapia para a edificação de experiências e atitudes positivas. As seguintes "regras do prazer", são úteis em exercícios de grupo e devem ser praticadas diariamente. Elas não têm somente um fim terapêutico, podendo exercer sua influência sobre todos, como um estímulo para um estilo de vida mais prazeroso, mais feliz:

1. O prazer requer tempo: Para realmente poder "curtir", são necessários tranquilidade e um pouco de tempo. Isso é treinado quando cada objeto é estudado minuciosa e detalhadamente: cheiro, forma, textura, sabor, emoção que desperta, etc. Reservar, conscientemente, tempo para atividades como banho, passeios, olhar pela janela, ir à sauna, praticar esporte. Gratidão e Riso: é preciso dispor de tempo (ainda que pequeno), organizá-lo e estabelecer prioridades pessoais.

2. O prazer é permitido: Muitas vezes o prazer é rejeitado por julgamentos negativos e por "tabus ao prazer"; por exemplo: "Sem dedicação não há recompensa"; "parar significa mofar"; "excessos são raros sucessos"; "tudo que faço tem um alvo"; "cheirar uma rosa é perda de tempo". Gratidão e Riso: é importante descobrir e ser capaz de desfrutar nossos prazeres cotidianos.

3. O prazer requer consciência: Um verdadeiro prazer requer atenção consciente para o fato em curso; por exemplo, não se pode provar completamente o sabor de um bom prato assistindo a um filme. Por isso se almeja a concentração no prazer em curso "ofuscando" outras atividades. Gratidão e Riso: entregar-se conscientemente ao prazer, eliminando tanto quanto possível as distrações e não se deixar dispersar com pré-ocupações.

4. O prazer tem diferenças individuais: Preferências são muito pessoais, tanto que "gosto não se discute". Mas também em relação a toda a vida, gostos não permanecem os mesmos, de sorte que é favorável uma atitude franca, aberta. Gratidão e Riso: descobrir as próprias preferências, em que não deveria ser levada em conta a opinião alheia.

5. Menos é mais: Em plena era do consumo, o comando é: conseguir o máximo de uma experiência ou de uma situação, para potencializar o prazer. No entanto, essa atitude leva à diminuição da capacidade de sentir prazer porque as múltiplas e requintadas facetas de um prazer não podem mais ser notadas. Quando, por exemplo, um copo de vinho é "esvaziado" em vez de sorvido aos goles, não será possível uma degustação requintada. Lembrando que o excesso de oferta também pode levar ao fastio e à refutação, de modo que um prato ou bebida prediletos não devem ser um vício. Gratidão e Riso: o prazer exige concentração que é prejudicada pelo excesso de oferta.

6. A experiência favorece a capacidade de sentir prazer: Sentir prazer pode ser aprendido e é fomentado por experiências repetidas. A vivência de uma música pode ser treinada pela educação dos ouvidos, da mesma forma que a observação de um jardim também pode ser desenvolvida pela educação da observação. Uma ajuda no desenvolvimento dos sentidos pode ser a de enumerar o vivenciado em seus mínimos detalhes e nuanças, trocando as experiências com outras pessoas. Gratidão e Riso: como a percepção do prazer depende de nuanças, os 5 sentidos devem ser adestrados por meio de exercícios sensoriais.

7. O prazer faz parte do cotidiano: Frequentemente o prazer só é buscado em situações inusitadas e em ocasiões especiais. Mas possibilidades para o prazer se oferecem em (quase) todas as situações do cotidiano, de sorte que, por exemplo, uma mesa bem posta para a refeição matinal podem muito bem ser vivenciado como prazer, se eu me disponho a isso. Gratidão e Riso: vale reconhecer a oportunidade única do momento no cotidiano e descobrir a alegria e o belo que nos rodeia.

Depois que essas "regras" se tornam mais familiares, pela prática (regar diariamente sabe?), geralmente se alcança nova atitude interna, que aceita o prazer e a alegria de viver e que visa a uma perspectiva e ações construtivas. Então é também importante despojar-se de uma "sabotagem" do tipo "oito ou oitenta". Em situação difícil, e por ocasião de fatos tristes, é possível ao mesmo tempo viver algo de positivo, agradável e prazeroso. Não se trata de reprimir o luto e outras dificuldades emocionais pela abertura para a alegria. Muito mais, durante uma crise a alegria também pode atuar como compensação, com o que a elaboração de problemas emocionais é propiciada, podendo ser elaborada a esperança.

Alimentar-se com prazer
Estas “regras do prazer” são aplicáveis, com sucesso, em muitos distúrbios que reduzem enormemente a qualidade de vida e sua significância. Um exemplo bem colocado é o de pessoas com problema de peso. Elas muitas vezes são acusadas pelo "vício do prazer".

Especialmente no que se refere aos hábitos alimentares, a busca pelo prazer fica sob suspeita e e pode prejudicar a saúde em todos os aspectos da vida. Mas, em melhor avaliação, constata-se que pessoas com problema de peso na maioria das vezes não são degustadoras nern apreciadoras. A comida para elas está tão relacionada a problemas e culpa, que resta pouco lugar para o prazer. Em muitas pessoas com excesso de peso, por exemplo, encontram-se hábitos alimentares deturpados, que oscilam entre repressão do apetite e compulsão para "encher" o estômago.

Assim, se este é o seu caso, releia as “regras do prazer” buscando melhorar os “desvios” dos hábitos alimentares. Por exemplo: na regra 1, não coma sob pressão do tempo. Na regra 2, a vivência do sabor requer consciência, ou seja, não se distraia assistindo TV ou conversando durante as refeições ou lanches. Na regra 3, abandone preconceitos e regras familiares. Na regra 4, saborear com consciência e curtição irá certamente  reduzir a quantidade. E assim vá construindo o espaço de “curtição”, gratidão e riso nos momentos prazerosos de sua alimentação diária.

Texto extraído e adpatado por Conceição Trucom do livro Rir, Amar e Viver Mais - Dietmar Ohm - Editora Paulinas

Leia também: A Gratidão & O Riso
Ações Pró-Saúde
Afetividade e Humor


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* Conceição Trucom
 (Instagram: @conceicaotrucom) é química, pesquisadora, palestrante e escritora sobre temas voltados para alimentação natural, bem-estar e qualidade de vida. Possui 10 livros publicados, entre eles O Poder de Cura do Limão (Editora Planeta), com meio milhão de cópias vendidas, Mente e Cérebro Poderosos (Pensamento-Cultrix) e Alimentação Desintoxicante (Editora Planeta).

Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações e citadas a autora e a fonte: www.docelimao.com.br

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